Diabetes: educar para prevenir
Diabetes atinge pelo menos 346 milhões de pessoas no mundo
No Dia Mundial contra a Diabetes, a Organização Mundial da Saúde alerta que o número pode dobrar até 2030, caso não haja intervenção no cenário global. Atualmente, quase 80% das mortes provocadas pela doença são registradas em países de média e baixa rendas.
Pelo menos 346 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem algum tipo de diabetes, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). O órgão alerta, entretanto, que o número pode dobrar até 2030, caso não haja intervenção no cenário global. Atualmente, quase 80% das mortes provocadas pela doença são registradas em países de média e baixa rendas.
No Dia Mundial contra o Diabetes, lembrado hoje (14), a OMS pede maior atenção para um problema cujas taxas de incidência estão aumentando em todo o planeta e também cobra dos governos ações para prevenir novos casos.
O diabetes é uma doença crônica provocada pelo mau funcionamento do pâncreas, que deixa de produzir insulina em quantidade suficiente ou quando o corpo não consegue efetivamente absorver a insulina que produz, o que aumenta a concentração de glicose no sangue (hiperglicemia).
O diabetes tipo 1 se caracteriza pela ausência de produção de insulina. Os sintomas podem aparecer abruptamente e incluem excesso de excreção de urina, sede, fome constante, perda de peso, alterações na visão e fadiga.
O diabetes tipo 2 é provocado pelo uso ineficiente da insulina e geralmente resulta de excesso de peso e sedentarismo. Os sintomas podem ser similares aos do diabetes tipo 1, mas geralmente são menos marcantes. Por essa razão, muitos casos são diagnosticados em estágio mais avançado, quando as complicações já começam a aparecer. Até recentemente, a doença era identificada apenas em adultos, mas já há casos entre crianças.
O quadro de diabetes gestacional é resultado de hiperglicemia identificada pela primeira vez durante a gravidez. Os sintomas mais comuns são similares aos do diabetes tipo 2, embora esse tipo da doença seja geralmente identificado durante o pré-natal e não por meio de sintomas.
Casos entre crianças e adolescentes preocupam médicos; obesidade é maior vilã
O avanço da obesidade infantil tem alterado a incidência do diabetes tipo 2 na população brasileira. A doença, que geralmente se manifesta na maturidade, já registra diversos casos entre crianças e adolescentes. No Instituto da Criança com Diabetes, centro especializado que atende a 2.500 pacientes em Porto Alegre (RS), 3% dos casos são de diabetes tipo 2.
Em entrevista à Agência Brasil, o endocrinologista Gustavo Francklin explicou que o diabetes é uma doença decorrente da alteração na produção e na ação da insulina. No tipo 1, o próprio organismo reage contra células do pâncreas, responsáveis pela produção da insulina. No tipo 2, o problema é a resistência do organismo à ação da insulina, que aparece sobretudo em pessoas obesas e sedentárias.
“Houve mudanças nos hábitos das crianças. Elas convivem muito com videogame e computador e reduziram as atividades físicas. A alimentação também mudou, elas comem muito enlatado, fast food”, disse.
De acordo com o especialista, crianças e adolescentes diabéticos devem praticar atividade física regular pelo menos quatro vezes por semana e manter uma alimentação saudável, comendo de cinco a seis vezes por dia. Devem ser evitados gorduras e carboidratos.
“Batata frita, sanduíche, sorvete, chocolate e biscoito são alimentos hipercalóricos e geralmente atrativos. São guloseimas e os pais acabam cedendo, já que é tudo mais fácil, mais prático”, completou.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduino Tschiedel, o aumento da obesidade entre crianças e adolescentes e o aumento de casos de diabetes tipo 2 nessa faixa etária podem significar o aparecimento de complicações ainda mais cedo, como problemas renais crônicos e amputação de membros.
“O diferencial do tipo 2, além de ser [possível prevenir], é que ele é tratável com mudanças de estilo de vida. Para o tipo 1 isso não adianta muito, já que foi uma doença autoimune que provocou o quadro”, explicou. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes indicam que cerca de 12 milhões de pessoas no Brasil sofrem da doença, dos quais 90% a 95% têm o tipo 2.
