Pastor da reconciliação!

Publicado em 23/07/2015 | Categoria: Notícias |


25 Mar 1980 --- Original caption: San Salvador: Nuns attend to the fallen Archbishop Oscar A. Romero minutes after he was assassinated by four gunmen as he said mass at the Divine Providence Hospital's Chapel here. Romero, 63, an outspoken champion of human rights and 1979 Nobel Peace Prize nominee, was hit "in the chest and face and died almost immediately." --- Image by © Bettmann/CORBIS

Romero , arcebispo de San Salvador, foi morto a tiros em 1980 enquanto celebrava a missa . Ele tinha falado contra a repressão pelo exército salvadorenho no início de 1980-1992 a guerra civil do país entre o governo de direita e os rebeldes de esquerda.

 

Por Cardeal Orani João Tempesta*

Aos 23 de maio deste ano, em celebração presidida pelo Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, assistimos à beatificação de Oscar Romero, em São Salvador, na América Central. Naquela alegria que contagiou todos os latino-americanos pela graça do reconhecimento das virtudes heroicas de um grande Pastor, pensei muito nos vários mártires que, na esteira do testemunho do Arcebispo de São Salvador, foram e estão sendo martirizados e que o seu sangue tem irrigado os canteiros de santidade não só no sofrido continente latino-americano, mas em todo o mundo.

Dom Oscar Arnulfo Romero y Galdamez foi uma testemunha da verdade do Evangelho. A sua morte trágica, quando o mesmo tombou no Altar da Eucaristia, nos demonstra que ele foi uma testemunha qualificada do Evangelho, amigo dos pequenos, dos fracos, dos pobres, dos prisioneiros e um autêntico pastor que defendeu a liberdade, promoveu a justiça e conclamou autoridades, forças vivas da sociedade e o povo santo de Deus para construir a cultura da paz em todo o seu país.

A pregação de Dom Romero é atualíssima e muito simples: arrependimento dos seus pecados, particularmente dos pecados sociais e dos pecados contra a vida humana. A sua pregação, longe de ser uma convocação política, é a vivência cotidiana da harmonia dos postulados evangélicos, iluminados pela Doutrina Social da Igreja em comunhão com esta através do Papa. Ele foi encorajado pelos exemplos do Papa Paulo VI e por São João Paulo II.

Naquele momento histórico das décadas de 80 e 90 do século passado, em que a sociedade salvadorenha era marcada pela corrupção generalizada, pela miséria do povo, pela perseguição aos que denunciavam o sistema vigente, pela opressão do povo mais humilde, da concentração de riquezas, uma sociedade dilacerada pelas discórdias, cresceu para os poderosos o “odium fidei” quando se estabeleceu a cultura da opressão e o império nefasto da morte.

O testemunho do sacerdote jesuíta, Padre Rutílio Grande, que viveu o Evangelho no meio dos pobres e O comunicou aos mais humildes, fez germinar no coração do Beato Oscar Romero a fortaleza pastoral em que o seu ministério de Arcebispo primaz era pautado pela defesa da Igreja, e pela defesa dos pobres. Por isso, Romero foi perseguido, seus sacerdotes vilipendiados, com um saldo de 15% do clero autóctone acuado, maltratado, assassinado ou sofrendo algum tipo de crime moral ou contra a sua própria vida.

Dom Oscar Romero anunciou aquilo que a Igreja Católica sempre pregou: compreender nos dias conturbados em que vivemos o mandamento de Deus: “Não matarás”! Ele conclamou a todos, na sua pregação profundamente evangélica, a abandonar os ídolos do poder, da riqueza, da violência e do acúmulo, alertando que havia uma perda paulatina do sentido de que o corpo humano é templo do Espírito Santo.

Qual foi a arma usada por Romero? As armas da fé e do Evangelho. Qual é o centro do testemunho deste mártir? A chamada à conversão e à reconciliação pela fraternidade na Igreja e na sociedade com a educação para a vivência plena do Evangelho, iluminado pela Doutrina Social da Igreja e pela coragem de denunciar os crimes que sangram a sociedade e estabelece o terror em detrimento com a paz.

No exercício de seu ministério episcopal, o Arcebispo denunciou os que queriam perseguir o clero, porque seus padres e o seu Arcebispo estavam caminhando junto com os que sofriam, defendendo os pobres e os últimos, denunciando os abusos da violência generalizada e pregando o Evangelho do amor de Jesus, na construção da fraternidade e na vivência da justiça para que a paz se estabelecesse. Dom Oscar nos ensinou a usar a “objeção de consciência”, nos legou a defesa dos últimos, dos preferidos de Jesus, vivendo a caridade. Afinal, foi a caridade a sua teologia, porque ele pregou que o mundo precisa construir a paz e promover a concórdia, com as suas sábias palavras: “Coragem, é o senhor que comanda”!

Eu sempre costumo dizer: força e coragem. Pela força que vem da Santíssima Trindade e pela coragem testemunhada em honra da fé católica por Dom Romero, a Igreja reconheceu que este Arcebispo foi um defensor da fé: dos fiéis e do seu clero. Dom Romero nos ensina a todos a apaziguar os conflitos nas Terras da Santa Cruz. O legado do Beato Oscar Romero nos compromete com os últimos, nos postos à margem pela sociedade, nos menos favorecidos.

Que São Bento e São Bernardo, que nos ensinaram, como o Beato Oscar Romero, a ver o Cristo e O servir, preferencialmente nos pobres, nos ajudem a trilhar a santidade. Uma santidade que passa pela misericórdia, lembrando sempre o que nos pede o Papa: “in Christo, Misericordiae Vultus”.

*Cardeal Orani João Tempesta é arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).
Fonte: CNBB/ Dom Total


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