Para voltar à essencialidade do Evangelho
Em diálogo com o arcebispo José Rodríguez Carballo, Francisco fala de sua missão como pontífice
Por Nicola Gori
Regressar à essencialidade do evangelho, voltar a pôr Cristo no centro da criação e cada vez mais próximo do homem, enfrentar o desafio da pobreza saindo de si mesmo para ir às periferias da humanidade, àquelas fronteiras e lugares onde ninguém quer ir. Foram as indicações do papa Francisco para a vida consagrada, afirmou o arcebispo José Rodríguez Carballo, secretário da Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica, em diálogo reproduzido pelo L’Osservatore Romano.
Arcebispo José Rodríguez Carballo – Passaram pouco mais de três meses da sua nomeação. Certamente já se fez uma ideia clara de quais são as prioridades a enfrentar para os Institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica?
Papa Francisco – São principalmente duas: animar e promover a vida consagrada em todas as suas formas e manifestações e regular a prática dos conselhos evangélicos nestas várias formas aprovadas pela Igreja. Animar e promover a vida consagrada significa acompanhar o caminho dos consagrados a fim de que a sua vida e missão se conformem com o espírito dos respectivos fundadores e fundadoras, com as tradições sadias das diversas famílias carismáticas, e se desenvolvam tendo presente a doutrina da Igreja e os fins próprios do Instituto.
O Santo Padre, em uma carta que me escreveu por ocasião da minha ordenação episcopal, recordou-me a minha missão de pontífice, “és pontífice”, dizia-me ele, isto é: estou chamado a ser ponte, mediador. Ao olhar para a minha missão no dicastério, gostaria de ser mediador também entre os diversos institutos, pois hoje a vida consagrada deve colaborar entre as diversas realidades, e ser mediador, ponte, entre diversos Institutos e a Igreja. Deste modo, ajudarei a vida consagrada a crescer e consolidar-se. Estou profundamente convicto de que esta é a principal prioridade do meu serviço na congregação.
Arcebispo José Rodríguez Carballo – Qual futuro entrevê para os consagrados?
Papa Francisco – Estou profundamente convicto de que, na vida consagrada, há muita vida. Às vezes, essa vida não parece tão visível porque, como se costuma dizer, uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce. Mas isto não quer dizer que não haja vida na vida consagrada. No serviço como ministro-geral da ordem dos frades menores, percorri diversas vezes o mundo e, nos lugares mais difíceis e nas fronteiras mais pobres e distantes, encontrei sempre religiosos e, de modo especial religiosas que, vivendo na lógica do dom, oferecem a própria vida gratuitamente e sem fazer rumor. São eles que, em muitas partes do mundo, em particular nas periferias, garantem a presença da Igreja. Na vida consagrada, como em todas as realidades humanas e eclesiais, existem problemas, mas eles não nos podem impedir de ver a vida. Neste sentido penso que às vezes há muita “miopia”.
L’Osservatore Romano, 19-07-2013.
Fonte: Rádio Vaticano
