Família, uma escola

Publicado em 27/05/2015 | Categoria: Notícias |


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Encontro e gratuidade têm que ser aprendidos, vivenciados e exercitados.

 

As crises no atual contexto da sociedade demandam qualificados investimentos em educação. A escola formal é muito importante, pode transformar processos, mas deve ser permanentemente repensada.  Essa atitude reflexiva é necessária justamente para que a dimensão “formal” da escola, seu componente constitutivo, não se torne, no lugar de um processo libertador e alicerce de um novo humanismo, um caminho para a produção de polarizações e radicalismos, que tanto pesam sobre a sociedade. Preocupante também é a quantidade de diplomados sem capacidade para liderar e impulsionar processos, mesmo os mais simples. Trata-se de uma carência que atrasa a superação das muitas crises.

O tratamento inadequado da realidade educacional no país penaliza os estudantes e os processos de ensino. Se a educação é prioridade, torna-se inaceitável a imposição de sacrifícios às instituições educativas e aos seus destinatários: os alunos.  Esses sacrifícios comprometem a formação pessoal e profissional. Por isso, espera-se lucidez política e governamental para que problemas criados por outros não imponham dificuldades aos que são esperança do futuro. No conjunto de instituições educativas, deve-se considerar a família, a primeira escola. Indicações oportunas, que precisam ser refletidas, estão na mensagem do Papa Francisco para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado pela Igreja Católica, no mundo inteiro, neste mês de maio. A mensagem sublinha que a família há de ser compreendida sempre como um ambiente privilegiado do encontro na gratuidade e no amor. Por isso mesmo, é uma escola.

Encontro e gratuidade têm que ser aprendidos, vivenciados e exercitados. Essa capacitação, de caráter espiritual, é indispensável para que a sociedade enfrente suas muitas dificuldades e encontre saídas. Não se pode limitar a compreensão da crise econômica, por exemplo, considerando que sua superação passa apenas por números e taxas. A falta de qualidade humanística, em todas as etapas da história, é o nascedouro de desastres. Trata-se de base para os descompassos,  fonte de prejuízos na sociedade. Investir na formação humanística, que começa no contexto familiar, eis uma saída no processo exigente para prevenir e superar crises.

Por isso, a Igreja coloca a reflexão sobre a família no centro de suas prioridades. Será realizado em outubro deste ano, em Roma, a partir de convocação do Papa Francisco, o Sínodo dos Bispos que aprofundará essa reflexão. A Igreja é consciente do caráter determinante da família na sua missão e na sua constituição. Esta consciência sobre a importância do contexto familiar precisa ser cada vez mais partilhada por todas as instituições da sociedade, particularmente as governamentais.

A aprendizagem singular e insubstituível da comunicação na escola da família abrange a vivência de dinâmicas que qualificam para que se conviva com a diferença. Isso é exigência fundamental na vida contemporânea. É na família que se aprende a língua materna, uma força que desperta a capacidade de percepção e incita o sentido de viver e de fazer algo de bom e belo.  A experiência de se constituir vínculos no contexto familiar é determinante na formação da competência para gerar respostas.  É na família que se inicia também a configuração de uma indispensável espiritualidade, sem a qual não se dá conta de viver adequadamente.

Comprometida a instituição familiar, e consequentemente os processos de comunicação, muitos serão os prejuízos. Basta listar e analisar situações em que atores inadequadamente interagem, manifestam incompetência para uma comunicação capaz de gerar o que é bom e belo. A estrutura básica de cada pessoa – que inclui a capacidade para interagir -, para ser edificada, depende da família, lugar singular do abraço, do apoio, dos olhares comunicativos, do silêncio, do rir e chorar juntos numa experiência de amor entre pessoas.  A família precisa estar mais na pauta cotidiana de instituições e de governos para que a sociedade não sofra grandes perdas e sacrifícios.  O tratamento adequado dessa tão importante instituição é inadiável. Todos devem reconhecê-la como importantíssima escola.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB – Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.

 

 

 

Fonte: Dom Total

 



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