Papa em retiro: reflexões sobre a fé como adesão consciente
A fé como adesão consciente, livre e apaixonada e o encontro do homem com o limite. Sobre estes dois temas foram desenvolvidas as meditações do Cardeal Gianfranco Ravasi nesta quarta-feira, 20, no retiro espiritual do Papa e da Cúria Romana. O Cardeal, que é presidente do Pontifício Conselho da Cultura, é o responsável pelas pregações dos Exercícios Espirituais do retiro deste ano.
A primeira meditação do Cardeal concentrou-se sobre o Salmo 130, um Salmo curto, uma espécie de símbolo de uma espiritualidade da infância e no qual encontrar a peculiaridade do crente, aquele que “tem em plenitude a sua fidelidade a Deus”, conforme precisou o Cardeal.
A liberdade, segundo lembrou o Cardeal, é outra palavra chave para o cristão. E é na imagem da “criança no seio materno”, típica da simbologia oriental, que o salmista celebra uma fé que é adesão e ao mesmo tempo uma escolha. Uma criança agora já grande, não mais embarcado pela mãe que o alimenta, mas separado por um ato de amor e liberdade.
“A fé que é adesão, mas adesão consciente, adesão livre, adesão intensa, apaixonada. Sem dúvida, não por nada, repete-se duas vezes ‘como uma criança no seio materno’ e o último versículo então é o convite a toda Israel a esperar, também a ter confiança no Senhor. Devemos aprender também nós com a grande história da espiritualidade, devemos aprendê-la, sobretudo nós, quando estamos talvez chegando a um nível de responsabilidade, de dignidade também dentro da Igreja, ou em funções de uma certa importância, do qual dependem, tantas vezes, também escolhas que afetam as pessoas. Provavelmente a tentação se ramifica em nós, leve e sutil, a tentação de ser aqueles que olham do alto”.
E é no permanecer criança que se conota a fé: o ser pequena de Santa Tereza de Lisieux – recordou o Cardeal Ravasi – mas é todo o ensinamento de Jesus que se desenvolve neste sentido. Crianças das quais aprender a pureza, mas sobretudo a confiança.
Na segunda meditação, sobre o Salmo 39, o Cardeal Ravasi concentrou-se sobre o homem criatura frágil, testado pela dor de viver, angustiado, que experimenta o limite e a finitude da sua pessoa.
“Pensemos somente na televisão, que é a verdadeira e grande Moloch dentro das casas. Já sabemos tudo sobre a moda, sobre aquilo que devemos comer, vestir, escolher, mas não temos mais – muitas vezes – uma voz que nos indica o caminho e também o sentido desta vida, sobretudo quando esta é tão frágil, tão miserável. Eis porque é importante retornar aos grandes temas. Ter a coragem de propor as grandes reflexões, creio que seja um dos grandes problemas dos jovens de hoje que não são capazes de encontrar as respostas de sentido e então se abandonam a este fluxo que está à deriva da sociedade contemporânea”.
Então, ter um senso do limite para superar a superficialidade, mas o Cardeal também enfatizou a necessidade de voltar para a “oração pobre, nu, simples” e convidou a questionar-se sobre o sofrimento com “palavras não só reconfortantes, de segunda mão e frias”. Aquele que sofre, tocando de perto o limite, descobre estar em crise. Mas, conforme concluiu o Cardeal, apesar das trevas, a experiência cristã abre sempre a um horizonte de luz para o qual a escuridão não tem nunca a última palavra.
Na meditação de ontem, Cardeal Ravasi falou sobre o homem e o olhar de Deus sobre ele. A criatura humana, conforme destacou, transforma-se o “lugar no qual interceptar a presença de Deus”, já no embrião Deus vê “o esplendor e as misérias”. A tarefa do homem que tem uma “aliança com Deus” é “representar o seu Senhor”.
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Fonte: Canção Nova