Um sínodo – um pontificado

Publicado em 02/10/2015 | Categoria: Notícias |


 

Por Dom Luiz Demétrio Valentini*

Neste domingo, 04 de outubro, dia de São Francisco, começa em Roma o aguardado sínodo sobre a família. Ele se prolongará até o dia 25 deste mês. Será seguido de perto, não só pela Igreja Católica, mas por muita gente que intuiu que este sínodo não se limitará a aprofundar um assunto, mas servirá de referência para a definição do pontificado do Papa Francisco.

De fato, vai ficando cada vez mais clara a estratégia do Papa. Com a realização de dois sínodos, um em seguida ao outro, as atenções são direcionadas para um assunto que em si mesmo é importante, mas que sobretudo serve de termômetro para medir a verdadeira postura da Igreja diante dos problemas que a humanidade vive hoje. 

Neste sentido, a família é a realidade mais consistente que simboliza a humanidade inteira. Isto permite a afirmação mais categórica e mais abrangente do mistério salvífico que somos chamados a professar. 

Se a realidade da família representa bem a complexa existência humana, podemos fazer a grande afirmação que resume nossa convicção cristã, e nos coloca numa perspectiva ampla e inesgotável: Deus se compadeceu da família humana, e resolveu redimi-la, enviando-nos o seu Filho Único, que desencadeou sua ação salvadora começando por assumir uma família, e se inserindo através dela no contexto concreto da humanidade. 

Assim, se buscássemos uma realidade representativa de toda a humanidade, não precisaríamos titubear: olhemos para a família, e nela iremos encontrar os desafios que a trajetória humana nos apresenta. 

Esta prioridade que o Papa Francisco vai dando à família, não é aleatória. Vai emergindo hoje, em toda a sociedade, uma salutar preocupação pela situação da família. Talvez por ver quanto se tornou adverso hoje o ambiente para uma vivência familiar das pessoas, e quantos atropelos a família precisa enfrentar no contexto social e cultural de hoje. 

Em todo o caso, concordamos facilmente que é dever do Papa sair em defesa da família, como ele vem fazendo de maneira exímia. 

O que nem todos concordam é com a postura que o Papa Francisco propõe para uma ação concreta em defesa das famílias. Pois a insistência do Papa em abordar a questão familiar, tem por finalidade encontrar ações concretas que possam servir de apoio à família em meio aos problemas que hoje ela enfrenta. Sua preocupação, portanto, é de ordem pastoral. Consiste em encontrar meios concretos de apoiar as famílias, para fortalecer uma verdadeira “pastoral familiar”. 

Neste breve tempo de pontificado, com seus gestos e suas palavras, o Papa Francisco conseguiu assinalar com muita clareza uma insistência que já se constituiu na marca definitiva do seu pontificado. Ele propõe a misericórdia como fonte inspiradora de toda a atitude da Igreja diante da família, e como inspiração do relacionamento cotidiano com as pessoas. 

Neste sentido, é muito significativa a decisão do Papa em convocar um “jubileu extraordinário da misericórdia”, a se iniciar justo no dia em que a Igreja conclui a celebração dos 50 anos do encerramento do Concílio, no dia 08 de dezembro. Como a dizer que, agora, o caminho concreto para colocar em prática a renovação eclesial proposta pelo Concílio, será a atitude de misericórdia, pela qual se torna possível superar os impasses existenciais do convívio humano.

O Pontificado do Papa Francisco ficará na história com a marca registrada da misericórdia.  

*Dom Luiz Demétrio Valentini é bispo de Jales (SP).

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Por Cardeal Odilo Pedro Scherer*

No domingo, 4 de outubro, o Papa Francisco celebrará a abertura da 14ª Assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos. Convido o leitor a me acompanhar, neste artigo, para clarear algumas ideias sobre o Sínodo e para acompanhar com mais proveito os trabalhos dessa importante reunião eclesial.

