Teresa D’Ávila, mulher fora do comum
A Igreja recorda os 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus ou Santa Teresa D’Ávila.
Por Geovane Saraiva*
O Papa Francisco, ao falar aos sacerdotes, religiosos e seminaristas na Catedral de Havana (20/09/2015), foi contundente: “Que jamais se cansem de perdoar”. Bem dentro do contexto da figura humana descomunal e atemporal, Teresa de Jesus disse que a pobreza é para os religiosos “o muro e a mãe” contra o mundanismo, usando a expressão: “A riqueza pauperiza”. Quão assaz nossa ação de graças pelo dom da mística de Teresa D’Ávila, totalmente ofertada à Igreja, em uma figura humana marcada pela graça da santidade, tão inteligente quanto capaz, a ponto de reformar e renovar o interior da Igreja, consciente de que esta, embora na sonhada busca pela perfeição, pureza e lisura, é uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, ela buscava incessantemente a vida interior, a qual tão bem descreveu como um castelo de sete moradas, no qual Deus habita no ponto mais elevado. Nesse sentido, assim rezava: “Nada te perturbe. Nada te amedronte. Tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Só Deus basta!”.
A Igreja exulta de alegria e, agradecida ao bom Deus, recorda os 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus ou Santa Teresa D’Ávila. Isso significa, sobretudo, penetrar no mistério indizível da bondade de Deus e dos desígnios da providência divina, no sentido de dizer um muito obrigado pela dádiva de uma lição gratuita de humanismo, sem jamais se esquecer de seus dotes literários, bem como de sua mais alta psicologia e pedagogia, a causar enorme influência no conhecimento e sabedoria da criatura humana. Penso que o Quinto Centenário da reformadora e renovadora seja um tempo de profunda graça interior, no qual a Igreja é chamada a reavivar o dom do fervor e do ardor na vida contemplativa, espiritual, pastoral e no anúncio do Evangelho, pela força de uma figura humana que viveu só para servir, na assertiva do Santo Padre, tão atual quanto apropriada: “Quem não vive para servir, não serve para viver”.
Diante de uma criatura humana, exemplar e referencial descomunal e atemporal como Teresa D’Ávila, um verdadeiro milagre do inefável mistério de Deus, é imprescindível usar a melhor e mais edificante palavra, afinada e perfeita para expressar o significado dessa preparação para a completude de seus 500 anos de existência (1515-2015). Não tendo dúvida alguma tratar-se de uma mulher fortemente imbuída do Espírito de Deus, assim percebo o interior de nossa Irmã D’Ávila: “Como a corça que suspira pelas águas da torrente, assim minha alma suspira por vós, Senhor. Minha alma tem sede do Deus vivo” (cf. Sl 42, 1). Suas belíssimas reflexões, além de encantar, nos fazem pensar que temos tudo o que precisamos à mão, agora mesmo, para realizar o projeto de Deus: “O Senhor não olha tanto a grandeza das nossas obras. Olha mais o amor com que são feitas”. Santa Teresa também nos indaga sobre a superficialidade de nossos sentimentos: “O verdadeiro humilde sempre duvida das próprias virtudes e considera mais seguras as que vê no próximo”.
Como é maravilhoso chegar ao final do Ano Jubilar dos 500 anos do nascimento de Santa Teresa de Jesus dentro de um conjunto de iniciativas de âmbito espiritual e cultural, com exposições, cursos e peregrinações. O Papa Francisco concedeu a graça da sua bênção a todos os fiéis que “verdadeiramente arrependidos e movidos pela caridade” participam dos Rituais Sagrados, agora no encerramento e em datas específicas, a saber: Início do Ano Jubilar, a 15 de outubro de 2014; no dia de Natal, 25 de dezembro; e em 2015, no aniversário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, dia 28 de março; no dia de Páscoa, a 5 de abril, e aos 15 de outubro de 2015.
O Papa Francisco, que decretou um Ano Jubilar por ocasião do Quinto Centenário do nascimento daquela que afirmou: “Senhor, sou uma filha da vossa Igreja e como filha da Igreja Católica quero morrer”, também asseverou em Havana: “O problema das instituições, igrejas ricas, preocupadas, sobretudo, com a economia e a boa gestão, e cujos membros podem ‘terminar mal e de maneira medíocre, caso se esqueçam dos mais pobres, dos mais abandonados, dos mais doentes'”. Teresa D’Ávila, considerada fundadora dos Carmelitas Descalços, juntamente com São João da Cruz, aquele que disse: “No entardecer desta vida, sereis julgados segundo o amor”. Bendito seja Deus por suas santas criaturas!