O Natal guardado no coração
Os acontecimentos daqueles dias do nascimento de Jesus estão sempre presentes em nossa memória. Eu, pelo menos, sou capaz de recordar-me com exatidão de cada passo da Sagrada Família desde a Anunciação até a fuga para o exílio. E me consola recordá-los!
Passeando, então, por aqueles dias entre Nazaré e Belém, chama minha atenção a atitude de Maria que “tudo guardava no coração”.
Muitos de nós têm a informação que Maria estaria rezando quando o anjo de Senhor se aproximou e anunciou-Lhe a maternidade. Nenhum dos evangelhos cita isso, mas essa crença acabou se difundindo e virou uma tradição. Depois, já lá na gruta de Belém deparamo-nos com a informação “oficial” do evangelista, de que Maria via os acontecimentos e os guardava no coração. Não seria esta uma atitude de oração? Não seria esta uma atitude própria daqueles que estão em constante relação com o Senhor e por isso guardam em seu coração os fatos cotidianos, para diante do Pai, agradecer, pedir, reverenciar, louvar, etc?
Este Advento marcou-me pelo desejo de relação. Se orar é relacionar-se com Deus, então Ele deseja manter uma relação conosco! E qual tem sido a qualidade das nossas relações? Reunimo-nos rapidamente, correndo de um lugar para o outro… Cartões de Natal, desejos e votos são compartilhados apenas nas redes sociais… Não há tempo para o encontro, para o abraço, para a conversa… Ouvimos os comentários: este ano está mais corrido! Ainda nem tive tempo de falar com as pessoas! etc.. etc… e ainda nos deparamos com um pretenso fim do mundo, que só serve para acelerar ainda mais o tempo, numa urgência de aproveitar o que nos resta…
Mas, a história daquela família de Nazaré ainda insiste em ecoar em nossas vidas. Fazemos o quê? Teremos tempo para olhar o Menino que dorme em paz em Sua manjedoura? Sentiremos o calor daquela gruta com a Vida pulsando dentro dela? Participaremos da faina típica de um lar que recebe um recém-nascido? Ou apenas compartilharemos figuras de presépios em cartões virtuais e frios?
Imagino que Maria guardava no coração cada pedacinho daqueles dias. Com o tempo que dispunha (diga-se de passagem, as mesmas 24 horas que dispomos hoje), fazia as tarefas que lhe competia e ainda assim, encontrava o momento de revisitar o coração e colocá-lo diante de Seu Senhor. Por que não podemos fazer o mesmo? Seria essa uma tarefa tão dispendiosa que não podemos assumi-la?
Neste Natal, dê de presente a você mesmo um amigo a mais. Relacione-se com Deus. Da sua forma, com o seu coração, com o seu dia atribulado, mas dê a Ele um tempo novo. E você, certamente, vai descobrir que todos os dias são dias de nascimento da Vida. E entenderá que o Senhor, realmente, já está entre nós.
Um bom Natal!
Autor: Gilda Carvalho