O milagre de dar de comer agora é nosso.

Publicado em 03/08/2014 | Categoria: Notícias |


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra

do 18º Domingo do Tempo Comum – Ano A 

 

paoepeixe

 

Na colmeia vivia uma abelha diferente. Queria que tudo fosse feito para ela. Era um ser inútil, incapaz de realizar algo, por pequeno que fosse, em prol das irmãs. Assim pensava: “Ah trabalhar é bobagem. Sempre vai ter gente pronta para realizar o que seja necessário”. Desse jeito ia levando a vida. Sempre dependente da ação das outras e achando que a rainha mãe é que possuía a obrigação de fazer as coisas. Julgava que se era a rainha, tinha mais é que dar o que cada uma necessitava. Foi assim até aquele dia no qual aconteceu a grande fome. Há mais de ano não caia gota d’água. Tudo estava seco e as árvores não floresceram. As operárias, menos a nossa amiga, voavam aflitas de um lado para outro e nada de pólen. Então, enquanto as outras trabalhavam, indignada, correu ao trono reclamando assim: ”Mãe, falta mel para nosso alimento, das velhas e das irmãzinhas que vão nascendo”. A rainha lhe respondeu: “Por que me fala assim? São vocês mesmas que devem dar de comer a elas”. Incomodada retrucou: “Mas como faremos isto se não há pólen para produzir mel?” A rainha, que era abelha muito das inteligentes, encerrou a conversa: “Tragam todo mel que há na colméia e alimentem a todas”. A abelhinha folgada avisou suas irmãs e foi então que aconteceu o milagre. É que cada uma tinha no fundo do seu favo uma reserva de mel. Repararam que se cada uma desse um pouco do que guardara, haveria mel suficiente e ainda iria sobrar bastante para ser guardado, no caso da chuva demorar. A abelhinha preguiçosa, que nunca fizera uma gota de mel, sentia-se envergonhada e, mais ainda, faminta. Afinal, seu favo era o único vazio. Ela não tinha o que comer e muito menos podia passar algo às crianças e idosas. A rainha, vendo-a arrependida, sentiu compaixão da filha e a alimentou. Desde esse dia ela aprendeu que viver em comunidade é, mais do que esperar de Deus, da rainha e das outras, trabalhar para que não haja nenhuma abelha sentindo falta do necessário para a vida.

No Evangelho de hoje reparamos que as multidões ainda seguem Jesus. Ele se retira para o deserto e lá vai o povo atrás dele. Essa situação, Mateus nos mostrará em seguida, pouco a pouco irá mudando. Para entender melhor a situação é preciso compor a cena.

Reparar que aqueles eram tempos muito diferentes dos nossos, nos quais ao haver alguma aglomeração imediatamente aparecerá gente vendendo comida. O lugar era distante e os discípulos queriam, para não haver problemas de alimentação, que Ele os dispensasse. Aí vem um sentimento muito bonito de Jesus. Ele tem compaixão do povo e diz que não os mandará embora. Mais ainda, rolou a bola para os discípulos: que eles mesmos lhes dessem de comer.

Jesus, na sua pedagogia, ia ensinando os apóstolos sobre a maneira como deveriam agir daí por diante. Mais do que esperar do céu por um lado, ou dispensar as pessoas pelo outro, seria a comunidade de seus seguidores que deverá prover o alimento aos necessitados. É a forma genial de lhes mostrar que já não são mais crianças, dependentes dos pais que lhes oferecem pronta a comida. Agora, adultos, serão eles que com seu serviço e generosidade, deverão ter compaixão do povo faminto e alimentá-lo.

A comunidade dos discípulos missionários não é feita de gente alienada, incapaz de sentir as necessidades dos outros. Ela precisa ser composta de pessoas que trazem dentro o sentimento do coração de Jesus, a compaixão. Ser cristão é, muito além do que ter dó dos pobres, sentir compaixão por eles.

Ter compaixão é, não sendo pobre, fazer-se com o coração pequeno, para sentir como eles sentem e assim poder, na mesma sintonia, sem humilhá-los, oferecendo a sobra de “cima para baixo”, dar do que tem de igual para igual. Esmola no seu sentido original significa a mesma coisa do que ter compaixão.

Quem sabe amedrontados com o sentido tão profundo e significativo desse trecho, acostumamo-nos a ver nessa passagem não a partilha generosa de todos, mas a espera que Jesus (ou os céus) produza aquilo que nós mesmos devemos suprir. Imaginemos um grupo de amigos que planeja um piquenique.

Combinam que cada um levará algo para ser posto à mesa comum. É possível ao menos conceber que faltará comida? Indagando-se de outra forma: quem de nós já viu uma reunião na qual cada um leve algo para partilhar e que não tenha, ao seu final, que se retornar com comida de volta?

Há dois tipos de alimento. O mundo tem fome dos dois. O pão que alimenta a barriga e o outro que é comida para a vida eterna. Ao fazer com que pão e peixe se multipliquem, Jesus quer que sigamos mais além do sentido da matéria. Há muita gente com fome e é preciso comer para se viver. O dar de comer, sem dúvidas, que é fundamental.

Mas é necessário também prover o mundo do segundo tipo de pão. O pão vivo que se faz Palavra e comida para a felicidade que nunca acabará. É preciso que na compaixão, para a qual o Senhor nos impele, não nos contentemos somente com seu primeiro estágio, o do pão físico. Deus quer nos levar para bem além dele.

Como cristãos sabemos que vivemos nesse mundo de passagem. Éramos até reconhecidos no início do cristianismo como o “povo do caminho”. Estamos na estrada e nela precisamos parar de vez em quando para comer. Acaso fôssemos mais generosos haveria gente sentindo falta no nosso entorno? Ampliando a questão, fôssemos cada um de nós, famílias, comunidades, bairros, cidades, países mais, não será preciso dizer cristãos, mas solidários, existiria gente morrendo de fome?

 

Pistas para reflexão durante a semana:

 

– Até que ponto espero que Deus resolva o problema da fome no mundo?

– Tenho compaixão, ou dó das pessoas?

– Como levar o pão da Vida, Jesus, às pessoas mais próximas?

 

1ª Leitura – Is 55,1-3

Assim diz o Senhor: Â vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças concedidas a Davi.

 

2ª Leitura – Rm 8,35.37-39

Irmãos: Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! Tenho a certeza que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer, será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.

 

Evangelho – Mt 14,13-21

Naquele tempo: Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: ‘Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!’ Jesus porém lhes disse: ‘Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!’ Os discípulos responderam: ‘Só temos aqui cinco pães e dois peixes.’ Jesus disse: ‘Trazei-os aqui.’ Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.


 

 

Fernando Cyrino

www.fernandocyrino.com



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