Sínodo sobre a família 2015
Depois de 3 semanas de trabalhos no Vaticano, chegou ao fim o Sínodo dos Bispos sobre a “Vocação e a Missão da Família na Igreja e na Sociedade Contemporânea”. Na conclusão do encontro, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro uma celebração eucarística, com a presença dos padres sinodais.
A primeira leitura do dia apresenta o profeta Jeremias que, em pleno desastre nacional, anuncia que “o Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel”. Já o Evangelho deste domingo (25/10) apresenta o episódio do cego Bartimeu.
Em sua homilia, Francisco relaciona as duas passagens: “assim como o povo de Israel foi libertado graças à paternidade de Deus, Bartimeu foi libertado graças à compaixão de Jesus.” Jesus deixa-se comover e responde ao grito de Bartimeu:
“Jesus acaba de sair de Jericó. Mas Ele, apesar de ter apenas iniciado o caminho mais importante, o caminho para Jerusalém, detém-Se ainda para responder ao grito de Bartimeu. Deixa-Se comover pelo seu pedido, interessa-Se pela sua situação. Não Se contenta em dar-lhe uma esmola, mas quer encontrá-lo pessoalmente. Não lhe dá instruções nem respostas, mas faz uma pergunta: ‘Que queres que te faça?’ (Mc 10, 51). Com esta pergunta feita ‘face a face’, direta mas respeitosa, Jesus manifesta que quer escutar as nossas necessidades”, explicou.
A este ponto, o Pontífice fez uma observação ressaltando um “detalhe interessante”: Jesus pede aos seus discípulos que chamem Bartimeu e estes dirigem-se ao cego usando duas palavras, que só Jesus utiliza no resto do Evangelho: ‘coragem’ e ‘levanta-te’ – palavras de misericórdia, salientou o Papa.
“A isto são chamados os discípulos de Jesus, também hoje, especialmente hoje: pôr o homem em contato com a Misericórdia compassiva que salva. Quando o grito da humanidade se torna, como o de Bartimeu, ainda mais forte, não há outra resposta senão adotar as palavras de Jesus e, sobretudo, imitar o seu coração. As situações de miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo de misericórdia!”.
Prosseguindo, o Papa lembrou que há algumas tentações para quem segue Jesus e o Evangelho evidencia pelo menos duas. A primeira é viver uma “espiritualidade de miragem”, não parar, ser surdo, “estarmos com Jesus” mas “não sermos como Jesus”, estar no seu grupo mas viver longe do seu coração:
“Podemos falar Dele e trabalhar para Ele, mas viver longe do seu coração, que Se inclina para quem está ferido. Esta é a tentação duma “espiritualidade da miragem”: caminhar através dos desertos da humanidade não vendo aquilo que realmente existe, mas o que nós gostaríamos de ver; construir visões do mundo sem aceitar aquilo que o Senhor nos coloca diante dos olhos. Uma fé que não sabe se radicar na vida das pessoas permanece árida e, em vez de oásis, cria outros desertos”.
Há uma segunda tentação – assegurou o Papa – é a de cair numa “fé de tabela”.
“Caminhar com o povo de Deus, mas tendo já a nossa tabela de marcha, onde tudo está previsto: sabemos aonde ir e quanto tempo gastar; todos devem respeitar os nossos ritmos e qualquer inconveniente nos perturba. Corremos o risco de nos tornarmos como “muitos” do Evangelho que perderam a paciência e repreenderam Bartimeu. O risco de excluir quem incomoda ou não está à altura, enquanto Jesus quer incluir, sobretudo quem está relegado para a margem e grita por Ele”.
Concluindo a homilia, o Papa lembrou que Bartimeu pôs-se a seguir Jesus ao longo da estrada. Não só recuperou a vista, mas se uniu à comunidade daqueles que caminhavam com Jesus. Francisco agradeceu os padres sinodais e os convidou a continuarem a percorrer o caminho que o Senhor deseja sem se deixarem ofuscar pelo pessimismo e pelo pecado. (CM)
Sínodo: Bispos propõem discernimento em casos difíceis
Com a autorização do Papa, foi publicado na noite de sábado (24/10) o Relatório Final do XIV Sínodo ordinário sobre a Família. Composto de 94 parágrafos, votados singularmente, o documento foi aprovado por maioria de 2/3, ou seja, sempre com o mínimo de 177 votos. Os padres sinodais presentes eram 265.
Segundo Padre Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, apenas dois parágrafos obtiveram a maioria com margem limitada e são os que se referem a situações difíceis, como a abordagem pastoral às famílias feridas ou em situação irregular do ponto de vista canônico e disciplinar: convivências, casamentos civis, divorciados recasados e o caminho para se aproximar pastoralmente destes fiéis.
Indissolubilidade matrimonial
O Relatório define a doutrina da indissolubilidade do matrimônio sacramental como uma verdade fundada em Cristo mas ressalva que verdade e misericórdia convergem em Cristo e, portanto, convida ao acolhimento das famílias feridas. Os padres sinodais reiteram que os divorciados recasados não são excomungados e reafirmam que os pastores devem usar o discernimento para analisar as situações familiares mais complexas. O ponto 84 explica que a participação nas comunidades dos casais em segunda união pode se expressar em diferentes serviços: “Deve-se discernir quais formas de exclusão atualmente praticadas nos âmbitos litúrgico, pastoral, educativo e institucional podem ser superadas”.
Discernimento
À situação específica dos casais em segunda união, o ponto 86 do documento faz referência a um percurso de acompanhamento e de discernimento espiritual com um sacerdote, pois a ninguém pode ser negada a misericórdia de Deus. Neste sentido, “para favorecer e aumentar a participação destes fiéis na vida da Igreja, devem ser asseguradas as condições de humildade, discrição, amor à Igreja e a seu ensinamento, na busca sincera da vontade de Deus e no desejo de dar uma resposta a ela”.
Em relação ao crescente fenômeno dos casais que convivem antes de se casar ou depois de um matrimônio sacramental, é uma situação que deve ser enfrentada de maneira construtiva e vista como uma oportunidade de conversão para a plenitude do matrimônio e da família, à luz do Evangelho.
Pessoas homossexuais e uniões homossexuais
Pessoas homossexuais não podem ser discriminadas, mas a Igreja é contrária às uniões entre pessoas do mesmo sexo. O Sínodo julga também inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões neste campo e que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras aos países pobres à introdução do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo.
Alguns parágrafos abrangem questões dedicadas aos migrantes, refugiados e perseguidos cujas famílias são desagregadas e podem ser vítimas do tráfico de pessoas. Os bispos invocam o acolhimento ressaltando os seus direitos e deveres nos países que os hospedam.
Valorizar a mulher, tutelar crianças e idosos
Os padres sinodais condenaram a discriminação contra mulheres em todo o mundo, incluindo a penalização da maternidade. Em relação à violência, ressaltam que “a exploração das mulheres e a violência exercida sobre o seu corpo estão muitas vezes unidas ao aborto e à esterilização forçada”. Pede-se também uma maior valorização da responsabilidade feminina na Igreja, com intervenção nos processos de decisão, participação no governo de algumas instituições e envolvimento na formação do clero.
