Bispos aprovam mensagem final do Sínodo
Participantes do Sínodo reunidos com o público para apresentação da Mensagem do Sínodo
Os bispos reunidos em Roma aprovaram nesta sexta-feira, 26, a Mensagem do Sínodo dos Bispos para o Povo de Deus. O texto foi apresentado ao público na Sala de Imprensa da Santa Sé nesta manhã. Ao todo, são onze páginas de reflexões apresentadas em língua italiana.
Participaram da coletiva o Presidente da Comissão para a Mensagem, Cardeal Giuseppe Betori, o Secretário Especial, Dom Pierre Marie Carré, o Diretor da Sala de Imprensa, padre Federico Lombardi, e mais dois membros da Comissão.
No texto, divido em 14 pontos, os padres sinodais afirmam que conduzir os homens e as mulheres do nosso tempo a Jesus é uma urgência que diz respeito a todas as regiões do mundo, de antiga e recente evangelização.
Este caminho começa a partir do encontro pessoal com Jesus Cristo e com a escuta das Escrituras. “Para evangelizar o mundo, a Igreja deve, antes de tudo, colocar-se à escuta da Palavra”, escrevem os Padres sinodais.
Nova evangelização
Olhando de maneira mais concreta ao contexto da nova evangelização, o Sínodo recorda a necessidade de reavivar a fé, que corre o risco de apagar-se nos atuais contextos culturais, também contra o enfraquecimento da fé em muitos batizados. O encontro com o Senhor, que revela Deus como amor, só acontece na Igreja como forma de comunidade acolhedora e experiência de comunhão; a partir daqui, então, os cristãos passam a ser testemunhas em outros lugares.
Contudo, a Igreja afirma que, para evangelizar, é necessário, antes de tudo, ser evangelizado e lançar um chamado – começando por si mesma – à conversão, porque a debilidade dos discípulos de Jesus pesam sobre a credibilidade da missão.
A mensagem também cita que a nova evangelização acolhe favoravelmente a cooperação com outras Igrejas e comunidades eclesiais, também elas movidas pelo mesmo espírito de anúncio do Evangelho. Presta-se particular atenção aos jovens, em uma perspectiva de escuta e de diálogo para recuperar, e não mortificar, seu entusiasmo.
Juventude
Os jovens também são destinatários da Mensagem do Sínodo, definidos “presente e futuro da humanidade e da Igreja”. A nova evangelização encontra nos jovens um campo difícil, mas promissor, como demonstram as Jornadas Mundiais da Juventude.
Família
Os Bispos apontam como lugar natural da primeira evangelização a família, que desempenha um papel fundamental para a transmissão da fé.
Diante das crises pelas quais passa essa célula fundamental da sociedade, com inúmeros laços matrimoniais que se desfazem, os Padres Sinodais se dirigem diretamente às famílias de todo o mundo, para dizer que o amor do Senhor não abandona ninguém, que também a Igreja as ama e é casa acolhedora para todos.
A mensagem cita também a vida consagrada, testemunho do sentido ultra-terreno da existencia humana, e as paróquias como centros de evangelização.
Também recorda a importância da formação permanente para os sacerdotes e os religiosos e convida os leigos (movimentos e novas realidades eclesiais) a evangelizar permanecendo em comunhão com a Igreja
Diálogo inter-religioso
Os horizontes da nova evangelização são vastos tanto quanto o mundo, afirma o Sínodo, portanto é fundamental o diálogo em vários setores: com a cultura, a educação, as comunicações sociais, a ciência e a economia. Fundamental é o diálogo inter-religioso que contribua para a paz, rejeita o fundamentalismo e denuncia a violência contra os fiéis, grave violação dos Direitos Humanos.
Igreja em cada região do mundo
Na última parte, a Mensagem se dirige à Igreja em cada região do mundo. Com relação à América Latina, os padres sinodais se dirigem com sentimento de gratidão.
“Impressiona de modo especial como no decorrer dos séculos tenha se desenvolvido formas de religiosidade popular, de serviço da caridade e de diálogo com as culturas. Agora, diante de muitos desafios do presente, em primeiro lugar a pobreza e a violência, a Igreja na América Latina e no Caribe é exortada a viver num estado permanente de missão, anunciando o Evangelho com esperança e alegria, formando comunidades de verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo, mostrando no empenho de seus filhos como o Evangelho pode ser fonte de uma nova sociedade justa e fraterna. Também o pluralismo religioso interroga as Igrejas da região e exige um renovado anúncio do Evangelho.”
Às Igrejas no Oriente, o Sínodo faz votos de que possa praticar a fé em condições de paz e de liberdade religiosa.
À Igreja na África, pede que desenvolva a evangelização no encontro com as antigas e novas culturas, pedindo aos governos que acabem com conflitos e violências.
Os cristãos na América do Norte, que vivem numa cultura com muitas expressões distantes do Evangelho, devem priorizar a conversão e estarem abertos ao acolhimento de imigrantes e refugiados.
Já a Igreja na Ásia, mesmo constituindo uma minoria, muitas vezes às margens da sociedade e perseguida, é encorajada e exortada à firmeza da fé.
A Europa, marcada por uma secularização agressiva, é chamada a enfrentar dificuldades no presente e, diante delas, os fieis não devem se abater, mas enfrentá-las como um desafio.
