Deus se faz comunidade de Amor

Publicado em 30/05/2015 | Categoria: Notícias |


liturgiaLiturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra

Santíssima Trindade – Ano B 

Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo. Mt 28,16-20
trintade

Uma conhecida lenda hindu nos conta que um grupo de cegos, ao seguir por uma estrada, se deparou com um elefante. Intrigados com aquele animal que não conheciam, começam a apalpá-lo. O primeiro entra por debaixo dele e, abraçado à pança, diz aos amigos: “já sei. Esse bicho é um barril”. O segundo pega o rabo e de imediato retruca: “que nada, ele é um espanador”. Aquele que segura a tromba já pensa se tratar de uma mangueira e outro, que toca suas orelhas, acha ser ele um grande leque de abano. Abraçado à perna do bicho, outro mais, diz: “todos estão enganados. Estamos diante de um ser semelhante a um coqueiro”.

Ao querer definir Deus corremos o risco de agir como essa turma de cegos. Incapazes de abraçar a imensidão infinita do Amor, terminamos por nos prender a alguns detalhes dele. Tudo nele é fundamental e maravilhoso, o problema é que o vemos por partes. O importante é que nunca seja perdida a clareza de que, por maior que seja a visão que temos de Deus, Ela será sempre mais bela e maior ainda.

Vivemos a festa da Santíssima Trindade, a celebração do grande mistério de Deus. Diante dele tomamos consciência da nossa pequenez e total incapacidade de compreendê-lo. Ao contemplar a grandiosidade de Deus o que temos são pálidas e discretas percepções de alguns “pedacinhos” dele. Só quando estivermos diante da Trindade é que teremos condições de aquilatar a imensidade da maravilha na qual vivemos imersos.

O Amor nunca cabe em si. Ele sempre se expande, tomando todo espaço que encontra à volta. Trata-se aí de um atributo básico e poderá servir de critério para verificar se há Amor. Sempre que alguém estiver amando estará, automaticamente, saindo de si e se desenvolvendo, tornando-se maior do que era. Este crescimento amoroso do ser o levará, inexoravelmente, na direção do outro, fazendo-o crescer também. Só se ama quando se é capaz de encontrar o olhar e o abraço de acolhimento do amado.

No mistério da Trindade podemos observar este transbordamento absoluto de Deus Amor. Diferentemente de nós, que ainda não conseguimos amar totalmente, em Deus o Amor é total. Por causa disto Ele é capaz de se tornar mais Deus ainda, se tornando comunidade. Deus é a comunidade amorosa por excelência, a nos indicar que fora do Amor não há salvação.

Na Trindade as três divinas pessoas se integram e participam plenamente uma na outra. Na linda intuição de Santo Agostinho, o Pai Amante está todo voltado para o Filho Amado e vice versa. O Espírito Santo de Amor envolve os Dois e é por Eles também acolhido. Ao nos aproximar do mistério de Deus que nos cria, estamos diante da realidade da comunidade de Amor. Esta quer nos mostrar que outro mundo, solidário, voltado para o próximo, pacífico e justo é possível.

No mesmo e único Deus encontramos três faces distintas e fecundas. São três olhares de Amor, cada qual com sua especificidade e característica únicas e ao mesmo tempo complementares. O Pai a criar, o Filho a nos salvar, e o Espírito Santo no afã de nos tornar santos.

Esses três verbos: criar, salvar e santificar, diante do mistério de Deus, não devem ser conjugados no tempo passado. O Pai nos cria a cada dia. Dizer que estamos prontos enquanto criaturas e conhecendo-nos o quanto somos frágeis e incompletos, é duvidar da competência do Criador. Somos seres inacabados. Estamos, ou deveríamos estar, em constante construção. O Filho salva-nos a todo instante e o Espírito Santo está a nos santificar constantemente.

É em nome desse Deus criativo e transbordante em Três Pessoas que o Filho, ressuscitado, encoraja os discípulos e os envia. É interessante reparar no Evangelho de Mateus deste domingo, que eles ainda se encontram hesitantes. Sentem-se inseguros, como nós muitas vezes também o experimentamos.

A esses apóstolos e a nós, os discípulos missionários do Século XXI, o Senhor envia para que batizemos em nome da Trindade. Nessa dinâmica de Amor será incompreensível que sintamos medo, eis que Ele e com Ele o Filho e o Espírito, farão em nós sua morada e estarão conosco até o final dos dias.

Pistas para reflexão durante a semana:

– Como sinto a Trindade na minha vida?

– A Trindade tem me feito viver a experiência de comunidade familiar, de amigos, eclesial…?

– o que tem significado ser enviado em nome da Trindade para o mundo?

Fernando Cyrino


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