A respeito da reciprocidade e na responsabilidade comum dos cônjuges na vida familiar, afirma-se que “o crescente compromisso profissional das mulheres fora de casa não encontrou uma adequada compensação num maior empenho dos homens no ambiente doméstico”.
Sobre as crianças, o documento entregue ao Papa ressalta a beleza da adoção e do acolhimento temporário, que “reconstroem relações familiares rompidas” e menciona também os viúvos, os portadores de deficiência, os idosos e os avós, que permitem a transmissão da fé nas famílias e devem ser protegidos da cultura do descarte. Também as pessoas não casadas são lembradas por seu engajamento na Igreja e na sociedade.
Fanatismo, individualismo, pobreza, precariedade no trabalho
Como sombras dos tempos atuais, o Sínodo cita o fanatismo político-religioso hostil ao cristianismo, o crescente individualismo, a ideologia ‘gender’, os conflitos, perseguições, a pobreza, a precariedade no trabalho, a corrupção, os problemas econômicos que excluem famílias da educação e da cultura, a globalização da indiferença, a pornografia e a queda da natalidade.
Preparação ao matrimônio
O documento final reúne as propostas para reforçar a preparação ao matrimônio, principalmente dos jovens que hoje têm receio de se vincular. É recomendada uma formação adequada à afetividade, seguindo as virtudes da castidade e do dom de si. Outra relação mencionada no texto é entre a vocação à família e a vocação à vida consagrada. São também fundamentais a educação à sexualidade e a corporeidade e a promoção da paternidade responsável.
Família, porto seguro
Enfim, o a Relatório sublinha a beleza da família, Igreja doméstica baseada no casamento entre homem e mulher, porto seguro dos sentimentos mais profundos, único ponto de conexão numa época fragmentada, parte integrante da ecologia humana. Deve ser protegida, apoiada e encorajada.
Pedido ao Papa um documento sobre a família
O documento se encerra com o pedido dos Padres Sinodais ao Papa de um documento sobre a família, indicando a perspectiva que ele deseja dar neste caminho. (CM)
Relatório final terá menção ao meio ambiente
Após as mais de mil emendas propostas ao Relatório Final do Sínodo sobre a Família, os padres sinodais se preparam para a aprovação do texto, ponto por ponto, neste sábado (24/10). Este documento conclusivo, que servirá como base para a eventual Exortação que o Papa deve escrever, trará as conclusões da Assembleia sobre os temas discutidos nas últimas três semanas. Com satisfação, Dom Sérgio Eduardo Castriani, arcebispo metropolitano de Manaus, adianta à RV: também haverá uma menção específica no Relatório Final do Sínodo sobre o meio ambiente. Ouça, clicando aqui:
A beleza da família
“Em primeiro lugar, o Sínodo será um grande reforço da Pastoral Familiar. A Igreja proclama de novo a beleza do sacramento do matrimônio com tudo o que ela entende sobre o matrimônio: a abertura à vida, a fidelidade, a indissolubilidade: a própria celebração, a celebração do sacramento e o acompanhamento dos casais. Depois também a espiritualidade da família: a Palavra de Deus, a Eucaristia, e uma grande misericórdia. O Sínodo está sob o signo da misericórdia, a compreensão daqueles que não vivem o sacramento do matrimônio e das famílias que embora não tenham feito este sacramento, são famílias, como as mono-parentais e as de segunda união. Então devemos fazer todo o possível para integrá-los, para que sejam aceitos e bem-recebidos na Igreja, a fim de que vivam a comunhão eclesial”.
Abertura e acolhimento
“Haverá abertura para tudo o que é possível… abertura máxima e acolhimento total. Por exemplo, para que os divorciados e recasados possam participar da liturgia, dos conselhos paroquiais, das pastorais… há tanta coisa que pode ser feita. Em relação à comunhão sacramental, acho que isso toca pontos muito delicados… Quando há um vínculo sacramental, dificilmente se pode dissolver. Mas tivemos já a iniciativa do Papa de facilitar a declaração de nulidade… já um grande passo foi dado”.
Seriedade
“O que mais me marcou foi a grande seriedade do Sínodo. Os bispos discutiram a fundo as questões. Claro, fomos muito marcados pela situação de violência no mundo, no Oriente Médio, pela situação da cultura pós-moderna. Foi tudo visto com muita seriedade e muita abertura. Acho que os bispos são pastores, querem o rebanho reunido, acompanhado. Querem que as pessoas vivam felizes, realizadas. Outra questão muito importante foi a realização pessoal no matrimônio. A família é um lugar de realização pessoal, de felicidade, aonde a pessoa se realiza. O Sínodo é uma tentativa de propiciar isso: achar caminhos para que as pessoas se realizem na vida familiar, para que a vida familiar seja este ‘porto seguro’ para onde voltar, depois do trabalho, das dificuldades. A palavra é essa mesmo. É importante ter isso; quem não tem sabe o que significa não ter este ‘porto seguro’”.
Amazônia
“No texto, consta – não posso dar os detalhes – a questão do meio ambiente. Apareceu no texto final um número que fala da família e do meio ambiente, uma questão importante também para nós na Amazônia, em especial. A família como educadora da fé e do cuidado da Criação. Na família aprendemos a cuidar da criação, dos outros; a ter uma vida sóbria, de partilha e de justiça. Fiquei muito feliz em ver no texto final aparecer isto. Espero que seja votado por unanimidade”. (CM)
No portal de informação dedicado inteiramente à Assembleia sinodal synod15.vatican.va os conteúdos estão disponíveis em seis línguas, entre as quais o português.
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PAPA ANUNCIA A INSTITUIÇÃO DE UM NOVO DICASTÉRIO
Na tarde da quinta-feira (22/10), no início da 15ª Congregação Geral do Sínodo, o Papa tomou a palavra e fez o seguinte anúncio:
“Decidi instituir um novo Dicastério com competência em relação aos leigos, a família e a vida, que substituirá o Pontifício Conselho para os Leigos e o Pontifício Conselho para a Família, e ao qual será anexada a Pontifícia Academia para a Vida”.
“A esse propósito, constituí um comissão para tal que providenciará a redação de um texto que determine canonicamente as competências do novo Dicastério, e que será submetido à discussão do Conselho de Cardeais, que se realizará no mês de dezembro próximo”. (RL)
O Sínodo é uma viagem que continuará
Quinta-feira, antepenúltimo dia de atividades do Sínodo sobre a família, nesta última fase em que se trabalha a redação do Relatório final, preparado pela Comissão de dez membros, para tal nomeada pelo Papa. Na parte da tarde, na Assembleia, a apresentação do esboço do documento aos Padres sinodais.
Conduzida pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, a coletiva do dia teve como convidados o arcebispo de Bombay (Índia) e membro da Comissão, Cardeal Oswald Gracias; o bispo de Tonga (Oceania), Cardeal Patita Mafi; e o arcebispo de Los Angeles (EUA), Dom José Horacio Gómez.
