Exercícios espirituais: a história é o lugar onde encontrar o Senhor
A história como lugar de encontro com Deus e a figura do Messias lida através dos Salmos: foram os temas no centro das duas meditações propostas na manhã desta terça-feira ao Papa e à Cúria Romana pelo presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi. Chegamos assim ao terceiro dia dos Exercícios espirituais, que têm lugar na Capela Redemptoris Mater da residência apostólica, no Vaticano.
Depois do espaço, o tempo é o fio condutor das meditações desta terça-feira feitas pelo Cardeal Ravasi. De fato, também a história é lugar da teofania de Deus. É o próprio Antigo Testamento quem no-lo mostra, especialmente naquilo que o purpurado define como o credo histórico de Israel, ou seja, as passagens onde emerge que a fé está ligada aos fatos, onde se refere a Deus como Aquele que libertou o povo da escravidão do Egito.
O Cardeal Ravasi mostra que o encontro com Deus se dá nos emaranhados dos eventos, marcados pelo sofrimento, mas também pela alegria. Uma realidade que se tornou ainda mais visível com a encarnação:
“A história é e deve ser sempre o lugar amado por nós para encontrar o nosso Senhor, o nosso Deus. Mesmo se é um terreno escandaloso, mesmo se é um terreno no qual muitas vezes vemos talvez também o silêncio de Deus, ou vemos a apostasia dos homens.”
Portanto, a esperança é a virtude central para compreender que a história não é uma série de eventos sem sentido, mas, como se vê no livro de Joel, existe nela um projeto de Deus:
“Com a esperança estamos certos de não nos encontrarmos à mercê de um fato, de um fato imponderável. O nosso Deus se define no Êxodo 3 com o pronome da primeira pessoa ‘Eu’ e com o verbo fundamental ‘Eu Sou’. Portanto, é Pessoa que age, que vive por dentro os episódio, e é por isso que então a nossa relação com Ele é uma relação de confiança, de diálogo, de contato. Pois bem, a esperança nasce da convicção de que a história não é uma nomenclatura de eventos sem sentido.”
Este é um olhar profundamente ligado à eternidade. A segunda meditação tem em seu centro a figura do Messias, lida principalmente através dos Salmos, dos quais emergem algumas características. Em primeiro lugar, a do Messias como Aquele que faz brilhar a justiça, especialmente para os últimos, para os pobres:
“Paulo deu a melhor definição dessa justiça, que se coloca a nível das pessoas vítimas da injustiça. Paulo, no famoso Hino contido na Carta aos Filipenses 2, diz: Ele tinha a condição divina, e não considerou o seu ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana.”
Portanto, emerge a característica do sacerdócio de Cristo como um sacerdócio de graça, não “biológico”, mas segundo o modo de Melquisedec e, por fim, do Messias como Filho de Deus, que com a Ressurreição revela plenamente a sua divindade. Portanto, pode-se ver a dimensão messiânica como coração do Saltério:
“Devemos mais vezes deter-nos a contemplar a figura de Cristo, o Messias que tem em si todo esse respiro do Antigo Testamento e o conduz à plenitude.”
A liturgia como lugar da revelação de Deus fora o grande tema da reflexão do Cardeal Ravasi nos Exercícios espirituais da tarde desta segunda-feira. Duas dimensões fundamentais: a vertical, o olhar voltado para Deus; e a horizontal, o olhar voltado para os irmãos.
O purpurado ressaltou que é necessário um equilíbrio entre essas duas dimensões, do contrário há o risco ou de um sacralismo fim em si mesmo ou de se fazer uma reunião de assembleia. Mas, sobretudo, existe a necessidade de uma análise do coração para não transformar o culto num rito exterior, como diz o Profeta Isaias quando afirma que Deus detesta ofertas e sacrifícios.
O amor aos irmãos e a confissão das próprias culpas são, portanto, momentos fundamentais para ultrapassar a soleira que conduz à comunhão com o Senhor:
“Para ir à Comunhão com Deus – um só Pão, um só Cálice – é preciso ser um só Corpo, é preciso ter a comunhão entre nós.” (RL)
Fonte: Rádio Vaticano