O Espírito de Deus
Fénelon e o espírito de Deus
Fénelon (1651-1715)
Um dos grandes mestres da literatura francesa, foi preceptor do duque de Borgonha, neto de Luís XIV destinado a ser rei se não tivesse morrido em 1712. Para o seu jovem aluno, Fénelon escreveu obras didáticas como “As aventuras de Telêmaco”. Arcebispo de Cambrai em 1695, chocou-se com Bossuet em torno da questão do quietismo. Por conta disso, um de seus livros foi condenado pelo papa, e ele terminou a vida virtualmente exilado em sua diocese. As cartas de direção espiritual que escreveu são famosas; de uma delas extraiu-se o trecho seguinte.
“É certo, segundo a Escritura, que o espírito de Deus habita dentro de nós, que ali ele age, reza sem cessar, geme, deseja, pede o que nós mesmos não sabemos pedir, nos anima, nos impele, nos fala em silêncio, nos sugere toda a verdade, e nos une de tal modo a ele que nós nos tornamos um mesmo espírito com Deus. Eis o que a fé nos ensina; eis o que os doutores mais afastados da vida interior não podem deixar de reconhecer. Entretanto, apesar desses princípios, eles tendem sempre a supor, na prática, que a lei exterior, ou uma certa luz de doutrina e de raciocínio, nos ilumina interiormente, e que em seguida é a nossa razão que age por ela mesma a partir dessa instrução. Não contamos suficientemente com o mestre interior que é o Espírito Santo, e que faz tudo em nós. Ele é a alma da nossa alma: não poderíamos formar nem pensamento nem desejo a não ser por ele. Infelizmente, assim é a nossa cegueira: agimos como se estivéssemos sós nesse santuário interior; quando, bem ao contrário, Deus está ali mais intimamente do que nós mesmos”.
Luiz Paulo Horta
Fonte: Amai-vos