“A Comissão trabalhou intensamente para completar o seu trabalho”: com essas palavras, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Lombardi, abriu a coletiva desta quinta-feira, seguido do Cardeal Gracias, o qual disse que o Sínodo foi uma experiência espiritual para entender como ajudar as famílias a tornar-se melhor e a encontrar soluções às suas dificuldades, graças ao cotejamento entre opiniões, pontos de vista e diferentes situações culturais.
Nessa ótica, o purpurado indiano deteve-se sobre o tema da “salutar descentralização”, explicando que esta implica que os bispos devem ser formados a nível teológico, moral e canônico, para compreender as diferentes abordagens necessárias para enfrentar os problemas específicos de cada país.
“O Santo Padre veio agradecer-nos pelo nosso trabalho na Comissão, não ficou para a discussão, mas nos falou sobre a importância da família” – acrescentou o purpurado.
Em seguida, o arcebispo de Bombay se deteve sobre o método de trabalho da Comissão: os especialistas fazem uma avaliação das mais de 700 emendas apresentadas para o documento final, buscando escolher as mais representativas, e depois a Comissão decide quais delas inserir no texto final, de modo que dele possa sair uma mensagem coerente.
Neste momento, ainda na fase de esboço, afirmou o Cardeal Gracias, o Relatório consta de aproximadamente cem páginas, aprovadas por unanimidade pela Comissão. Na abertura, talvez, seja inserido um preâmbulo, a pedido de alguns Círculos menores.
Na parte da tarde desta quinta-feira, a apresentação do esboço do documento aos Padres sinodais, a ser discutido na manhã de sexta-feira. As modificações solicitadas deverão ser feitas até as 14h desta sexta-feira, de forma escrita.
Ainda na sexta-feira à tarde a Comissão reelaborará o texto, baseado nas modificações. No sábado pela manhã o mesmo será lido na Sala do Sínodo em sua forma definitiva; já na parte da tarde o texto será votado parágrafo por parágrafo. Depois, caberá ao Papa estabelecer se publicá-lo ou não.
Por sua vez, o Cardeal Mafi ressaltou: hoje, o mundo globalizado deve ser visto em todas as suas interdependências e esse aspecto deve ser avaliado atentamente.
Trabalhamos no Sínodo com coração aberto, sempre buscando fazer com que se sentisse o apoio da Igreja à família. Em todo caso, o Sínodo é uma viagem que continuará.
Quanto aos desafios dos núcleos familiares em seu país (Reino de Tonga), o purpurado evidenciou a dificuldade dos Estados insulares, ainda desprovidos de instituições fortes, e as transformações que o individualismo, de matriz ocidental, estão levando para a família alargada. A globalização é uma bênção, disse, mas também um desafio, ponderou.
Já o arcebispo de Los Angeles, Dom Gómez, deteve-se sobre o tema da migração, muito presente no Sínodo: nos EUA existem 11 milhões de imigrados irregulares, explicou, e se trata de pessoas que fazem parte da nossa família e que devem ser ajudadas.
O prelado destacou como sendo central também o tema da unidade: nos EUA é uma questão muito presente, e o Sínodo deve lançar uma mensagem sobre isso para demonstrar que a família é o instituto com o qual se pode sempre contar.
A discussão sinodal tratou também da importância do respeito pela mulher e da paridade de direitos e responsabilidades, porque – afirmou o arcebispo – “todos fomos criados iguais e somos todos filhos de Deus”. Dom Gómez fez votos de que o Sínodo possa ajudar as pessoas a viver a fé de modo mais profundo.
Por fim, respondendo a uma pergunta da imprensa sobre a falsa notícia de uma doença do Papa, os Padres sinodais presentes na coletiva afirmaram: ela não teve nenhum efeito sobre a nossa atividade, continuamos trabalhando em espírito de sinodalidade. (RL)
Francisco: Sínodo reitere com Wojtyla valor indissolúvel do matrimônio
No final da Audiência Geral, desta quarta-feira (21/10), o Papa Francisco saudou os peregrinos poloneses, recordando que nesta quinta-feira (22/10) a Igreja celebra a memória litúrgica de São João Paulo II. “É o Papa da família”, disse Francisco.
“Sejam seus bons seguidores no zelo por suas famílias e por todas as famílias, especialmente aquelas que vivem no desconforto espiritual ou material. A fidelidade ao amor professado, às promessas feitas e aos compromissos que provêm da responsabilidade, sejam a sua força. Por intercessão de São João Paulo II rezamos para que o Sínodo dos Bispos, que está para se concluir, renove em toda a Igreja o sentido do valor indissolúvel do matrimônio e da família saudável, baseada no amor recíproco entre o homem e a mulher, e na graça divina.”
O Papa Francisco falou de maneira especial aos jovens, aos doentes e aos recém-casados, sempre na esteira de São João Paulo II:
“Queridos jovens, que o testemunho de vida de São João Paulo II seja de exemplo para o seu caminho; queridos doentes, levem com alegria a cruz do sofrimento como ele nos ensinou com o seu exemplo; e vocês, queridos recém-casados, peçam a sua intercessão para que em sua nova família nunca falte o amor”. (MJ)
Família não é somente um desafio, mas oportunidade para ser feliz
Concluiu-se na manhã desta terça-feira, no Sínodo dos Bispos sobre a família, o trabalho dos Círculos menores sobre a terceira e última parte do Instrumentum laboris, dedicado ao tema “A missão da família hoje”.
Na parte da tarde, a apresentação, aos Padres sinodais, dos Relatórios dos 13 grupos linguísticos e, esta quarta-feira, a publicação destes.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, conduziu a coletiva do dia sobre os trabalhos sinodais, tendo três cardeais como convidados: o espanhol Lluís Martínez Sistach (arcebispo de Barcelona); o sul-africano Wilfrid Fox Napier (arcebispo de Durban); e o mexicano Alberto Suárez Inda (arcebispo de Morelia).
A família não é somente um desafio, mas também e, sobretudo, uma oportunidade para ser felizes: disse o Card. Sistach reiterando que a preparação para o matrimônio, quer remota, quer imediata, é fundamental para evitar separações e divórcios.
Em seguida, o purpurado deteve-se sobre o Motu proprio do Papa Francisco acerca da reforma dos processos de nulidade matrimonial e reiterou tratar-se de uma reforma em harmonia com a misericórdia da Igreja, mas à luz da indissolubilidade.
Desse modo, os casais que experimentaram um falimento podem refazer sua vida, de cabeça erguida, diante de Deus e da Igreja.
Daí, o apelo do purpurado espanhol a fim de que seja incrementada a gratuidade de tais processos. Na eventualidade de não ser possível encontrar a verdade objetiva e imediata, observou o Cardeal, o processo breve torna-se ordinário.
“Nem todos os Tribunais eclesiásticos das dioceses do mundo dispõem de pessoas adequadamente preparadas” no setor, concluiu o arcebispo de Barcelona, e, portanto, o desafio se encontra também nesse campo.
A família constitui a base da sociedade, é sua célula fundamental, reiterou, por sua vez, o Cardeal Suárez Inda, fazendo votos de que todas as instituições atuem em defesa da família. Em seguida, o purpurado mexicano deteve-se sobre o drama dos migrantes, cuja situação cria muitas dificuldades às famílias não somente por causa da distância geográfica, mas também pelo aspecto normativo que por vezes impede a reunificação familiar.
