Homenagem aos Pais
Havia um homem que dizia sempre a seu filho: “Haja o que houver, eu estarei a seu lado”. Nos anos 50, num dos países da antiga União Soviética, um terremoto de intensidade muito grande, quase arrasou o seu povoado. Naquele momento, aquele homem, aquele pai estava em outra cidade, a duas horas de casa. Sabendo do ocorrido, ele voltou para casa, e encontrou sua esposa bem. Mas seu filho, na hora do terremoto, estava na escola. E a escola fora totalmente destruída. Sequer uma única parede estava de pé.
Tomado de uma tristeza sem palavras, ele ficou ali, ouvindo a voz de seu filho e sua promessa: “Haja o que houver, eu estarei a seu lado”. Seu coração destroçado não via outra coisa a não ser a destruição. Não ouvia outra coisa além de sua própria voz e a promessa não cumprida. Ele também destruído, percorreu, mentalmente, inúmeras vezes o trajeto de todos os dias. O portão não existia mais… O corredor não existia mais… As paredes… De repente, ele resolveu fazer em cima dos escombros o mesmo trajeto: portão… corredor… as salas… E parou em frente ao que deveria ser a porta da sala do seu filho. Nada! Uma pilha de material destruído. E só. Nem ao menos um pedaço de algo que o lembrasse. Total desolação.
“Haja o que houver, eu estarei a seu lado”.
Mas ele não esteve. Então, num ato de fúria, começou a cavar com as mãos. Chegaram outros pais, também desolados, e alguns tentaram afastá-lo, dizendo: Não adianta, não sobrou ninguém. Vá para casa. Mas ele retrucava: Você vai me ajudar? Ninguém o ajudava. Pouco a pouco, eles se afastaram. Chegaram também os policiais e tentaram retirá-lo dali. Havia outros locais com mais esperança. Mas ele não esquecia sua promessa ao filho. A única coisa que dizia para quem tentasse retirá-lo de lá era: Você vai me ajudar? Chegaram os amigos, e foi a mesma coisa… Você vai me ajudar?
– Você está cego pela dor e não enxerga mais nada!
– Você vai me ajudar?
Um a um, eles se afastavam. Dois ou três ficaram com ele.
Ele trabalhou sem descanso: 5 horas, 10, 24, 30 horas. Dizia a si mesmo que precisava saber se seu filho estava vivo ou morto. Até que, ao afastar uma pedra, sempre chamando pelo filho, ouviu: Pai! Estou aqui! Abriu um vão maior e perguntou:
– Você está bem?
– Estou. Mas com sede, fome e muito medo.
– Tem mais alguém com você?
– Sim. Dos 36 da classe, 14 estão aqui. Estamos presos num vão entre dois pilares. Pai, eu falei a eles: Vocês podem ficar sossegados, que meu pai vai nos achar. Eles não acreditavam, mas eu dizia a toda hora que você falava: “Haja o que houver, eu estarei a seu lado”.
– Vamos – disse o pai – abaixe-se e tente sair por este buraco.
– Não! Deixe que eles saiam primeiro… Eu sei que haja o que houver… você estará me esperando!
Lembrei-me dessa história, como uma homenagem a todos os pais que afastam os obstáculos, se preciso “a unhas” da frente dos seus filhos. Dos pais que tiram, se preciso, “leite das pedras” para alimentá-los. Não é à toa que Jesus chamava Deus, justamente, de Pai.
Queridos pais, parabéns pelo seu Dia!
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano