Acolhedores
Jesus veio enaltecer novo critério para se valorizar as pessoas
Reflexão sobre as leituras do 4º Domingo do Tempo Comum (02-02-2014)
Jesus questiona os critérios de poder e de valor de sua época e também dos nossos tempos. Quem é valorizado hoje? Os bem-sucedidos profissionalmente, os que têm bom carro, boa casa, os que têm poder, os que são bonitos.
E Jesus? Diverge: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5,3). Ainda: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!” (Mt 5,4). Contrastante, não! Novos tipos de felizardos.
Humildade. Jesus valoriza os modestos. Apresenta critério diferente para valorização das pessoas. Por que esses serão felizes? Porque estão mais propensos a acolher. Seguindo esta lógica Jesus foi evangelizar entre os galileus. Preferiu a Galileia que era sempre a primeira região a sofrer os estragos provocados pelos impérios estrangeiros que guerreavam tentando se apoderar da terra de Israel. Estava numa rota mais acessível do que entrar pelo deserto ou pelo mar Mediterrâneo. Era a primeira região a sofrer o ataque dos inimigos. Mais: a Galileia também foi a região por onde o povo de Israel foi deportado para o estrangeiro. “Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde e modesto, que porá sua confiança no nome do Senhor” (Sf 3,12). Por isso, as expectativas messiânicas concentravam a atenção na Galileia como cenário da primeira manifestação da luz messiânica. Seria a primeira região a receber a libertação, como antes tinha sido a primeira a experimentar a escravidão. Ali Jesus começou seu ministério. Ali começou a reunir os discípulos.
Chamado. A quem Jesus chama? Pessoas que estão fazendo alguma coisa no seu cotidiano: Simão e André que estavam pescando (Mt 4,18), Tiago e João que estavam consertando as redes (Mt 4,21). E o que fazem os que são chamados? Deixam imediatamente suas atividades e o seguem. Que coragem, não? Deixar as atividades! Também hoje ele chama. Como seguir hoje o Mestre? “Buscai o Senhor, vós todos, humildes da terra, que observais a sua lei; buscai a justiça e a humildade: talvez assim estareis ao abrigo no dia da cólera do Senhor” (Sf 2,3). Os humildes são os que têm mais condições de alcançar o reino.
Vazios. Eles estão abertos para receber uma proposta de esperança. Os orgulhosos, não. Não cabe mais nada diferente dentro deles. Como acolherão a Deus? Não há espaço para ele e seu reino. Então, “bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5,3). Eles estão abertos a novas perspectivas, sofrem, choram, mas serão consolados. São injustiçados e por isso têm sede de justiça. Eles não têm poder, são caluniados e perseguidos. Contudo, por estarem abertos a andar conforme os caminhos do Senhor, serão recompensados por Ele. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mt 5,12). Os vencidos serão vencedores.
Absurdo. Uma lógica quase inacreditável. “O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes” (1Cor 1,27). Quem são os fortes, neste caso? Aquelas pessoas que só pensam em acumular bens, os que se vangloriam do poder, os cheios de si, os materialistas, os que somente se dobram à sedução do que é material, racional e sensível. Para estes, até alguns seres humanos são desprezíveis porque não preenchem seu critério material e humano de valor. Entretanto, segundo Paulo, os que são desprezíveis para o mundo terão oportunidade de mostrar seu valor. “O que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são” (1Cor 1,28).
Jesus veio enaltecer novo critério para se valorizar as pessoas. Não enalteceu os ricos, os que têm poder, os bonitos, os bem-sucedidos materialmente ou profissionalmente. Enalteceu a outros. Possuir apenas os predicados da beleza, de ser bem sucedido materialmente, é muito pouco. Jesus valorizou os humildes, os desapegados, os acolhedores. Somos assim? Resta a cada um se avaliar.
Autor: João Batista Nunes Coelho
Fonte: Dom Total