A esse propósito, o arcebispo de Morelia agradeceu aos bispos dos EUA pelo grande trabalho de acolhimento que fazem com os migrantes mexicanos.
Outra chaga que atinge as famílias é a da criminalidade organizada e da globalização que muitas vezes deixa os jovens sozinhos, no processo educacional, ressaltou o purpurado.
Em seguida, em relação aos processos de nulidade matrimonial, afirmou: “Nós, bispos, temos agora uma maior responsabilidade, o Papa reconhece-nos como juízes misericordiosos a nível diocesano e, portanto, devemos ser testemunhas da Igreja, mãe de ternura”.
Por fim, respondendo à pergunta de um jornalista a propósito de uma possível viagem do Papa ao México, o Cardeal Suárez afirmou:
“Sem dúvida, a visita do Papa é um motivo de imensa alegria.” As datas ainda não foram estabelecidas, mas certamente será uma viagem centralizada nos temas da reconciliação e da paz.
Seguramente, continuou o purpurado, o Santo Padre irá ao Santuário de Guadalupe e, talvez, tenha a oportunidade de visitar alguma casa de detenção e de encontrar os jovens, para dar esperança ao país.
Depois foi dado espaço à África, com a reflexão do Cardeal Napier:
“Os bispos africanos trouxeram uma lufada de otimismo ao Sínodo”, a exemplo de Deus, mas também do Papa Francisco, afirmou o purpurado, que em seguida voltou seu olhar para os leigos, sobretudo para as famílias felizes.
“São eles – disse – que de certo modo indicam ao Sínodo a direção a ser tomada. É importante, portanto, concentrar-se na vocação e missão da família na Igreja de hoje e acompanhar os cônjuges, tanto antes quanto depois do matrimônio, porque se reforma a Igreja reformando a família, que constitui sua base.
Por fim, interpelado pela imprensa sobre a carta enviada por alguns cardeais ao Papa, o purpurado sul-africano reiterou: era uma missiva reservada ao Pontífice e estava muito no espírito daquilo que ele disse, ou seja, falar com sinceridade e ouvir com humildade.
Em todo caso, concluiu o arcebispo de Durban, trabalhando junto no Sínodo, nós, bispos, reencontramos o espírito de colegialidade, sempre buscando fazer o melhor da Igreja. (RL)
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Entrevista exclusiva a Dom Odilo sobre o Sínodo
Desde o início do Sínodo sobre a família, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer apresenta, por meio da Rádio Vaticano, os trabalhos que são realizados no âmbito da 14ª Assembleia geral ordinária do Sínodo, sobre o tema: “a vocação e a missão da família na Igreja e na sociedade contemporânea”. A uma semana da conclusão do Sínodo, a emissora do Papa dirigiu a Dom Odilo algumas perguntas sobre algumas questões abordadas durante as Congregações gerais e os Círculos Menores.
RV – Por que realizar um Sínodo para tratar de um tema tão vasto e de difícil convergência como é a família? Não seria mais fácil uma posição do Papa a respeito em uma Carta Apostólica ou uma Encíclica?
Dom Odilo Scherer – A palavra do Papa sobre esse tema virá, a seu tempo. Mas o próprio Papa, antes de se manifestar, quis ouvir novamente a Igreja, convocando o Sínodo dos Bispos a se reunir em duas assembleias gerais, em 2014 e 2015. O Sínodo tem a finalidade de envolver a Igreja inteira na busca das respostas aos questionamentos feitos sobre o casamento e a família na Igreja e na sociedade contemporânea.
RV – A imprensa destaca muito as diferenças existentes dentro do Sínodo no que diz respeito à comunhão aos recasados. Padres sinodais que falam da possibilidade de dar a comunhão e outros que não pensam nisso. Existe realmente esta diferença, e como se poderá contornar as posições?
DO – Existem certamente diferenças na maneira de ver a questão e isso não deve admirar; afinal, os participantes são cerca de 300 e vêm de diferentes ambientes eclesiais, culturais, sociais e religiosos. A diferença no modo de pensar não é necessariamente um problema, mas pode ser uma riqueza; ela ajuda a perceber melhor os vários aspectos da questão. E o Sínodo não deve necessariamente “contornar” as diferentes visões, mas fazer o discernimento sobre a verdade e a vontade de Deus, que se busca através da reflexão de todos os participantes. De todo modo, o Sínodo é consultivo e não decisório.
RV – A famosa carta dos 13 Cardeais que foi entregue ao Papa. O que tem de verdade nisso, e como ecoou o conteúdo da carta dentro do Sínodo?
DO – Não cheguei a ver a mencionada carta; certamente, se alguns cardeais escreveram ao Papa, eles exerceram um seu direito e não se deve ver nisso algo de estranho. Todos podem escrever ao Papa, se desejarem. De fato, porém, a citada carta não teve especial repercussão no contexto do Sínodo; ali, como previsto, foi facultada a palavra a todos os participantes, que puderam se manifestar livremente.
RV – Certos meios de comunicação descrevem que os debates sinodais são marcados por conflitos e venenos. Como responder a isso?
DO – Sinceramente, não vi conflitos nem venenos nas reflexões. O clima geral foi e continua sendo de fraternidade, respeito e serenidade. As posições diferentes não devem ser interpretadas como conflitos, mas como contribuições diversas na busca do “caminho comum”, que é próprio do Sínodo. Há muito interesse e desejo de contribuir para a reflexão.
RV – O tema dos casais homossexuais já foi tocado no Sínodo? Que reflexão se faz sobre esse tema. Existe uma abertura da Igreja neste sentido? O que devem esperar esses casais do Sínodo?
DO – A reflexão sobre as pessoas do mesmo sexo, que convivem em uniões como se fossem casamentos, apareceu especialmente na 3ª parte do Instrumento de Trabalho e das reflexões do Sínodo. A posição da Igreja sobre essas uniões é clara: não há a possibilidade de equipará-las ao casamento de pessoas de sexos diferentes. O que se busca é a forma mais adequada de acompanhar pastoralmente essas pessoas, para que também elas acolham o Evangelho e alcancem a misericórdia e a salvação de Deus.
RV – Certamente devido à presença de 270 padres sinodais dos 5 continentes há acentos diferentes sobre alguns temas, como também é obvio que a Doutrina não será tocada. Mas o que pode mudar concretamente sobre o tema da família?
DO – Nas reflexões do Sínodo, aparecem diversas perspectivas sobre a família na Igreja e na sociedade contemporânea: penso numa renovada valorização do casamento e da família; num renovado interesse da pastoral da Igreja em relação à família, especialmente em relação aos jovens e nubentes; numa pastoral voltada especialmente para as situações de dor e sofrimento vividas por numerosas famílias; penso numa espécie de “aliança” entre Igreja e família, onde esta participe muito mais na evangelização. Penso também que a família deverá ser mais valorizada como um sujeito social, econômico e político na sociedade. E penso que haverá uma valorização especial dos elementos bons já existentes nas famílias incompletas e irregulares.
RV – Comenta-se a presumível contraposição entre os padres sinodais sobre Verdade e Misericórdia. Como podemos entender isso no âmbito do debate sobre a família.
