”Deixai Gaza viver em paz!”
Escreve o pároco de rito latino na Faixa de Gaza, Jorge Hernandez, IVE
Nova mensagem, cheia de angústia, da única paróquia de rito latino que existe na Faixa de Gaza. O padre Jorge Hernandez, do Instituto do Verbo Encarnado (IVE), escreve sobre a vida das pessoas lá, e dos católicos, um pequeno rebanho de duzentas pessoas. Apesar de não fazer distinções na hora de ajudar a população.
“Escrevo-lhes da nossa paróquia da Sagrada Família, em Gaza, que pertence ao Patriarcado Latino de Jerusalém e que conta com uns duzentos católicos. O lugar é conhecido por todos, pois além do complexo paroquial há um colégio que abriga as crianças, cristãs e muçulmanas, como numa só família”, diz o sacerdote do IVE.
“Já se sabe a tensão que existe na Faixa de Gaza desde o sábado passado, 10 de novembro e que tem se intensificado, especialmente a partir da quarta-feira, 14. A situação não mudou, em vez disso piora com o passar dos dias. O passo do tempo faz com que se comece a sentir cada vez mais a pressão que significa os bombardeios contínuos, de dia e de noite”.
“O barulho ensurdecedor das bombas, a insegurança e o medo fazem que este povo sofra uma tortura, não somente cruenta, mas também cruel e implacável no espiritual e no psíquico. Basta, por exemplo, o caso de uma menina de nossa paróquia que está sofrendo uma crise nervosa por causa dos bombardeios. Ela não é o primeiro caso, é só um de muitos. Vale lembrar aqui a menina Cristina Wadi Al Turk, cristã morta durante a guerra do 2008-2009, por causa de um ictus cardíaco devido ao frio e ao medo!
“O leitor atento se perguntará: Como estão as pessoas? O que experimentam?… As pessoas estão assustadas, e não pode ser diferente. Os mísseis não entendem de ética e moral, não fazem a diferença entre jovem ou ancião, cristão ou muçulmano, homem ou mulher … só caem e destroem. Quando ouve-se aviões e a descarga dos mísseis, experimentam uma angústia interior muito grande e, alguns, o alívio de não terem sido alcançados pelos mesmos. E sempre a constante pergunta: “Até quando?”. As pessoas normais não querem outra coisa, senão viver as suas vidas. Então dizemos: deixem, portanto, Gaza viver em paz!”.
“Nos perguntam pelos cristãos que sofrem. Sofrem sim, por ser cristãos, mas também sofrem por serem palestinos. Se como palestinos padecem a injusta agressão junto com os seus irmãos muçulmanos, como cristãos se resignam e confiam na divina providência de Deus Pai, com um simples AlHamdu Lil’a: Laus Deo! Ali se entende essa extraordinária fortaleza no sofrimento que os caracteriza e que tanto edifica”.
“E, vocês missionários? Nós graças a Deus estamos bem. Nossa missão é estar junto dos cristãos de Gaza. Acompanhá-los, carregar com eles esta cruz. Dessa forma ligamos para eles, encorajamos e consolamos, enquanto lhes ensinamos o verdadeiro sentido da dor cristã, ou seja, essa participação nas dores de Cristo. E este nosso gesto, o reconhecem, o valorizam e o agradecem. Até mesmo, o pedem: ‘não vão embora’… ‘entendemos que precisam ir, mas seria melhor que ficassem conosco’… estas e outras muitas são as frases que nos dizem nossos paroquianos. E isso porque, só ser acompanhado na dor já é um grande alívio. Bem, essa é a nossa tarefa”.
“Seria cumprido, no entanto, descrever qual é a atitude interior do pastor, dos religiosos e missionários em circunstâncias como estas. Na celebração da Missa, no silêncio da adoração eucarística, na recitação do santo rosário, temos presentes todos os que sofrem. Aprende-se além do mais, a estar preparado em todo momento, a por o coração nas coisas do céu, a pensar as coisas sub ratio aeternitatis. Por cada bomba que cai, uma oração se eleva ao Bom Deus para que acolha essas pobres almas e tenha piedade delas. E refletimos: Quantas mortes em vão! Quantos inocentes mortos por uma causa que nem sequer conhecem! Quantos órfãos e viúvas por causa dos ataques!… Bem, por todos e cada um deles sobe ao céu uma oração”.
“Não somos pioneiros nisso. Consolar e compadecer é trabalho da Igreja mãe, é trabalho e tarefa também do sacerdote. E entre tantos, do Padre Manuel Musallam, que foi pastor desta comunidade em tempos difíceis, tempos de guerra, e que até hoje nos acompanha e nos ensina”.
“Digno de menção e reconhecimento é o edificante exemplo de valor e entrega total e incondicionada das religiosas que estão na nossa paróquia, que podendo ter ido embora preferem ficar e levar esta cruz com os outros. São três as congregações de religiosas presentes em Gaza: As Irmãs do Rosário, As Irmãs da Caridade e as Servidoras do Senhor e da Virgem de Matara. Suas orações são uma benção e Deus saberá recompensá-las por tanta generosidade”..
“Para finalizar, lembrar o terrível que é uma guerra. Numa guerra ningúem ganha. Todos perdem. Cada uma das partes deverá pagar, do seu modo, as consequências de uma guerra.
Consequências de todo tipo, incluído ter perdido o mais próprio do homem: “a humanidade”.
“Que Nosso Senhor Jesus Cristo, ‘Príncipe da Paz’ e Deus misericordioso, proteja este povo, que o acolheu na sua fuga do Egito, que ilumine seus governantes e o abençoe com o dom da paz”.
“Nos confiamos às vossas orações, em Cristo e Maria Santíssima”.
(Trad. TS)
Fonte: Zenit