Papa na Sardenha: “Maria, doe-nos o seu olhar e nos proteja de quem nos promete ilusões”
“Maria, doe-nos o seu olhar” – foi o que repetiu várias vezes em sua homilia o Papa Francisco na missa realizada esta manhã na praça diante do Santuário de Nossa Senhora de Bonária, na cidade de Cagliari, na ilha da Sardenha.
Diante de milhares de fiéis, o Pontífice notou que em Cagliari, como em toda a Sardenha, não faltam dificuldades, problemas e preocupações: de modo especial, o Papa citou o desemprego e a situação de precariedade de muitos trabalhadores e, portanto, a incerteza do futuro.
Diante dessas situações de pobreza que a ilha enfrenta, o Pontífice garantiu sua solidariedade e sua oração, ao mesmo tempo em que pediu o empenho das instituições – inclusive da Igreja – para garantir às pessoas e às famílias os direitos fundamentais.
“Vim em meio a vocês para colocar-me aos pés de Nossa Senhora que nos doa o seu Filho”, assim como fizeram e fazem gerações de sardos, muitos dos quais foram obrigados a emigrar em busca de um trabalho e de um futuro para si e para sua família.
“Vim em meio a vocês, ou melhor, viemos todos juntos para encontrar o olhar de Maria, porque nele está refletido o olhar do Pai, que a fez Mãe de Deus, e o olhar do Filho da cruz, que a fez nossa Mãe. E com aquele olhar hoje Maria nos olha. Precisamos do seu olhar de ternura, do seu olhar materno que nos conhece melhor do que ninguém, do seu olhar repleto de compaixão e cuidado. Maria, doe-nos o seu olhar”, repetiu várias vezes o Santo Padre, porque este olhar nos leva a Deus, que jamais nos abandona.
No caminho, muitas vezes difícil, disse Francisco, não estamos sós, somos muitos, somos um povo, e o olhar de Nossa Senhora ajuda a olhar-nos entre nós de modo fraterno.
“Existem muitas pessoas que instintivamente consideramos de menor valor e que, ao invés, são as que mais necessitam: os mais abandonados, os doentes, os que não têm do que viver, os que não conhecem Jesus, os jovens em dificuldade e que não encontram trabalho. Não tenhamos medo de sair e olhar para nossos irmãos com o olhar de Maria. E não permitamos que algo ou alguém se coloque entre nós e o olhar de Maria.”
E o Papa concluiu: “Que ninguém esconda de nós este olhar! Que o nosso coração de filhos saiba defendê-lo dos que nos prometem ilusões, promessas que não se podem cumprir. Mãe, doe-nos o seu olhar!”
No final da comunhão, Francisco pronunciou o ato de consagração diante da imagem de Nossa Senhora, depositando uma coroa de flores.
E antes da oração do Angelus, agradeceu a todos os que colaboraram para organizar esta visita, confiando-os à proteção de Nossa Senhora de Bonária. “Neste momento, penso a todos os inúmeros santuários marianos da Sardenha: esta terra tem um forte elo com Maria, um elo que expressam em sua devoção e cultura. Sejam sempre verdadeiros filhos de Maria e da Igreja, e demonstrem-no com a vida, seguindo o exemplo dos santos!”
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Papa falou da crise que ameaça futuro
Cagliari – O papa Francisco afirmou na tarde de ontem na Sardenha que a atual crise internacional ameaça o futuro da sociedade e apelou à reformulação dos modelos econômicos e sociais, para revalorizar o ser humano.
“A crise pode tornar-se um momento de purificação e de repensar os nossos modelos econômico-sociais, de certa concepção de progresso que alimentou ilusões, para recuperar o humano em todas as suas dimensões”, declarou, num encontro com o “mundo da Cultura” que aconteceu na aula magna da Faculdade Teológica, em Cagliari.
A intervenção partiu do sentimento de “desilusão” dos discípulos de Emáus, após a morte de Jesus, um episódio relatado pelos evangelhos. “Um sentimento análogo pode ser encontrado também na nossa situação atual: a desilusão, a decepção, por causa de uma crise econômico-financeira, mas também ecológica, educativa, moral”, assinalou.
Segundo o papa, esta é uma crise que diz respeito ao presente e ao “futuro histórico, existencial” da civilização ocidental e de todo o mundo. “Pelo menos nos últimos quatro séculos, não tinha sido tão sacudidas as certezas fundamentais que constituem a vida dos seres humanos como na nossa época”, sustentou.
Neste sentido, Francisco falou das mudanças provocadas pela degradação do meio ambiente, desequilíbrios sociais, o “terrível” poder das armas, o sistema econômico-financeiro, o desenvolvimento e o “peso” dos meios de comunicação e de transporte. “É uma mudança que diz respeito ao próprio modo como a humanidade leva por diante a sua existência no mundo”, precisou.
O papa observou que muitos se limitam à “resignação” perante a dimensão da crise, marcados pelo “pessimismo” perante qualquer possibilidade de intervenção “eficaz”. Essa postura, disse, “ignora o grito de justiça, de humanidade e de responsabilidade social, levando ao individualismo, à hipocrisia e até a uma espécie de cinismo”.
“Que o momento histórico que vivemos nos leve a procurar e encontrar caminhos de esperança, que abram novos horizontes à nossa sociedade”, pediu. Francisco destacou, por isso, o papel da Universidade como lugar de “elaboração e transmissão do saber”, pedindo que a instituição seja um espaço de “discernimento” da realidade, de elaboração de “cultura da proximidade, do encontro” e de “formação à solidariedade”.
“Não há futuro para qualquer país, para nenhuma sociedade, para o nosso mundo, se não soubermos ser todos solidários”, destacou. Numa intervenção com referências aos não crentes, o Papa defendeu que a fé “não reduz nunca o espaço da razão”, mas abre-o a uma “visão integral do homem e da realidade” para evitar o risco de reduzir a pessoa a “material humano”.
Fonte: Rádio Vaticano