O Senhor sempre nos visita
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Ano C
9º Domingo do Tempo Comum – 02-06-2013
Quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”. Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”. Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde. Lc 7, 1-10
Mesmo sendo indignos da sua presença, o Senhor sempre nos visita
Há muito para se refletir neste Evangelho. Trata-se de texto riquíssimo em mensagens e significados para a vida. Como não dá para se falar de todos escolho três pontos para que os aprofundemos juntos. Cada um saberá, além deles, buscar outros onde possa ancorar novas abordagens para a Palavra, sempre nova, sempre viva.
A Gestão do cuidado por um empregador dos tempos de Jesus
Meu trabalho é ligado à gestão e liderança de pessoas. Atuo como consultor nas organizações e, em pleno Século XXI, não é nem um pouco raro que encontre pessoas (recuso-me a chamá-las de líderes), que não têm o menor cuidado e atenção para com as pessoas que dirigem.
Tratam-nas como peças descartáveis, “mãos de obra”, seres que nem chegam a ser humanos, eis que eles não apreciam que os empregados pensem e sintam. São meros “recursos” e é dessa maneira que são chamados, o que demonstra estarem nivelados aos verdadeiros recursos, que são os materiais, econômicos e tecnológicos.
Aí vem Lucas e nos apresenta lá nos tempos de Jesus, dois mil anos passados, um patrão exemplar até para os dias de hoje. Verdadeiro líder que se preocupa com seu empregado. O mais interessante é que este sentimento não fica só na intenção. Ele se põe a caminho buscando que seja atendido. Ouvira falar de um “médico” especial e ordena que o chamem para atender seu funcionário.
Cuidar é uma competência básica do líder do Século XXI. As organizações do futuro só se manterão perenes e competitivas, caso tenham bem cuidadas as pessoas que dela fazem parte. A gestão do cuidado, como hoje é chamada, é essa maneira pela qual as empresas demonstram aos seus empregados, que eles são mais que meros recursos. Tratam-se de seres humanos em busca da realização e plenitude humana.
A universalidade da fé
Jesus não veio somente para o povo da Bíblia. O que para nós é evidente, para os primeiros cristãos, principalmente aqueles de origem hebreia, ainda era motivo de discussão. Por conta disto é bonito e cheio de significado, a gente reparar nessas profissões de fé, que os evangelistas nos mostram de pessoas não judias. O oficial romano reconhece o Senhor. Apesar de invasor, era homem piedoso e respeitador da fé daqueles que dominava, até lhes construíra uma sinagoga.
Quando se crê adquire-se também a experiência da própria pequenez e indignidade, perante aquele que é o autor da fé. Diante do santo de Deus miraremos o espelho da nossa própria indignidade. Não fossem seu Amor e misericórdia jamais que seriamos capazes de, ao menos, nos aproximar dele. Por isto, antes que caminhemos na sua direção, Ele já veio ao encontro e das pessoas da nossa casa.
Sentir e viver a presença do Senhor em tempos de virtualidade
Vivemos a chamada Pós-modernidade. São tempos de mudanças rápidas, profundas e impactantes. Um período da história totalmente diverso daqueles outros, antes experimentados por nossos antepassados. Nessa nova Era há, como que, uma redefinição das relações da humanidade em referência às dimensões de tempo e espaço.
No que diz respeito ao tempo, facilmente poderemos notar que, ao contrário dos anos passados quando as coisas aconteciam e somente depois viríamos a saber delas, hoje qualquer acontecimento considerado notícia, nos será transmitido “ao vivo”. Não é isto que acontece, por exemplo, com as guerras, tragédias, casamentos reais e mesmo os eventos esportivos? É tremenda esta constatação de que vivemos os fatos, por mais distantes que ocorram, no mesmo instante em que acontecem.
Isto nos leva já a reparar a mudança do conceito de espaço. O que o filósofo Marshall McLuhan previu, ainda em fins da década de sessenta do último Século, o mundo como “Aldeia Global”, hoje é mais que realidade. É comum que não se conheça quem mora na porta ao lado, mas se é amigo de alguém em Singapura, ou na Patagônia.
Outro exemplo dessa transformação poderá ser visto na observação do comportamento dos jovens. O mundo para eles é um só, independente do que possam dizer as distâncias e geografia.
O tempo cronológico e o espaço físico são conceitos humanos. Estão, obviamente, muito aquém de Deus. Vai-se tornando necessária então uma revisão deles, por parte da Igreja. Tomemos como exemplo o Sacramento da Eucaristia. Na Jornada Mundial da Juventude em Madri e, daqui a pouco, na próxima JMJ do Rio, teremos uma vigília e após a celebração Eucarística pelo papa Francisco.
A multidão de jovens que esteve na Espanha e a que marcará presença no Brasil, maior ainda, mesmo estando no local do evento, acaso não chegue muito cedo, ou tenha lugar marcado privilegiado, haverá de se contentar em participar através dos telões e aparelhos de som. Igual a nós que estaremos em casa. Mesmo assim, cada um deles será considerado presente e comungará do Corpo do Senhor.
Ainda é algo bem distante da presença virtual, mas não deixa de estar caminhando para tal. Por isto, ao ver neste Evangelho as palavras do oficial romano, poderemos enxergá-las como proféticas. Um sinal dos tempos acenando para mudanças.
De fato, o Senhor não necessita ir fisicamente às nossas casas, e isto não se dá por sermos indignos, o que para Ele é questão de somenos. Ocorre pela atuação dos meios tecnológicos, rádio, televisão e internet. Através deles Jesus, a cuidar da gente, já se faz presente em nossos lares.
Pistas para reflexão durante a semana:
– Como lido com as pessoas que trabalham para mim?
– Na fé sinto o Senhor caminhando rumo a mim?
– Como, na minha realidade, posso acolher e levar o Senhor através dos meios de comunicação social?
Fernando Cyrino
www.fernandocyrino.com