São Pedro e São Paulo expressão da Unidade na Diversidade!
Não é coincidência a liturgia ter colocado a festa de Pedro e Paulo no mesmo dia, mas teologicamente relevante, a começar pela geografia. Quem conhece Roma sabe que a Basílica de São Pedro está no centro da cidade, numa gigantesca praça que vocês terão visto, pelo menos na televisão. Mas a Basílica de São Paulo se chama extra-muros, isto é, ela está fora de um antigo muro que fechava a cidade de Roma. Nas cidades antigas, todos temiam os inimigos e se protegiam construindo altos muros. A Basílica de São Paulo fica fora desse muro, e isso é simbólico.
Pedro, no centro, é o grande missionário do povo judeu. Paulo, fora dos muros, é o grande missionário dos gentios, como nós, que não somos judeus, para simbolizar a Igreja universal, que cuida dos que estão dentro e também dos que estão fora. Pedro simboliza o cuidado interno, e Paulo simboliza o cuidado externo. A Igreja é a soma dos dois. Só Pedro seria pouco, assim como Paulo sozinho também seria pouco. Se tivéssemos apenas Pedro, não pensaríamos naqueles que estão fora, nos índios, nas tribos africanas, em tantos outros que precisam que lhes anunciemos o evangelho.
Interessante, é que os dois também são simbólicos. Geralmente, nós temos ideias erradas a respeito dos santos. Imaginamos que eles são pessoas intocáveis e intocadas, mas se olharmos a vida dos dois, encontraremos coisas interessantes, tanto isolada como conjuntamente. Pedro foi um homem rude, pescador, talvez um microempresário, provavelmente analfabeto, e vai terminar seus dias na capital do império romano, onde o povo culto falava latim e a gente simples falava grego, dois idiomas que ele não conhecia. Esse homem trairá Jesus por três vezes e, outras três vezes confessará o seu amor. Ainda assim, será por Ele escolhido. Ao ouvir Jesus dizer que iria para Jerusalém enfrentar os poderosos, Pedro quer arrancar-lhe essa ideia, mas é chamado de satanás. Ao mesmo tempo que o faz chefe da Igreja, pede que ele se afaste, chamando-o de “divisor”. Paulo foi perseguidor, quase assassino. Se não matou fisicamente, aprovou e participou da morte de Estêvão. Mas, o mais chocante é que, quando ambos já eram apóstolos, Pedro já estava em Jerusalém, Paulo vai lá e se opõe abertamente a ele e o repreende, dizendo-lhe claramente que estava errado. Pedro acolhe-o e muda de opinião.
É bom saber que também nós temos nossas arestas que precisam ser polidas, e que, para isso, precisamos ouvir críticas e aplicá-las em nossas vidas. Por sua vez, Pedro também admoesta Paulo, dizendo que ele escrevia muito difícil – como certos teólogos. Portanto, no início da Igreja, havia muita liberdade para as pessoas se ajudarem, aceitarem ser criticadas. Essa é a belíssima liberdade sobre a qual está construída a nossa Igreja. Também nós só cresceremos se criticarmos e aceitarmos as críticas em sadios enfrentamentos para o crescimento do reino de Deus. Amém.
Pe. Bruno Rodrigues – Orionita.