Afinal, o que é o Sínodo dos Bispos? É um grande organismo da Igreja Católica, instituído há 50 anos pelo Papa Paulo VI, no final do Concílio Vaticano II. O Sínodo devia continuar, de alguma forma, a bela experiência de comunhão e participação de todos os bispos, com o Papa, na responsabilidade pela vida e a missão da Igreja toda. Paulo VI dispôs que o Sínodo retomasse, de tempos em tempos, os grandes temas do Concílio e atualizasse suas reflexões; assim, o próprio Papa daria novas orientações sobre esses temas, contando com a participação do episcopado do mundo inteiro.

Um Concílio não poderia ser facilmente reunido a cada poucos anos, pois precisaria reunir os bispos do mundo inteiro; mas um Sínodo, com menos participantes, pode ser reunido com certa frequência, para refletir sobre as grandes questões que interessam a vida e a missão da Igreja. O Sínodo tem assembleias ordinárias a cada 3 anos; de vez em quando, acontece alguma assembleia extraordinária, como no ano passado (2014).

O Sínodo é um organismo consultivo, a não ser que o Papa lhe conceda competência decisória em alguma matéria específica. As assembleias do Sínodo recolhem uma ampla reflexão e oferecem indicações ao Papa sobre os temas em pauta. O Sucessor de Pedro, depois, emite um documento, chamado “Exortação Apostólica Pós-Sinodal”; nele, o Papa se baseia nas reflexões do Sínodo; mas pode ir além delas, com sua reflexão pessoal, dando diretrizes e normas para a vida da Igreja em referência à questão tratada.

Participam das assembleias do Sínodo, geralmente, mais de 300 pessoas, sobretudo bispos, representando as Conferências Episcopais de todo o mundo e escolhidos por seus pares para representá-los. Mas um certo número de bispos participantes também são escolhidos pelo próprio Papa, conforme previsto no Regulamento do Sínodo. Além dos bispos, há outras pessoas convidadas, de acordo com o tema; há sempre vários teólogos, peritos no tema, e também convidados de Igrejas cristãs não-católicas.

A assembleia do Sínodo é convocada e presidida pelo Papa; ele, no entanto, não coordena pessoalmente os trabalhos, mas confia esta tarefa a presidentes delegados, que serão 4 nesta 14ª. Assembleia; entre eles, também estará o Cardeal de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis. Papel importante desempenham na assembleia o Relator do Sínodo e o Secretário Especial. O Papa está presente em quase todas as reuniões, que acontecem durante 3 semanas, pela manhã e à tarde. Mas ele ouve muito e fala pouco; geralmente, só fala brevemente na abertura e na conclusão. O Papa convoca o Sínodo, justamente, para ouvir a Igreja, através dos participantes da assembleia sinodal. Depois, ele fala através da Exortação Apostólica pós-sinodal.

Durante as três semanas de assembleia, os participantes apresentam suas reflexões, em breves falas, que também entregam por escrito; todos fazem o exercício da escuta, que pode ser cansativa mas é muito enriquecedora. Em seguida, há o momento de trabalhos em grupo, de acordo com as 5 línguas usadas na assembleia (italiano, inglês, francês, alemão e espanhol); os grupos têm a tarefa de recolher as reflexões mais destacadas e convergentes; e também de oferecer indicações para possíveis encaminhamentos práticos, a partir dos consensos que vão sendo formados. A missão do Sínodo, de fato, é a busca da comunhão e de caminhos comuns para a vida e a missão da Igreja.

O tema da 14ª assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos é, novamente, a família: “vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. A Igreja considera que a família merece um lugar destacado nas preocupações dela mesma, mas também dos governos e responsáveis pela vida dos povos. Resta agora acompanhar a assembleia do Sínodo e, depois, acolher as orientações que o Papa Francisco dará a toda a Igreja e à humanidade sobre este tema.

*Cardeal Odilo Pedro Scherer é arcebispo de São Paulo (SP).
 
Fonte: CNBB 


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