Valores recebidos da família

Publicado em 26/02/2012 | Categoria: Notícias |


Em uma sociedade marcada, muitas vezes, pela cultura da eliminação, uma atitude de bondade faz a diferença, consegue iluminar corações e reacender a esperança. O jornal “Testemunho de Fé” entrevistou Vitor Suarez Cunha, que teve 63 pinos implantados no rosto, e sua mãe Regina Suarez. A história do jovem, de 21 anos, que foi violentamente espancado ao defender um mendigo de jovens agressores, no início de fevereiro, na Ilha do Governador, traz à reflexão um dos assuntos mais importantes para o futuro da sociedade: a formação humana, que deve começar no berço.

TF – Que valores você recebeu desde a infância na sua família?

Vitor – A minha estrutura familiar é muito boa e minha família é bem grande. Eles sempre me ensinaram a respeitar o próximo, me passaram valores sobre como é importante você ser uma pessoa boa, não maltratar ninguém, respeitar as pessoas. Por exemplo, levantar para uma senhora sentar dentro do ônibus ou respeitar uma pessoa desfavorecida. Graças a Deus, eu sempre assimilei isso.

TF – Para as pessoas que agem com violência, o que você gostaria de dizer?

Vitor – Eu só espero que, em algum dia, aconteça alguma coisa na vida deles e que eles mudem. A gente só pode esperar e ter essa fé de que isso mude porque falar realmente não vai adiantar. Eu também não quero que as coisas continuem do jeito que estão.

TF – O que é preciso fazer para diminuir a violência no mundo?

Vitor – Eu acho que a gente pode mudar o mundo sim, mas começando pela gente, fazendo a nossa parte. Você não pode esperar que o mundo mude se você não faz o mínimo, que é o certo para você mesmo. Eu acho que tem que partir da gente. Não dá para reclamar que o mundo está poluído, por exemplo, e jogar lixo no chão. Não é assim que o mundo vai mudar. O mundo vai mudar começando por você, depois pelos seus filhos. E assim, as coisas vão melhorando aos poucos, nada é de uma hora para a outra.

TF – Como é o seu relacionamento com Deus?

Vitor – Eu fui criado na Igreja Católica, acredito em Deus. Eu acho que Deus é justo. Então, se você fizer o justo, for uma pessoa boa, Deus vai julgar você pelas suas boas atitudes. Essa é a minha visão.

TF – Em um programa de TV, você falou que faria tudo de novo e que, se uma pessoa não tivesse a mesma atitude que você, ela estava só assistindo a vida. Fale um pouco sobre essa frase.

Vitor – A gente não pode vir para o mundo, simplesmente deixar as coisas como estão e pensar somente na nossa vida, na nossa geração e ponto. E é isso que está acabando com o mundo. É preciso pensar em fazer alguma coisa e não ficar só olhando. Eu não me considero uma referência. Acho que apenas defendi os meus princípios.

Entrevista com a mãe de Vitor, Regina Suarez

TF – Como foi receber a notícia da agressão que Vitor sofreu?

Regina Suarez – Despencou o mundo. Acho que meu coração de mãe se partiu em vários pedaços. O processo está sendo doloroso, mas também de muita felicidade porque o Vitor se recupera muito bem. Deus está com a gente a todo momento. Ele me deu sabedoria para lidar com a situação, porque eu poderia ter ficado revoltada, mas eu não consigo sentir isso no meu coração. Naquele momento, o meu coração estava com muita dor, muita dor. Mas depois eu senti que ele foi sendo preenchido por amor, por carinho, por dedicação ao meu filho. Então, não sobrou espaço para esses sentimentos ruins.

TF – Como está o seu coração de mãe agora?

Regina – Apesar de toda a preocupação de mãe pelo restabelecimento dele, eu estou muito feliz porque meu filho está se recuperando bem. A cabecinha dele também está boa, ele não está revoltado. Eu estou muito agradecida a Deus, a todas as pessoas que ficaram comigo. Tudo que eu estou precisando, minha família e amigos estão nos ajudando. Agora só precisamos de paz para seguir a vida em frente. Desejo que meu filho continue com saúde, que não tenha seqüelas, porque ainda está em observação.

TF – Seu filho teve uma atitude de herói. Conte um pouco sobre a formação que você deu para o seu filho?

Regina – Eu não vejo como uma atitude de herói, mas sim como uma atitude humana. Ali tinha um ser humano, frágil em todos os sentidos, que estava sendo agredido. Como mãe, eu falei que ele poderia ter feito de outras formas, poderia ter ligado para a polícia, poderia ter chamado pessoas. Quanto à educação, eu vou dizer a verdade para você. A gente educa os filhos, vai dando os princípios, vai corrigindo, mas eu nem sabia que ele tinha assimilado tanta coisa assim. As coisas que ele vem falando, a maturidade que ele vem demonstrando também me surpreendem como mãe. E aí a gente vê que realmente a gente conseguiu fazer algum trabalho, deixou algum fruto bom. Isso me dá uma felicidade também.

TF – Como foi a infância de Vitor?

Regina – Desde pequenininho, ele sempre foi solidário e sempre quis ajudar as pessoas. Quando as pessoas iam dormir lá em casa, ele queria arrumar a cama para elas e servir coisas para agradar. Mas ele sempre foi muito levado também e me deu muito trabalho. Na escola, sempre foi muito querido, mas era aquele que mais falava. Ele sempre gostou de andar de bicicleta e já se quebrou todo no skate. É um jovem normal, feliz, um jovem com amigos, vivendo a juventude dele.

TF – Diante de tudo o que aconteceu, qual a sua mensagem para as pessoas?

Regina – É preciso lembrar que a gente não compra educação. Não adianta o dinheiro. A gente dá educação. Devemos educar os nossos filhos mostrando que pessoas são iguais. Não é porque são mais ou menos favorecidas que elas merecem mais ou menos atenção. São seres humanos. Na minha própria prática profissional, como assistente social, eu vejo isso. As pessoas que eu atendo têm histórias de vida, não são uma paisagem no meio da sociedade. Elas têm histórias, sofrimentos, são pessoas como nós.

TF – Você tem alguma religião?

Regina – Minha formação, desde pequena, é católica. Meus filhos também fizeram Primeira Comunhão e Crisma. Diante de tudo o que aconteceu, eu só pedi a proteção de Deus. Pedi para Nossa Senhora Aparecida cobri-lo com o manto dela. Eu não posso ter dúvida do auxílio divino. Após a cirurgia, eu perguntei para o médico se estava tudo bem e ele respondeu que JC (Jesus Cristo) estava presente na cirurgia. Os médicos e toda a equipe do hospital foram excelentes, e, diante de tudo o que ele passou, a recuperação do Vitor tem sido surpreendente.

Caso Galdino

A história do Vitor faz lembrar o caso do índio Galdino, que foi queimado vivo por jovens em abril de 1997, em Brasília. Alguns anos depois, o índio Marcos Terena, em entrevista à revista “Caros Amigos”, disse que faltou aos pais algo que sobrevive na cultura indígena: saber encostar o coração da criança no seu próprio coração. “Não adianta dar presentes materiais. Crianças precisam sentir o coração do pai e da mãe”, afirmou o indígena.

* Foto: Gustavo de Oliveira

Jornal O testemunho de Fé



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