À Oceania, por fim, se pede que continue pregando o Evangelho.
A Mensagem se conclui fazendo votos de que Maria, Estrela da nova evangelização, ilumine o caminho e faça florescer o deserto.
Bispo que ajudou escrever mensagem do Sínodo dá detalhes do texto
A Igreja na América Latina é convidada pelo Sínodo a se colocar em estado permanente de missão, formando discípulos missionários
Um dos redatores da mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília (DF), fez um breve resumo do texto, divulgado nesta sexta-feira, 26, em italiano. Em entrevista à nossa correspondente em Roma, Danusa Rego, o arcebispo destacou o pedido especial do Sínodo feito à América Latina.
Dom Sérgio explicou que a mensagem têm especial importância para o Sínodo e para a Igreja, pois costuma ser referência até a publicação da Exortação Apostólica, que será elaborada pelo próprio Papa. Segundo o arcebispo, a mensagem quer ser uma palavra que os padres sinodais dirigem à Igreja, sem ter a pretensão de ser um resumo do Sínodo. Este resumo estará nas chamadas proposições, que estão sendo elaboradas e, em breve, serão aprovadas.
O padre sinodal disse que a mensagem tem, primeiramente, um espírito de gratidão e de esperança.
“É uma mensagem de agradecimento a todos os que se dedicam de maneira tão generosa à evangelização em nossa Igreja, os que estão abraçando a causa da nova evangelização, e ao mesmo tempo, uma palavra de esperança, que vem de Deus, sabendo que o primeiro agente da evangelização é sempre o Espírito Santo. Por isso, nossa esperança de uma evangelização nova, que produza corações novos, pessoas novas, vida nova, famílias novas, sociedade nova, isto é, essa novidade radical do Evangelho acontecendo concretamente na vida das pessoas, na vida da sociedade hoje”, reforçou.
Em um segundo momento, destaca o arcebispo, a própria mensagem quer ser um estímulo para assumir o mandato missionário de Jesus de ir e fazer discípulos. “Nós reconhecemos o que tem sido feito, agradecemos, louvamos a Deus por isso, mas sentimos que temos um longo caminho a percorrer, por isso, estamos aqui, buscando iluminar esse caminho com a Palavra de Deus, com as orientações da Igreja, com o Magistério, e agora nós precisamos, é claro que com renovado ardor, abraçar a evangelização”.
Três aspectos da mensagem
Dom Sérgio resume a mensagem em três grandes pontos: a ênfase no encontro com Jesus Cristo, a missão da Igreja e a novidade de ter uma palavra específica para cada continente.
Sobre o primeiro aspecto, o bispo destacou a necessidade de se evangelizar levando as pessoas a um verdadeiro encontro com Jesus, nas suas várias formas.
“O texto que está iluminando a mensagem é o da samaritana, que vai buscar água no poço e encontra em Jesus a água viva que vem saciar sua sede. Essa experiência do encontro com Jesus feito com a samaritana, está hoje na base do anúncio do Evangelho. Nós precisamos evangelizar a partir dessa experiência do encontro com Jesus e levar as pessoas a experiência do encontro com Cristo, nas suas várias expressões, na oração, na escuta da Palavra, na Eucaristia, na vida da comunidade, no amor fraterno, no serviço da caridade, tudo isso, na verdade como expressão do encontro com Cristo”, explicou.
Outro ponto é a própria vida da Igreja que assume a evangelização. “Embora a responsabilidade seja também de cada um de nós, ela é tarefa eclesial”, destaca Dom Sérgio. “Não se evangeliza sozinho, cada um por si. Nós evangelizamos em comunhão, assumindo a vida em comunidade. Esse é um aspecto muito necessário hoje. Nós vivemos em uma sociedade muito individualista e não podemos reproduzir esse esquema dentro da Igreja, sobretudo, quando se trata desse trabalho evangelizador, nós precisamos lançar juntos as redes, confiando na presença de Jesus Ressuscitado, em unidade”.
Por fim, um aspecto novo dessa mensagem, em relação às anteriores, é uma palavra específica para cada continente. “Nas mensagem anteriores havia apenas uma palavra em geral para toda a Igreja, nesta mensagem, ocupa lugar especial no final, uma palavra dirigida a cada um dos continentes, para que a unidade da Igreja se expresse também valorizando a realidade própria de cada região, isto é, é a Igreja que vive da comunhão trinitária, a unidade nessa diversidade imensa, nessa riqueza e pluralidade imensa de dons de Deus”.
Em relação à América Latina, Dom Sérgio conta que há um reconhecimento dos valores que tem sido vividos nesta parte do continente, especialmente o valor da religiosidade popular, o serviço da caridade e o diálogo com as culturas, e também quanto aos desafio da pobreza, da violência e do pluralismo religioso. O arcebispo disse que o Sínodo reforça o apelo da Conferência de Aparecida. “A Igreja na América Latina é convidada pelo Sínodo a viver aquilo que é a grande proposta de Aparecida: se colocar em estado permanente de missão, formando discípulos missionários”.
Dom Sérgio afirmou ter esperança de que essa mensagem possa produzir muitos frutos em toda a Igreja, de maneira especial, no Brasil.
Fonte: Canção Nova/ Vaticano