O que modificar e potencializar no trabalho da Igreja nas grandes cidades?
Esta é a preocupação do arcebispo de Barcelona, Cardeal Lluís Martínez Sistach, que cumpre agenda no Rio de Janeiro, de 23 a 26 de agosto. A visita atende ao convite do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta.
“Deixem-se questionar sobre o que mudar”, disse o cardeal de Barcelona, na segunda-feira, a 40 bispos brasileiros e assessores, reunidos no Sumaré para o encontro ‘Grandes Cidades: desafios para a unidade e paz’. “O mundo se urbaniza cada dia mais. Dois terços do mundo será área urbana em 2050. A cidade produz uma ambivalência permanente. Oferece infinitas oportunidades, mas também dificuldades”.
Ele apresentou um modelo de desenvolvimento humano, que reflete desintegração do tecido social, o individualismo e competitividade. “As grandes cidades enfrentam questões como a pobreza, a violência e isolamento social, desafios de mobilidade, anonimato e perda de vínculo social, consumo que leva a frustração, desastres ecológicos e degradação do meio ambiente, especulação e corrupção do espaço público”, enumerou. “Desconfiança das instituições públicas e políticas. Fenômenos novos. Movimentos sociais novos em busca de uma identidade”. Neste cenário, ele destacou o papel da família e da religião. “A família é a via de reconstrução do tecido social em tempos de crises”, afirmou. “A religião dá sentido a uma experiência com Deus, que vive na cidade, na alegria e no sofrimento. A missão da Igreja é fazer o homem descobrir a presença de Deus na cidade e valorizar a presença cristã”. Para ele, é preciso ensinar o olhar contemplativo e, em segundo, fazer a análise social, cultural, econômica. “A interpretação teológica da cidade é olhar como Deus vê o mundo. As diferenças da realidade. Espaço de perdição e salvação. Foco cristológico. Cristo é o mistério da encarnação. Igreja segue o mistério de Cristo: encarnar-se”.
O cardeal de Barcelona visitou no domingo (23) as comunidades do Jardim América, zona Norte do Rio.
“São comunidades fecundas na fé. São frutos para a Igreja”, disse. Ele conheceu experiências da Igreja em áreas de extrema pobreza, de violência, de práticas ambientais, de diálogo com a juventude. “Precisamos estar de saída missionária, em postura de proximidade e encontro. Jesus não faz proselitismo mas vê os corações. Encontrar-se com os jovens e com os pobres é uma preocupação pastoral”. Ele incentivou uma forma eclesial de ser atraente para as cidades com espiritualidade e ética. “Ação a favor dos pobres, compromisso ético e a espiritualidade. Homens que falem do evangelho. Igreja como porto de salvação, lugar de encontro com o próprio coração, de portas abertas para todos. Espaços de oração e comunhão mais atraentes. Centros catequéticos descentralizados. Local de silêncio e contemplação”.
Toda essa preocupação segue o ritmo próprio da cidade, pobreza, pluralidade de exigências, novos areópagos, cultura, influência rural, “grupos invisíveis”, que são aqueles que estão fora da média, como por exemplo imigrantes asiáticos e africanos. Este são desconhecidos até para o poder público. Neste cenário, como traçar um plano pastoral? Quais as sugestões práticas para levar a presença de Jesus à cidade?
Evangelização, com uma linguagem adaptada aos dias de hoje.
Para o cardeal Sistach, além da estrutura pastoral, é preciso uma linguagem adaptada aos dias de hoje. “É o amor”, disse. “Alcançar o coração das pessoas. Estar presente. Escutar. Aprender a evangelizar. Descobrir cidades distintas, na mesma cidade. Ser missionário. Acolher”.
Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro