O profeta não é acolhido em sua terra

Publicado em 04/07/2015 | Categoria: Notícias |


liturgia

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra

14º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Depois, ele partiu dali e foi para a sua pátria, seguido de seus discípulos. Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos o ouviam e, tomados de admiração, diziam: Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito. Mas Jesus disse-lhes: Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa. Não pôde fazer ali milagre algum. Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirava-se ele da desconfiança deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas. Mc 6, 1-6
mesa da palavra                Um homem vindo do meio do povo candidatara-se a alto cargo. Seus conterrâneos passaram a considerá-lo, além de despreparado, pretensioso e o criticavam duramente. Como poderia pleitear aquele lugar sendo um deles e não fazendo parte das elites que historicamente exerciam tal função? As sociedades organizadas em castas costumam chocar. Mas será que somente elas são assim? Um olhar mais de perto sobre as reações costumeiras das pessoas poderá mostrar que também aqui, no meio da gente, não é raro que se tenham criado “sutis castas”. Expressões denotando surpresa por encontrar alguém que haja superado esse tal muro invisível, podem carregar uma delicada, ou mesmo abrutalhada, carga de preconceitos. Tal lugar é só para quem possua determinada cor de pele, é para tal sexo, ou tenha vivido em um específico ambiente e mesmo haja frequentado tais e tais escolas. Recados assim podem estar, sub-repticiamente, sendo passados. Sem dúvidas que ainda há muito preconceito por aí. Notemos como os que são oriundos das cidades consideradas mais chiques e importantes, acabam por herdar essas características do seu lugar de nascimento e de moradia. Em contrapartida, estados, cidades e regiões mais simples e pobres passam, nessa forma enviesada e não cristã de comportamento, a dar a impressão de serem incapazes de gerar gente preparada para assumir grandes responsabilidades. Era assim também nos tempos de Jesus. Havia o centro e a periferia e, como hoje, as pessoas e mesmo as coisas advindas do núcleo central, terminavam sendo mais valorizadas, do que aquelas nascidas ou criadas pelo interior.

O que, ou quem, vinha de Jerusalém, Roma ou de Atenas era mais elegante e considerado. Nada muito diferente de hoje quando se costuma valorizar muito mais, por exemplo, a moda e os comportamentos irradiados desde Paris, Nova York e Rio.

Nazaré era povoado que não possuía nenhuma importância. A terra na qual viveu o nosso Salvador nem é citada no Primeiro Testamento da Bíblia. Simples lugarejo considerado como lugar de passagem para cidades mais importantes. Local onde nem valeria a pena uma parada. Era como se nem merecesse constar dos mapas de então.

Ao verem então voltar à sua terra, tão desconsiderada, aquele homem que conheceram e com quem conviveram desde criança, descreem dele, numa clara demonstração também de baixa autoestima. Não, este nós conhecemos e sabemos quem ele é. É como se dissessem: “não esperem muito da gente. Somos medíocres, afinal somos de Nazaré…”

Mas aquele não era só lugar de gente assim. Naquele povoado sem atrativos viveu sua vida simples e oculta o nosso Salvador. Como deve ter sido grande a decepção de Jesus com o seu povo. Com certeza que doía bastante nele a descrença da sua gente de Nazaré. Jesus sofreu na pele o ditado popular tão conhecido de que “santo de casa não faz milagre”.

É muito complicado ser profeta entre os seus. A vida em comum, as dificuldades e os defeitos compartilhados e conhecidos, fazem com que não se aceite o conhecido como mestre, ou líder. Por isto Jesus irá dizer que não é fácil profetizar em sua própria terra.

Nazaré não aceita que Jesus tenha crescido. Os nazarenos queriam-no tal qual havia partido dali um dia. Mas é bem significativo que Ele volte. No seu retorno há um recado para que não desistamos, mesmo não sendo aceitos, de continuar pregando o Reino entre os mais próximos.

Mas não é só Nazaré que descrê de Jesus. O que viveu em sua terra nada mais foi do que um anúncio daquilo que, algum tempo depois, iria ocorrer no centro do mundo judaico. Em Jerusalém a realidade se fará muito pior. Não será somente a simples descrença que causará dor em nosso Senhor, mas a violência absurda e gratuita da cruz no Calvário que consumará tudo.

Acaso Jesus viesse hoje à nossa cidade – seja ela das mais consideradas, ou alguma dessas mais simples e pouco conhecidas – como iria ser acolhido? Nossa gente teria os ouvidos, braços e corações abertos para recebê-lo? Ou desconfiaríamos daquele homem que vem falar de coisas tão conflitantes em relação ao que se vive modernamente? No meio de nós aconteceriam milagres?

É interessante essa questão dos milagres no Evangelho desse Domingo. Pré-requisito para que aconteçam é crer neles. O povo não acreditou em Jesus e por isto, não pôde observar os prodígios que Ele realizava. Milagre só acontece com quem crê. Para quem não tem fé o maior prodígio terá sempre uma explicação.

Mantenhamos os olhares bem abertos e atentos para perceber e aceitar os profetas que o Senhor continua enviando ao mundo. Pode bem ser que haja alguns desses homens e mulheres de Deus bem próximos de nós. Mais ainda, é capaz de que necessitem do apoio de quem os reconheça nessa sua tão árdua missão.

 

Pistas para reflexão durante a semana:

 

Há em mim ainda preconceitos dos quais preciso me libertar?

– Reconheço profetas entre a minha gente?

– O Senhor tem feito milagres na minha vida?

 

 

Fernando Cyrino


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