Lucimeire da Silva Sampaio, 38 anos, é uma dessas pessoas. A dona de casa foi diagnosticada com a doença aos 13 anos, quando se preparava para uma cirurgia de retirada do apêndice.
“Assim que foi dado o diagnóstico, comecei a tomar insulina diariamente e a prestar mais a atenção na alimentação. Tento também me exercitar mais. Quando era mais nova, costumava trapacear, comendo besteiras, mas percebi logo que não podia mais comprometer minha saúde”, contou.
Quando tinha 16 anos, Keila Oliveira de Melo, técnica de enfermagem, começou a sentir-se mal, mas decidiu não procurar atendimento. “Achei que fosse um mal-estar passageiro, mas fui perdendo os sentidos, até que entrei em coma”. Os exames constataram que ela tinha diabetes. “Passei a controlar a alimentação, com os horários certos de cada refeição e a me exercitar mais. Nunca tive complicações, nem mesmo quando engravidei”.
Ana Carolina Luz Bezerra, de 18 anos, foi diagnosticada quando tinha apenas 9 anos. Ela apresentou sintomas clássicos da doença, como perda de peso, aumento da vontade de urinar e muita sede.
“Como eu era muito novinha, tive dificuldades para seguir o tratamento. Na escola, via meus colegas com lanches como salgadinhos, suco e eu não podia mais comer essas coisas, pois passava muito mal. Ainda assim, extrapolava de vez em quando. Até que tomei consciência do que tenho e passei a me controlar mais. Hoje, não tenho muitos problemas em cuidar da alimentação”, contou.
Doença mata mais que aids e trânsito no Brasil
Dados do Ministério da Saúde divulgados hoje (13) indicam que 54 mil brasileiros morreram em 2010 em decorrência do diabetes. Isso significa que a doença matou quatro vezes mais do que a aids (12 mil óbitos) e superou o total de vítimas de trânsito (42 mil) no país.
A pasta alertou que o total de mortes provocado pelo diabetes é ainda maior quando se considera que a doença age como fator de risco para outras enfermidades, como câncer e doenças cardiovasculares. Em 2010, o diabetes esteve associado a 68,5 mil mortes, o que totaliza cerca de 123 mil mortes direta e indiretamente.
De 2000 a 2010, a doença foi responsável por mais de 470 mil mortes em todo o Brasil, enquanto a taxa de mortalidade avançou de 20,8 para 28,8 casos para cada 100 mil habitantes.
As mulheres são as principais vítimas e responderam, em 2010, por 30,8 mil mortes contra 24 mil entre os homens. Em 2000, 20 mil mulheres morreram por causa do diabetes, ante 14 mil homens.
A faixa etária com o maior número de mortes, em 2010, é acima dos 80 anos, totalizando 15,7 mil. O número mais que dobrou quando comparado ao ano 2000, quando 6,7 mil mortes foram notificadas na mesma faixa etária.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o diabetes constitui um problema contemporâneo. Ele lembrou que, atualmente, 15% da população brasileira são obesos e que o quadro é um facilitador para a doença.
“Esta é a hora de revertermos a possibilidade do nosso país ser cada vez mais um país de diabéticos”, disse, ao citar mudanças como melhoria dos hábitos alimentares e aumento da atividade física. “É um momento fundamental para que o conjunto da população brasileira, sobretudo os profissionais de saúde, tenham atitudes em relação à prevenção”, completou.
No ano passado, o governo federal lançou o Plano de Ações para o Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que inclui medidas para a redução de casos e de mortes por diabetes.
A meta é alcançar queda de 2% ao ano nas mortes prematuras provocadas por doenças crônicas, a partir da melhoria de indicadores relacionados ao consumo de álcool, alimentação inadequada, sedentarismo e obesidade, fatores considerados de risco para o diabetes.
Fonte: Agência Brasil