DO – Não penso que essa contraposição existirá; misericórdia e verdade não podem ser contrapostas. Mas é verdade que há quem fique mais atento à verdade e quem fique mais atento à misericórdia. Essa tensão existirá sempre e será necessário trabalha-la com sabedoria evangélica. A verdade do Evangelho sobre o casamento e a família nunca poderá ser omitida ou desprezada; o Evangelho é um chamado à conversão para todos. Mas nas situações concretas, o Evangelho da misericórdia de Deus precisa ser apresentado às pessoas, inclusive porque todos dependem dela, mais do que das próprias capacidades e virtudes.
RV – Este Sínodo está procurando entender como a primazia da misericórdia possa ser aplicada em todas as formas de vida pastoral em relação à família, principalmente em relação às famílias feridas. De que Misericórdia falamos?
DO – Falamos sempre da misericórdia de Deus, que também deve orientar o nosso agir. Pensemos nas muitas famílias que sofrem por doenças, luto, pobreza, violência, desprezo, preconceitos, ou por algum problema particular ligado à droga, aos vícios, às deficiências humanas… Todas precisam, além da justiça e da solidariedade, também da atenção misericordiosa. E também há nas famílias as situações na vida que precisam ser assumidas como tais, sem haver uma solução satisfatória: nessas situações, mais do que tudo, é preciso confiar na misericórdia de Deus e contar com o coração misericordioso dos outros e da própria Igreja.
RV – O que se espera de concreto com o Documento Final? Ou devemos esperar uma Exortação Pós-Sinodal do Santo Padre?
DO – O trabalho é feito em vista de um “documento sinodal”, a ser votado como de costume. Mas será um documento condizente com a própria natureza do Sínodo, que não é um organismo decisório, mas consultivo. Em outras palavras, o texto final apresentará o resultado do trabalho feito, mas não será a palavra final sobre a questão. Como é normal, espera-se a palavra do Papa sobre o tema, após o Sínodo. (SP)
“Unidade na diversidade”
Após os trabalhos sinodais desta 12ª Congregação Geral do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, presidiu à última coletiva da semana, porque amanhã os Padres sinodais comemorarão os 50 anos da Instituição do Sínodo dos Bispos.
A primeira parte da coletiva de imprensa foi dedicada a um apanhado geral dos trabalhos sinodais da tarde de ontem, quinta-feira (15/10): foram 30 as intervenções dos Padres sinodais, além das três de auditores e casais.
Nos trabalhos da manhã desta sexta-feira (16/10), tomaram a palavra 12 Delegados fraternos, representantes de diversas Confissões cristãs, que estão participando como convidados no Sínodo. Alguns deles tomaram parte da coletiva de imprensa de hoje.
Trata-se do Primaz da Igreja Ortodoxa da Estônia, Stephanos, representante do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, e o Rev. Thimoty Thornton, bispo de Truro, na Grã-Bretanha, representante da Comunhão Anglicana, acompanhado do Primaz Justin Welby.
As diversas intervenções dos Delegados Fraternos, podem ser resumidas com o tema “unidade na diversidade”: diversidade de Confissões, mas unidade em definir “a família como ponto central da pastoral da Igreja e fundamento da sociedade”.
Os Delegados Fraternos afirmam que, na Sala do Sínodo, “se respira uma rica diversidade da Igreja de todo o mundo e a capacidade de dialogar uns com os outros”. No entanto, oferecem muitos pontos de reflexão sobre a família: desde a questão dos matrimônios mistos, de grande importância no caminho ecumênico, até às realidades das famílias em crise, que esperam conforto e acolhida, acompanhamento e não julgamento por parte da Igreja.
Neste sentido, os Delegados Fraternos afirmam que a Igreja deve frisar o aspecto positivo e belo do sacramento do matrimônio. A família – recordam – é o berço do amor de Deus, semelhante a uma comunidade monacal, na qual respeitam os votos de castidade, pobreza e obediência, ou seja, fidelidade conjugal, partilha dos bens e consagração a Deus.
No entanto, os Delegados de outras Confissões cristãs não deixam de ressaltar as principais problemáticas contemporâneas, que desafiam o núcleo familiar, como a homossexualidade, o drama da guerra e das migrações, a indigência, a adoção de crianças. Enfim, destacam a importância da família, que é testemunha da alegria evangélica.
Após as intervenções do Delegados Fraternos, nesta manhã, um numeroso grupo de Auditores e Auditoras, num total de 27, tomou a palavra, abordando diversos aspectos concernentes à família, como a adequada preparação ao matrimônio, as vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero, a preocupação pelos idosos e a “cultura do descarte”, o aborto, a procriação artificial, os matrimônios mistos e ainda o papel da mulher na família e na Igreja.
Por fim, na tarde de hoje, os trabalhos sinodais prosseguiram com os “círculos menores” sobre a Terceira parte do Sínodo dos Bispos sobre a Família. (MT)
Episódio de menino mexicano traz ao Sínodo a dor dos filhos
Quando dói, na Igreja, o problema das pessoas unidas em segundas núpcias que são excluídas dos sacramentos da confissão e da comunhão? A Assembleia Sinodal reunida quinta-feira, no Vaticano, na 11ª Congregação geral, ficou paralisada ao ouvir o relato de um bispo mexicano. Dom Alonso Gerardo Garza Trevino, da Diocese de Piedras Negras, em seu pronunciamento, contou o episódio de um menino que fazia a primeira comunhão em sua diocese e cujos pais, ambos divorciados e recasados, não podiam fazer a comunhão na cerimônia. Ao receber a hóstia, o menino a dividiu e levou a seus pais dois pedaços para que eles também comungassem, como todos os pais presentes.
Um caso pequeno, mas que pode influir mais do que mil palavras no debate em curso no Sínodo, porque é emblemático dos sofrimentos vividos pelos católicos em ‘situação irregular’ e testemunha que os filhos de divorciados – uma porcentagem consistente dos jovens de hoje – não aceitam a exclusão dos pais desta dimensão central da vida cristã.
A RV entrevistou Dom Giancarlo Petrini, bispo de Camaçari (BA) e Presidente emérito da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, que estava presente na Sala no momento do relato. Clique aqui para ouvir:
“Certamente tem coisas que são comoventes e as pessoas ficam sensibilizadas diante de certas questões. Esta foi uma. Outro momento muito tocante também foi quando o Cardeal Schoenborn contou da situação dele, filho de um casal que se divorciou, etc. Ele percebeu outro aspecto e disse “Às vezes nós, Igreja, falamos dos divorciados de uma maneira que um filho de divorciados se sente machucado; temos que aprender a falar de uma forma mais adequada, etc. Então, são coisas que jamais poderiam passar assim, como se nada fosse… Certamente isso tem suas influências”.
“Não há nenhuma objeção ao fato que todos devem ser acolhidos. Todos são filhos de Deus, todos merecem não somente o respeito, mas o total acolhimento da Igreja. Mas até aonde vai este acolhimento? Começa a ficar claro que é um acolhimento para participar da Igreja, para participar diversas e não ter tantos limites como antigamente. Era difícil, era impossível uma pessoa recasada ser padrinho ou madrinha em um batizado, etc. Tudo isso está sendo um pouco repensado”.
