Por que temos tanto medo, se o Senhor segue conosco?

Publicado em 20/06/2015 | Categoria: Notícias |


liturgia

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra

 12º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: ‘Vamos para a outra margem!’ Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: ‘Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?’ Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ O ventou cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: ‘Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?’ Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: ‘Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?‘ Mc. 4,35-41

 

medo

Começa uma trovoada e a criança, até aquele momento brincando feliz na sala, repara estar sozinha no ambiente. A mãe um pouco distante, vela por ela desde a cozinha. O menino não a consegue ver e então chora aflito e cheio de medo. A mãe ouve o choro e volta rápido. Por que você está com medo, filhinho, mamãe está aqui com você…

O Evangelho deste domingo trata desse nosso medo da ausência. O medo que vem porque achamos que Deus está dormindo em nossas vidas. Que Ele se desligou de nós e não se incomoda que morramos. Agimos como a criança da historinha acima. Somente quando o vemos acordado, atento à gente, é que nos acalmamos.

Esta passagem vem nos mostrar quão tênue é a fé dos discípulos.

 

Vejamos mais de perto e reflitamos sobre três pontos dele:

 

 

1 – Ao cair da tarde Jesus convoca os seus amigos a partirem “para a outra margem”. A noite vai se aproximando. As horas que estão chegando serão de trevas. Atavicamente o escuro é o ambiente do medo. O não se ser capaz de enxergar a realidade à volta é gerador de angústia e receios, que podem ser fundados, ou mesmo infundados. Podemos ver a noite como sutil metáfora da hora da morte que se aproxima. A nossa única certeza na vida, costuma-se dizer. Assim fica mais fácil entender o porquê dos discípulos interpelarem Jesus: “não te importas que pereçamos?”. Pode-se enxergar, nessa mesma linha o dormir de Jesus… Passar para a outra margem contém forte interpelação a todos nós, discípulos do Século XXI. Tendemos à zona de conforto. Ao comodismo de fazer e viver aquilo que sabemos, conhecemos. E realizar tais coisas já dominadas não nos desafia. Jesus nos convida ao diferente. Passar à outra margem é ir em direção ao novo, ao diferente, ao desconhecido mesmo. Para se passar à outra margem é necessário se incomodar, se desinstalar e viver a coragem. O contrário do medo do qual Marcos irá, daí por diante, tratar nesse belo trecho do seu Evangelho. É preciso se estar atento para as “nossas margens existenciais”. Para qual margem Jesus está me chamando a caminhar? Não vamos ser racionais e entender tais margens de forma física, locais geográficos. As margens são muito mais amplas e profundas. A quais margens da solidariedade Ele me convoca? Para quais margens do Amor e do cuidado estou sendo convidado? Na vida profissional há margens novas a serem exploradas? Na família, nos que pensam e vivem diferente, em meio aos pobres? A minha comunidade está presa a margens restritas e também precisa “partir”?
2 – Jesus dorme. Em meio aos problemas e dificuldades da vida, podemos avaliar o silêncio de Deus como o seu dormir. Nenhuma manifestação dele somos capazes de perceber. E aí cresce o medo. Achamos ter sido abandonados e podemos mesmo nos desesperar (não conseguir esperar mais, perder toda a esperança). Mas Jesus não foi embora, está presente conosco. É que o jeito de Ele nos falar passa pelo silêncio. Que não confundamos nunca esse silêncio com o dormir do esquecimento e da morte. Deus nunca dorme e muito menos permanece morto. O medo pode nos gerar três atitudes básicas: podemos atacá-lo, fugir, ou nos vermos paralisados. Todas essas três formas de viver o medo são instintivas, existem em nós desde tempos imemoriais, quando nem ainda éramos humanos. É preciso tratar o medo a partir da fé. A fé de que Deus (e um dos seus atributos básicos é de que Ele é Todo Poderoso), é nosso Pai e é bom. Ele não nos abandona jamais.

 

3 – Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem? Cada pedacinho do Evangelho de Marcos quer nos responder a esta questão: Quem é Jesus? Aquele tempo, no qual foi vivenciada pela primeira vez a experiência desse relato, eram momentos carregados, horas bem difíceis para os cristãos.

Havia perseguições (hoje em vários lugares elas ainda ocorrem) e, obviamente, muito medo. Os motivos dos medos mudam, mas não há dúvidas que nos dias de hoje muitos medos sem mantêm. Continuam a nos assombrar. Nessas horas é fundamental que nos perguntemos: Quem é Jesus para mim? Quem é este meu Deus a quem até o mar e a tempestade obedecem?

Tomemos consciência de que esta pergunta somente será plenamente respondida quando passarmos pelo nosso “sono”. A cada momento da vida precisamos ir ampliando esta resposta. Jesus precisa ir crescendo em mim, para que “naquele dia do sono” se possa dizer como Paulo: “já não sou eu quem vivo, Ele que vive em mim”. Será este o momento da grande coragem, aquele em que nos teremos entregue totalmente nos braços do Pai, em meio à maior tempestade. O dia em que chegaremos à vida plena.

Perguntas para reflexão durante a semana:

– De que tenho medo?


– Para qual margem sou chamado por Jesus?

– Quem é Jesus para mim?
 
Fernando Cyrino


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