Quando Deus se manifesta colocamo-nos a caminho

Publicado em 03/01/2015 | Categoria: Notícias |


liturgia

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Epifania do Senhor – Ano B

 

Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há de apascentar o meu povo de Israel.» Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exatas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-me para eu ir também prestar-lhe homenagem.» Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho. Mt. 2, 1-12

Magi Christ

 

Era uma vez, em terras pra lá de distantes, umas pessoas que gostavam muito de estudar o céu. Passavam as noites claras reparando nas estrelas e admirando seus movimentos. Um dia notaram a presença de novo astro. Aquele era diferente de todos os outros. Sem dúvidas que a sua chegada indicava algo muito importante. Ao vê-lo, a cada noite, notavam que se movimentava e foi aí que resolveram segui-lo. Quando disseram desse desejo para a gente da cidade muitos, a grande maioria talvez, lhes disseram que eram doidos. O fato é que não deram ouvidos a esses comentários e foram em frente. Armaram uma caravana, com aqueles conterrâneos que também, como eles, viam na aparição um sinal de Deus e se puseram a caminho. Dela participaram homens, mulheres e também várias crianças. Aliás, foram elas que sugeriram os presentes a serem levados: ouro, incenso e mirra. Do dinheiro para adquiri-los havia também as moedinhas que guardavam. Os adultos da romaria ficaram impressionados com a capacidade que os mais jovens mostravam de seguir a Estrela. Como só uns poucos dentre eles, os líderes, foram ter com Herodes, ficou-se com a impressão de que eram eles somente os que buscavam a tal Estrela de Belém, mas aquela caravana especial era bem grande. No caminho difícil sentiam que a Estrela muito os animava. Ela nao deixava que se cansassem e nem tivessem dúvidas sobre quem iriam encontrar lá adiante. Ao vê-los passar as pessoas se perguntavam quem eram aqueles que seguiam tão alegres. A resposta que ouviam é que ali iam os “peregrinos loucos para seguir a Estrela”.

Havia algo de diferente no ar e alguns homens de muita sabedoria o pressentiram. A verdade é que as maravilhas dos céus não permanecem ocultas, para aqueles que estão atentos à presença de Deus entre nós.

Eles sentiram e não ficaram parados. Saíram da sua terra e foram em busca daquilo, que sabiam ser algo extraordinário, que iluminaria e iria gerar alegria, transformando totalmente, não somente as suas vidas, mas também a da humanidade. Deus estava chegando e era necessário se colocar em marcha.

Deus se manifesta para nós. É preciso atenção aos seus sinais, eis que Ele não vem com pompas e circunstâncias, nem anunciado por faixas, anúncios na TV, jogos de luzes, trombetas e tambores dos exércitos. Ele se aproxima de maneira sutil e delicada, e Mateus nos mostra neste domingo o que acontece às pessoas que o sentem chegar.

São sábios, gosto de pensar assim, não porque sejam mais inteligentes que os outros, mas porque reparam nos sinais de Deus e partem ao seu encontro. A cada um de nós, a sua chegada também irá provocar esta reflexão ou, melhor dizendo, discernimento que nada mais é do que o uso da sabedoria, para interpretar os sinais e colocar-se em movimento.

Deus nos vem e quando acontece sua chegada não se consegue permanecer indiferentes e quietos. Ele é tremendamente provocante. Nesse Evangelho podemos observar esta inquietação, através de três movimentos básicos, em todo aquele que consegue observá-lo no coração.

A desinstalação. A sua chegada é geradora de mudança. Tira-nos do lugar em que estamos, move-nos da zona de conforto, à qual estamos acostumados, e leva-nos para outros espaços, independendo do local (próximo ou longe) onde se esteja. Deus é eterno gerador de movimento. Nesse caso vemos homens sábios que partem de lugares distantes para atender o chamado de Deus.

Sentir que Deus chegou e não se colocar em atitude de prontidão para acolhê-lo, é o mesmo que não aceitá-lo. Não se recebe Deus acomodado. Os magos notaram ser aquele um tempo privilegiado e se sentiram convidados para participar dele. Saem então da sua terra e põem-se à caminho, para o encontro maior das suas vidas em Belém. Cabe a cada um se perguntar: Onde é esta “Belém” na qual Deus quer se manifestar para mim?

A segunda intuição que gostaria de refletir com vocês diz respeito à comunidade. Não se busca Deus sozinho. O encontro com Ele, se dará sempre de modo muito pessoal, mas Ele se busca comunitariamente. Não é um mago que vem buscar o Senhor, da mesma maneira que não foi somente um pastor que chegou até Ele. Ao se colocarem no caminho de Jesus, os sábios do Oriente se fazem primeiro comunidade.

É dessa forma que vão até Belém para o encontro com o Senhor das suas vidas. Ao encontrá-lo irão adorá-lo oferecendo a Ele, através dos presentes que trazem, as suas vidas. Aqui também se coloca para nós uma segunda pergunta: Coloco-me a caminho de Deus em comunidade? Ou sigo tateando sozinho tentando achar sua direção?

A terceira percepção é a da luz e da alegria. Os magos seguem uma luz. Deus é constante luz a nos indicar o melhor caminho. A verdade é que a luz de Deus é que impede que a gente se perca e caia no “buraco negro” da solidão, ou escuridão (trata-se da mesma coisa) absoluta.

Deus é luz que vem, mas é preciso atenção, pois que Ela se coloca entre os tantos outros brilhos existentes por aí. É preciso diferenciar a verdadeira Luz daqueles que são simples reflexos. Para ajudar nesta diferenciação é possível usarmos o critério da alegria espiritual.

Ao verem a estrela os magos sentem uma grande alegria. Deus provoca-nos consolações. Quando Ele vem iremos nos sentir, mesmo que em meio a problemas: alegres, corajosos, abertos, animados, verdadeiros, perseverantes, pacíficos, justos, pacientes… Daí que poderemos fazer-nos uma última pergunta a respeito desse Evangelho: Vivemos na alegria da luz, sentimo-nos consolados? Ou estamos em meio às sombras?


Pistas para reflexão:

 

– Onde é esta “Belém” na qual Deus quer se manifestar para mim? 

– Coloco-me a caminho de Deus em comunidade? Ou sigo tateando sozinho tentando achar sua direção?

– Vivemos na alegria da luz, sentimo-nos consolados? Ou estamos em meio às sombras?

 

1ª Leitura – Is. 60, 1- 6

2ª Leitura – Ef. 3,2-3a .5-6

 

 

Fernando Cyrino



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