“O ponto é realmente a Eucaristia. Há duas coisas em jogo, na realidade: uma é a agilização, por parte do Papa Francisco, dos processos canônicos para a declaração de nulidade matrimonial. Aquilo que parecia uma coisa delicada, quase impossível para muitos casais, hoje pode ser muito simplificado. Em segundo lugar, tem havido algumas propostas para que o bispo possa avaliar, quando não existe a declaração de nulidade, os casos que de alguma maneira especial, possam se configurar como uma ‘nulidade não-declarada’, digamos assim”.
“O certo é que o acolhimento para que haja um retorno à Igreja, uma maior participação na vida da Igreja, é tranquilo, é totalmente de consenso, de todos. Não vi ninguém reclamando a este respeito. Há nuances na maneira de ver até aonde este acolhimento pode chegar e há dificuldades em contradizer a milenar doutrina da Igreja”.
“Com certeza estes fiéis terão uma resposta concreta. Acho que esta é uma nova etapa da Igreja, que se fixa menos na dureza da lei e claro, sem jogar fora o que não pode ser jogado, valorizar mais a característica do ser de Deus, que é a misericórdia, que deve ser sempre mais a característica de cada cristão e, portanto, de toda a Igreja”.
O bispo também nos fala da proposta brasileira para o caminho de acolhida dos divorciados e recasados:
“A proposta brasileira foi explicitada por Dom Raymundo Damasceno, que foi Presidente da CNBB até abril deste ano e que é Presidente-delegado do Sínodo. Ele pediu exatamente que este acolhimento dos aspectos mais difíceis sejam aprofundados por uma comissão, para que se possa ter mais segurança; que esta abertura possa ser feita para vencer os medos, as reticências. Tudo isso deve ser mais aprofundado por um comitê de estudos, digamos assim, que o Papa poderá…. assim como fez com o processo de nulidade”. (CM)
Sínodo: divorciados recasados no centro dos últimos debates
Entre quarta-feira e a manhã de quinta-feira foram feitos 93 pronunciamentos na Sala do Sínodo sobre a terceira parte do Instrumentum laboris. Foi o que disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, na coletiva do dia. Com a tarde desta quinta-feira deve concluir-se o debate geral sobre a terceira parte, acrescentou.
Um caminho específico para os divorciados recasados: um dos pontos mais delicados em discussão no Sínodo sobre a família esteve no centro dos últimos pronunciamentos de muitos Padres sinodais, tanto em Assembleia quanto no âmbito dos Círculos menores.
Foram feitas diferentes abordagens à questão. Para alguns, a premissa se fundamenta na necessidade de repropor novamente, de forma clara, os ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio, e, por conseguinte, um ato de tutela da doutrina, vez que – foi defendido – a Igreja não tem o poder de aumentar nem de diminuir a Palavra de Deus.
Para outros, foi evidenciado que o seguir Cristo (sequela Christi) não pode traduzir-se numa exclusão permanente das pessoas dos Sacramentos – como se, foi observado, os sacerdotes fossem funcionários encarregados de fiscalizar os fiéis –, porque o distanciamento em particular da Eucaristia é considerado uma “grave privação”.
Nesse percurso foi colocado como central a possibilidade, já evocada, de identificar para os divorciados recasados um acesso não indiscriminado aos Sacramentos, mas permitindo uma abordagem personalizada, como resumido pelo Pe. Bernd Hagenkord:
“É preciso um caminho de discernimento bem estruturado para os divorciados recasados, para permitir-lhes tomar a sua decisão, em consciência. O caminho penitencial foi discutido. Esse projeto nasce do pronunciamento do Cardeal Walter Kasper, um ano e meio atrás, porque, em todo caso, o Sacramento da Penitência precede o Sacramento da Eucaristia: é chamado caminho penitencial. Foi proposta uma avaliação das situações caso por caso, e uma limitação a tal admissão para casos particularmente significativos.”
Foi também ressaltada a necessidade de uma reestruturação da pastoral familiar nas paróquias, que possa contar com a presença de associações e Movimentos e, se possível, com pequenas comunidades de famílias locais que deem apoio – ao que alguns definiram como “ministério do acolhimento” – a outras famílias feridas, com iniciativas pastorais concretas, e não baseadas em “eventos”:
“Um tema frequentemente discutido é o da exigência de uma formação coerente, de uma nova metodologia. Na catequese nota-se a exigência de abandonar a linguagem escolar que fala de ‘curso de matrimônio’, em favor de colocar-se na perspectiva do ‘estar em caminho juntos’.”
Em particular, para que a pastoral familiar seja eficaz, alguns pronunciamentos pediram um cuidado particular com os futuros sacerdotes. Muitos proveem de famílias problemáticas do ponto de vista conjugal dos pais, e se eles não forem ajudados a compreender a beleza do matrimônio cristão – foi ressaltado com lucidez –, eles, por primeiro, poderão ter problemas em relação à vocação das famílias.
Foi muito evidenciado, em particular por muitos Padres sinodais africanos e asiáticos, o tema dos matrimônios mistos, entre católicos e muçulmanos. Foi pedido que o Sínodo indique medidas que tutelem a parte católica, de modo especial as mulheres, porque em muitas circunstâncias no matrimônio com um muçulmano, é pedido à mulher que abandone a própria religião, correndo o risco de ser repudiada caso se negue a fazê-lo.
Todavia, sobre essa questão, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé evidenciou:
“Deve ser apresentado o aspecto positivo desses matrimônios, como uma possibilidade de viver o diálogo em sentido positivo. O Instrumentum deve mostrá-los não somente como um lugar de problemas, mas também como um lugar positivo de diálogo, de anúncio do amor. Certamente foram apresentadas situações difíceis, quer no contexto muçulmano, quer em outros contextos asiáticos. Consequentemente, há uma série de problemas que as Conferências episcopais, nesses casos, pedem para poder enfrentar de modo específico.” (RL)
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Card. Raymundo: críticas e consenso no Sínodo
Desde a tarde da quarta-feira (15/10), os padres sinodais entraram no debate da terceira e última parte do Instrumento de Trabalho, que trata da família e do acompanhamento eclesial.
Sobre o trabalho realizado até o momento, eis o disse um dos presidentes-delegados do Sínodo, o Cardeal Raymundo Damasceno Assis:
“Nessa segunda parte do Instrumento de Trabalho, os 13 grupos discutiram a vocação da família, iluminada pela Palavra de Deus e pelo magistério da Igreja. O relatório é muito diverso, porque nós temos 13 grupos linguísticos e cada um dos grupos muitas vezes com a presença de bispos, de padres sinodais de diferentes países, diferentes culturas, tradições, mas creio que tiveram um consenso num ponto: de que é preciso ressaltar melhor a Palavra de Deus para iluminar a vocação da família e utilizar mais o próprio magistério da Igreja. Em relação a isso, houve um consenso de modo geral nos relatórios.”
