Paolo Dall’Oglio, padre jesuíta, sequestrado na Síria
Paolo Dall’Oglio, padre jesuíta sequestrado na Síria, manteve o último contato no dia 26 de julho, sexta-feira, concordando com os retoques finais do seu livro a ser publicado em setembro. “Ele me escreveu: “Agora estou retornado a Síria. Na próxima semana o meu número de telefone mudará e lhe comunicarei, se Deus quiser”, narra Lorenzo Fazzini, diretor da Editora Missionária Italiana, com sede em Bolonha, segundo a agência Ansa. O título do livro é “La collera e la luce. Un prete cattolico nella rivoluzione siriana” (em tradução livre: “A cólera e a luz. Um padre católico na revolução síria”,
A informção é publicada pelo jornal italiano Il Fatto Quotidiano, 30-07-2013.
“Nos últimos dias falei com ele, um dia, sim, um dia, não – explica Fazzini – e sempre me dizia onde se encontrava. Ele, particularmente, vagava entre o Iraque e o Curdistão da Turquia, e, muitas vezes, fazia incursões furtivas na Síria, onde ainda tinha contatos”. No país involucrado numa guerra sangrenta, Dall’Oglio, fundador do Mosteiro de Mar Musa, no norte de Damasco, onde vivera 30 anos, antes de ser explulso da Síria, depois que tomou posição a favor do plano de paz do então enviado especial da ONU para a Síria, Annan. E agora, claramente na oposição a Assad, Dall’Oglio buscava dar a sua contribuição para uma solução pacífica ao conflito. “Algum tempo atrás – conta Fazzini – quando lhe dissera das nossas dificuldades, aspectos cotidianas que dizem respeito ao trabalho, ele me respondera com seu tom brincalhão: “Mas como, eu estou aqui arriscando a pele, buscando fazer com que as pessoas cheguem a um acordo, e vocês se perdem em coisinhas?” Narro isto para descrever o seu caráter: de uma parte, brincalhão, mas de outra, plenamente consciente do risco”.
O livro, com histórias da vida de Dall’Oglio, particularmente dos dois últimos anos, já publicado na França, em maio, será lançado no dia 5 de setembro. “Esperamos que padre Paolo esteja presente”, deseja Fazzini. “Na úlitma mensagem, o livro já pronto – conta Fazzini – nos pediu para corrigir um detalhe: mudar, em toda o livro, a grafia do nome do presidente Assad, escrevendo com somente um ‘s’, Asad, o que fizemos imediatamente, na sexta-feira, antes de irmos para as férias”. E agora, na noite de ontem, a notícia dramática do seu sequestro, ainda que sem confirmação oficial. “”Esperamos que não seja verdade – acrescenta Fazzini. Fico atento no smartphone para ver se tem novamente uma nova mensagem do padre Paolo”.
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Jesuíta italiano é sequestrado na Síria
Segundo a Reuters, Paolo Dall’Oglio, padre jesuíta, fundador do Mosteiro ecumênico e misto de Mar Musa, foi sequestrado, na cidade de Raqqa, no norte da Síria, pelo grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
O Ministério das Relações Exteriores da Itália está verificando o caso.
A informação é publicada pelo jornal La Repubblica, 30-07-2013. A tradução é da IHU On-Line.
O que existe de certo é que o padre Dall’Oglio não responde os contatos telefônicos, como pode constatar a agência italiana Ansa. A resposta do telefone sírio sempre consiste uma gravação que responde: “o aparelho, no momento, está desligado”. Por sua vez, o telefone italiano não dá nenhum sinal.
Dall’Oglio (foto) foi expulso da Siria, por Assad, no dia 12 de junho de 2012. Mas ele voltou, clandestinamente, para os territórios controlados pelos rebeldes.
Não é a primeira vez que religiosos cristãos são sequestrados por rebeldes no norte da Síria. No dia 22 de abril do ano passado, próximo de Aleppo, dois bispos ortodoxos foram sequestrados quando retornavam para a cidade vindos da fronteira turca, voltando de uma missão sobre a qual nada se sabe. Trata-se do sírio Yohanna Ibrahim e do grego ortodoxo Boulos Yazij, que segundo fontes da igreja grega ortodoxa de Aleppo teriam sido raptados por jihadistas chechenos. Uma das tantas nacionalidades dos milicianos fundamentalistas que acorreram para a Síria unindo-se àquilo que para eles é uma “guerra santa” contra o presidente Bashar al Assad. Até hoje, nada se sabe sobre os dois bispos. Um possível motivo que poderia ajudar a compreender o sequestro dos dois bispos seria o apoio, ainda que muito discreto, que as igrejas ortodoxas continuam a dar ao regime de Damasco, temendo que se ele cair, o poder ser assumido por um governo fundamentalista islâmico sunita.
Difícil, porém, é entender as razões que possam ter motivado os opositores a raptar o padre Dall’Oglio, comprometido, durante décadas, no diálogo entre cristãos e muçulmanos e agora claramente posicionado na oposição ao regime de Assad.
No dia 24 de julho, neste ano, o jesuíta fez um apelo pessoal ao Papa Francisco, pedindo-lhe que promova “uma iniciativa diplomática urgente e inclusiva para a Síria” a fim de assegurar “o fim do regime torturador e massacrador” da família Assad.
Da Síria também não se tem notícias de um outro italiano, Domenico Quirico, jornalista enviado do jornal La Stampa, desaparecido desde o dia 9 de abril. No dia 6 de junho, num rápido contato telefônico com a esposa, Quirico disse que ‘está bem’: a prova de que ainda está vivo. Mas desde lá, silêncio.
“O mundo nos abandonou’, disse Dall’Oglio
As palavras foram pronunciadas pelo jesuíta Paolo Dall’Oglio, sequestrado na cidade de Raqqa, na Síria, durante o encontro com o ministro das Relações Exteriores da França, Fabius, em setembro de 2012: “Falo como um sírio”, dizia o religioso, mundialmente conhecido pelo seu compromisso com o diálogo com o mundo islâmico: “O mundo nos abandonou. A nossa revolução democrática foi silenciada com o sangue”.
Paolo Dall’Oglio: “Na Síria, nem todos os cristãos estão com Assad”
“O vídeo dos três franciscanos decapitados pode ser um vídeo de propaganda contra a revolução”, diz Paolo Dall’Oglio, jesuíta fundador de um mosteiro na Síria, expulso do País. Em entrevista gravada no dia 28 de junho de 2013, ele recorda os ataques e as intimidações sofridas pelos monges do Mosteiro de Mar Musa por sua opção pela democracia.
Fonte: Unisinos