Mensagem ao povo hindu sugere promoção da “cultura da inclusão”
“Fazer crescer a cultura da inclusão pode ser, justamente, considerada em toda a parte uma das aspirações mais genuínas das pessoas”, afirmou o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso do Vaticano, cardeal Jean-Louis Tauran, em mensagem ao povo hindu por ocasião da festa do Deepavali de 2014, conhecida como o festival das luzes, na qual, de acordo com o costume da religião, as luzes ou lâmpadas significam a vitória do bem sobre o mal dentro de cada ser humano. A mensagem propõe a reflexão sobre o tema “Juntos para promover a cultura da inclusão”. Confira na íntegra:
PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
MENSAGEM AOS HINDUS
PARA A FESTA DO DEEPAVALI 2014
Promover a cultura da inclusão
Queridos amigos hindus!
1. O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso sente-se feliz por vos apresentar os votos por ocasião da festa de Deepavali que, este ano, se celebra a 23 de Outubro. Possa a Luz Transcendente iluminar os vossos corações, as vossas casas e comunidades, e todas as vossas celebrações façam aprofundar o sentido de pertença recíproca nas vossas famílias e nas redondezas, e ainda mais a harmonia e a felicidade, a paz e a prosperidade.
2. Este ano gostaríamos de refletir convosco sobre o tema «Juntos para promover a cultura da inclusão». Face à crescente discriminação, violência e exclusão em todo o mundo, «fazer crescer a cultura da inclusão» pode ser, justamente, considerada em toda a parte uma das aspirações mais genuínas das pessoas.
3. É verdade que a globalização abriu muitas fronteiras inovadoras e ofereceu novas oportunidades de desenvolvimento, entre as quais serviços educativos e de saúde melhores, aumentando a consciência da necessidade de democracia e de justiça social no mundo, a ponto que o nosso planeta se tornou deveras «uma aldeia global», graças também aos modernos meios de comunicação e de transporte. Contudo, deve-se dizer também que a globalização não alcançou a sua finalidade principal, que era integrar as populações locais na comunidade global. Ao contrário, a globalização incidiu notavelmente sobre muitos povos fazendo-lhes perder a própria identidade sociocultural, econômica e política.
4. Os efeitos nocivos da globalização fizeram-se sentir a nível mundial também sobre as comunidades religiosas que estão intimamente relacionadas com as culturas circunstantes. Com efeito, a globalização contribuiu para a fragmentação da sociedade e para fazer crescer em matéria religiosas o relativismo e o sincretismo assim como levou ao individualismo religioso. O fundamentalismo religioso, a violência étnica, tribal e sectária em várias partes do mundo são amplas manifestações do descontentamento, da incerteza e da insegurança, difundidos entre as pessoas, sobretudo entre os pobres e os marginalizados excluídos dos benefícios da globalização.
5. Por conseguinte, as consequências negativas da globalização, como a difusão do materialismo e do consumismo tornaram os indivíduos ainda mais egocêntricos, sedentos de poder e indiferentes em relação aos direitos, às necessidades e aos sofrimentos dos outros. Isto, como diz o Papa Francisco, levou à «“globalização da indiferença” que nos faz “habituar” lentamente ao sofrimento do próximo, fechando-nos em nós mesmos» (Mensagem para o Dia mundial da Paz, 2014). Esta indiferença gera a «cultura da exclusão» (cf.Discurso do Santo Padre Francisco aos membros do Movimento Apostólico Cegos [MAC] e à Pequena Missão para os Surdo-Mudos, 29 de Março de 2014), que nega os direitos dos pobres, dos marginalizados e dos indefesos, assim como as oportunidades e os recursos que ao contrário estão à disposição de outros membros da sociedade. Eles são tratados como insignificantes, irrelevantes, são considerados um peso, supérfluos, podem ser usados e depois deitados fora como objetos. De diversos modos, a exploração das crianças e das mulheres, o abandono dos idosos, dos doentes, dos diversamente hábeis, dos migrantes e dos refugiados, a perseguição das minorias são indicadores evidentes desta cultura da exclusão.
6. Fazer crescer uma cultura da inclusão torna-se portanto uma chamada comum e uma responsabilidade partilhada, que deve ser assumida com urgência. É um projeto que envolve todos os que se preocupam com a saúde e a sobrevivência da família humana aqui na terra e que se deve levar por diante no meio das forças que perpetuam a cultura da exclusão e não obstante elas.
7. Como pessoas radicadas nas nossas respectivas tradições religiosas e com convicções comuns, podemos, hindus e cristãos, unir-nos aos seguidores de outras religiões e às pessoas de boa vontade para promover a cultura da inclusão em vista de uma sociedade justa e pacífica.
Desejamos a todos vós um feliz Deepavali!
Jean-Louis Cardinal Tauran
Presidente
Miguel Ángel Ayuso Guixot, MCCJ
Secretário
Fonte: CNBB