Críticas
“Alguns, é claro, questionaram a lógica na apresentação do tema. Por isso, insistiram em reagrupar alguns números em diferentes lugares, porque muitas vezes o tema é repetido. Mas de um modo geral, foi positivo. Claro que na terceira parte teremos propostas mais concretas de ação pastoral. Às vezes, houve até uma crítica de que havia propostas pastorais ainda nesta segunda parte, que deveriam ser colocadas na terceira parte do documento de trabalho. Esta foi também uma das críticas que apareceram nos relatórios do grupo. Ao tratar o tema com outros padres sinodais, não mais os mesmos do Sínodo extraordinário, é claro que há acréscimos. E o objetivo é este: aperfeiçoar, enriquecer e melhorar a relatio synodi.” (BF)
Clima geral da Assembleia sinodal é indubitavelmente positivo, diz Pe. Lombardi
Convido-os a acompanharem o Sínodo no caminhar positivo que muito se respira na Sala Paulo VI, e a desse modo seguirem os seus trabalhos.
Foi o convite do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, na coletiva desta terça-feira, após esclarecer que a carta de alguns Padres sinodais ao Papa era reservada e que o que foi publicado por algumas fontes não corresponde, nem no texto nem nas assinaturas, à que foi entregue ao Santo Padre, tanto que ao menos quatro cardeais desmentiram.
Na realidade, o religioso jesuíta reportou o que efetivamente declarou, a propósito, o Cardeal George Pell: que a missiva ao Pontífice era e deveria permanecer reservada e que o que foi publicado não corresponde, nem no texto, nem nas assinaturas, à que fora entregue ao Papa.
De fato, quatro Padres sinodais – os cardeais Angelo Scola, André Vingt-Trois, Mauro Piacenza e Péter Erdő – desmentiram tê-la assinado.
Por sua vez, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé acrescentou:
“Substancialmente, as dificuldades mencionadas na carta tinham sido evocadas na tarde de segunda-feira, 5 de outubro, na Sala do Sínodo, como havia dito, embora não de modo tão amplo e detalhado. Eu tinha falado de objeções e dúvidas sobre o procedimento. Como sabemos, o secretário geral do Sínodo, Cardeal Baldisseri, e o Papa haviam respondido com clareza na manhã seguinte, terça-feira, dia 6. Portanto, quem, passados alguns dias, deu este texto e esta lista de assinaturas a serem publicadas fez um ato de transtorno não pretendido pelos signatários. Portanto, é preciso não deixar-se condicionar por isso.”
“O porta-voz vaticano explicou ainda que se podem fazer observações sobre a metodologia do Sínodo, que é nova. Isso não surpreende, mas uma vez estabelecida, se procura aplicá-la da melhor forma possível.”
Tanto é assim que “há uma vastíssima colaboração para fazer com que o caminho do Sínodo possa progredir bem”, frisou. Pe. Lombardi ressaltou que, sem dúvida, o clima geral da Assembleia é positivo.
Em seguida, Pe. Lombardi fez-se porta-voz de uma declaração do arcebispo de Durban (África do Sul), Cardeal Wilfrid Fox Napier, a propósito de uma afirmação sua erroneamente reportada numa entrevista:
“A propósito da composição da Comissão de dez membros nomeada pelo Papa para a elaboração do Relatório final do Sínodo, foi escrito erroneamente: ‘Napier questiona o direito do Papa Francisco de fazer essa escolha’. O Cardeal Napier pediu-me para corrigir, afirmando exatamente o contrário: ‘Napier não questiona o direito do Papa Francisco de escolher essa Comissão’.”
Também esteve presente na coletiva de imprensa o abade geral Jeremias Schröder, presidente da Congregação Beneditina de Santa Otília, representando os dez superiores gerais participantes do Sínodo, o qual se deteve sobre a questão da ligação entre a vocação e a vida familiar:
“Muitos jovens monges não mais provêm de famílias católicas bem formadas, muitas vezes o caminho vocacional é, ao mesmo tempo, um caminho catequético, ou seja, o aproximar-se da fé comporta também, posteriormente, a reflexão sobre a vocação. Nesse âmbito estamos vendo mudanças profundas na base social das nossas vocações.”
Em seguida, respondendo à pergunta de um jornalista sobre o tema do diaconato feminino, debatido na Sala do Sínodo, o Rev. Schröder explicou:
“Fiquei impressionado, porque pareceu-me um tema audaz e também, para mim, convincente, tanto que poderia imaginar um caminho dessa natureza. Mas tive a impressão de que esse tema, por agora, não tenha tido uma grande repercussão na Assembleia. Ouvimos uma opinião, mas por enquanto ficou nisso.”
Encontrava-se também entre os participantes da coletiva a consultora e formadora da Federação africana da ação familiar, Thérèse Nyirabukeye, presente no Sínodo na qualidade de auditora. Originária de Ruanda, ela recordou o genocídio no país, vinte anos atrás, e ressaltou a importância da família no processo de reconstrução nacional, porque a família é testemunha de amor e reconciliação, explicou.
Por fim, outra auditora, a diretora do Instituto canadense católico de bioética, Moira McQueen, expressou satisfação pelo papel que tem sido dado aos auditores durante o trabalhos sinodais: “Somos ouvidos e podemos nos pronunciar – disse ela. E esse é um processo democrático.” (RL)
Círculos Menores: expressão do Evangelho em cada cultura
O Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, participa dos Círculos Menores do Sínodo que nesta terça-feira (13/10), chegam à 9ª sessão. Dom Odilo explica que a dinâmica dos Círculos é positiva uma vez que os participantes podem se expressar mais de uma vez, diferentemente do que acontece nas Congregações gerais. O Cardeal diz também que as diferentes nuances culturais trazidas pelos integrantes enriquece o debate sobre questões individuais ao afirmar que o “Evangelho se encarna nas culturas e toma expressões próprias”.
No canal VaticanBR, veja como se reúnem os Círculos Menores
“A vantagem dos Círculos Menores é que ali há espaço para mais intervenções. Desta forma, o debate se torna muito mais rico e dinâmico. Ali também se manifestam as percepções e visões diferentes sobre as mesmas questões. E, externando-se, os participantes enriquecem também o conjunto. Os grupos são formados por línguas, então os mundos culturais são um pouco semelhantes em cada grupo. Embora, num grupo de língua francesa ou inglesa, pode haver um norte-americano ou um africano, do sul ou o norte da África, um asiático. De modo que, nestes grupos, há sim uma grande variedade também de percepções de cultura. E isso também é enriquecedor quando, justamente, percebe-se que a mesma questão – no caso, casamento e família – é vivida com revestimentos culturais próprios, vivida segundo o Evangelho: o Evangelho que se encarna nas culturas e toma expressões próprias”. (SP/RB)
Sínodo: grande atenção às famílias com dificuldades
“A maioria dos participantes do Sínodo sobre a Família julga necessário encontrar soluções a respeito dos sacramentos para os divorciados recasados” e “embora os bispos estejam ainda divididos sobre este tema, a novidade é que a maior parte da Assembleia concordou que ‘não fazer nada ou mudar tudo’ não são posturas representativas ou realistas”.
Foi o que adiantou Padre Federico Lombardi na coletiva aos jornalistas encarregados da cobertura do Sínodo dos Bispos, na Sala de Imprensa do Vaticano.
