“Educação para transformar sociedade narcisista”
A Rádio Renascença de Portugal publicou nesta segunda-feira (14/9), a entrevista que o Papa concedeu na semana passada à jornalista Aura Miguel, por ocasião da visita dos bispos portugueses ao Vaticano.
Na conversa de mais de 40 minutos, Francisco recordou, inclusive, ter prometido voltar ao Brasil em 2017 para as comemorações dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
O Papa afirmou que a crise de refugiados é somente a “ponta do iceberg” de um problema muito maior.
“Por baixo disso esta a causa, e a causa é um sistema socioeconômico e malvado, injusto, porque dentro de um sistema socioeconômico, dentro de tudo, dentro do mundo, falando do problema ecológico, dentro da sociedade socioeconômica, dentro da política, o centro tem que ser sempre a pessoa. E o sistema socioeconômico dominante hoje em dia tirou a pessoa do centro e colocou o deus dinheiro, é o ídolo da moda”.
A jornalista então recordou a exortação que o Papa havia feito no ano passado no Parlamento Europeu, para que, sobre a crise dos refugiados, se atuasse sobre as causas e não apenas sobre os efeitos.
“Onde as causas são a fome, criar postos de trabalho, investir. Onde a causa é a guerra, buscar a paz, o trabalho pela paz. Hoje em dia o mundo está em guerra, está em guerra contra si mesmo, ou seja, o mundo está em guerra – como eu digo – por entregas, por pedaços, mas também está em guerra contra a terra, porque está destruindo a terra, a nossa casa comum, o ambiente, as calotas polares estão derretendo…”.
Sociedade narcisista
Sobre o individualismo que marca a sociedade atual, na qual se espera uma “felicidade fácil e sem problemas”, o Papa afirmou que a educação é a chave para transformar a “civilização narcisista”.
“A educação aos riscos sensatos. Buscando metas, avançando, não ficando inerte e se olhando no espelho, não. Assim vai acontecer conosco aquilo que aconteceu com Narciso, que de tanto olhar seu reflexo na água, tão lindo, blurp, se afogou”.
Em referência a uma das exortações de seu Magistério para que a Igreja seja uma Igreja em saída, Francisco ofereceu um novo ponto de vista para explicar este chamado.
“Às vezes, nos apropriamos de Jesus e esquecemos que uma Igreja que não é uma Igreja em saída, uma Igreja que não sai, mantém Jesus preso, aprisionado.
– Foi por causa disso que o senhor foi eleito Papa?, perguntou a jornalista portuguesa.
“Isso você deve perguntar ao Espírito Santo (risos)”. (RB)
Fonte: Rádio Vaticano