Divorciados e recasados
Os 270 padres sinodais, cardeais, bispos e sacerdotes que participam da Asseembleia começaram a debater sobre a terceira parte do “Instrumentus Laboris” (documento de base), que inclui a questão dos divorciados que contraíram novo matrimônio.
Alguns explicaram que apesar de mudar a doutrina não ser possível, se pode conjugar ‘verdade e misericórdia’ e estudar ‘soluções e caminhos pastorais’ para os divorciados que se recasaram civilmente. Outros, no entanto, expressaram uma posição ‘negativa’ sobre dar a comunhão a estes fiéis.
Padre Lombardi explicou que este tema foi abordado na sessão de sábado:
“Alguns pronunciamentos – poucos – eram contrários; mas é preciso lembrar que isto era sempre no contexto da atenção da Igreja por todas as pessoas que se encontram em situações difíceis e que é necessário encontrar também maneiras para lhes fazer sentir integrados na vida da Igreja, e a proximidade da Igreja”.
Blog e presumível carta com críticas
Sobre as divisões entre os participantes, um blog de informação religiosa publicou uma carta que treze cardeais teriam enviado ao Papa denunciando que a metodologia utilizada no Sínodo é intencionalmente ‘pilotada’ para que seja dominado pelo problema teológico/doutrinal da comunhão aos divorciados que se recasaram.
O Diretor da Sala de Imprensa não quis comentar a existência do documento, mas fez notar que alguns cardeais (presumivelmente) signatários desmentiram ter participado da redação desta carta.
Relatio Finalis
Enfim, o sacerdote esclareceu que a respeito do documento final, a “Relatio Finalis” que os padres sinodais deverão votar com suas propostas sobre a família no próximo dia 24 de outubro, será o Papa a decidir se publicá-lo ou não.
“O que hoje não sabemos ainda com certeza é o que o Papa decidirá sobre a Relatio. Ele pode fazer como ano passado e ordenar a sua publicação imediata; ou dizer aos padres sinodais: ‘Obrigada, eu a tenho para mim e faço uma Exortação Apostólica’. Pode também receber, refletir e publicá-la depois de alguns dias”.
No Sínodo extraordinário sobre o mesmo tema, em outubro de 2014, Francisco decidiu publicar o documento. (CM)
Francisco: “Esperança e progresso provêm de escolhas de paz”
Ao abrir a 4ª Congregação geral do Sínodo dos Bispos, na manhã desta sexta-feira, o Papa fez um apelo pela reconciliação e pela paz no Oriente Médio. Francisco recordou ainda dos países em conflito na África.
“A guerra traz destruição e multiplica o sofrimento dos povos. Esperança e progresso provêm de escolhas de paz”, afirmou o Pontífice diante de mais de 250 Padres sinodais que se encaminham para o fim da primeira semana de sessões.
“Estamos profundamente entristecidos e seguimos com profunda preocupação o desenrolar dos fatos na Síria, no Iraque, em Jerusalém e na Cisjordânia, onde assistimos a uma escalada da violência que atinge civis inocentes e continua a alimentar uma crise humanitária de enormes proporções”, acrescentou o Papa.
Pedindo união aos Padres sinodais vindos do Oriente Médio e África presentes no Sínodo, o Pontífice dirigiu um forte apelo à Comunidade internacional para “que encontre o modo de ajudar eficazmente as partes interessadas, para ampliar os próprios horizontes além dos interesses imediatos usando os instrumentos do direito internacional e da diplomacia para resolver os conflitos em andamento”. (RB)
Ordem das Viúvas: uma proposta ao Sínodo
Entre as inúmeras propostas apresentadas nesta primeira semana do Sínodo dos Bispos sobre a família, está a restauração da Ordem das Viúvas, que remonta ao início do Cristianismo. Desta vez, com uma novidade: a inclusão dos viúvos.
A proposta foi apresentada pelo Prefeito da Congregação para Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Card. João Braz de Aviz:
“A pessoa viúva na família viveu uma experiência difícil, porque a separação pela morte é sempre algo que cria muito sofrimento, não só para o esposo ou a esposa, mas também com relação ao filhos. Agora, para muitos, e nós pensamos nas nossas comunidades, muitas viúvos e viúvas pensam nesse momento em que já realizaram grande parte da sua missão familiar ou estão quase realizando a sua missão familiar, de se abrir mais para a missão na Igreja. Então para aquelas ou aqueles que aprofundam isso, que sentem isso possível, há essa possibilidade. Nós estamos pedindo ao Sínodo que pense também na restauração da chamada Ordem da Viúvas, que no passado não incluía tanto os viúvos, mas que no momento presente talvez tenha também essa dimensão. A proposta foi aceita no nosso grupo, o grupo ‘Hispânico B’, e estamos propondo na nossa visão para o Sínodo.”
O Card. Braz de Aviz fala também das possíveis novidades para esta Assembleia sinodal. Clique acima para ouvir a reportagem completa.(BF)
Coletiva: Sínodo reflete também sobre tema do diaconato feminino
“A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”: este é o tema que norteia a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, cujos trabalhos se concentram, neste momento, nos Círculos menores.
Conduzida pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, a coletiva desta quinta-feira teve como convidados, na qualidade de relatores e membros dos Círculos menores, o arcebispo de Ancona-Osimo (Itália), Cardeal Edoardo Menichelli; o arcebispo de Acra (Gana), Dom Charles Palmer-Buckle; e o Patriarca de Antioquia dos Sírios, Dom Ignatius Youssif III Younan, o qual lançou um apelo: “O Ocidente não esqueça os cristãos do Oriente Médio”.
“Estamos realmente preocupados e alarmados com a situação das comunidades cristãs no Oriente Médio e, sobretudo, com as provações catastróficas a que as famílias são submetidas, divididas porque fazem de tudo para sair do inferno em que vivem na Síria e no Iraque.”
Foi o dramático apelo lançado pelo Patriarca Younan. “Deploramos o fato de não conseguirmos convencer as novas gerações a permanecer onde o cristianismo teve suas origens.”
E reiterou: “Temos centenas de pessoas reféns dos terroristas islâmicos, é um fenômeno catastrófico de longa duração.
O apelo é feito no sentido de trazer a voz dos perseguidos, sobretudo, para o Ocidente, porque – ressaltou o patriarca – “nos sentimos esquecidos e traídos pela Europa e EUA”. E concluiu: “Trazemos a nossa voz aos potentes a fim de que a situação mude”.
“Não estamos aqui para frear ninguém, mas para propor aquilo que sentimos acerca da família e para o bem da Igreja”, acrescentou, por sua vez, o arcebispo ganense, Dom Palmer-Buckle. Na África, explicou, “há um conceito alargado de família e nós queremos ver como manter vivos os valores e as alegrias de tal família alargada”.
“O futuro da família é a missão da Igreja”, reiterou o arcebispo de Acra, sobretudo no continente africano, onde a Igreja católica está crescendo muito rapidamente. Em seguida, o prelado assegurou: os temas do Sínodo não são somente europeus, mas da Igreja em sua universalidade.
Por sua vez, o Cardeal Menichelli observou que este Sínodo é um Sínodo do povo, fruto da contribuição das dioceses”, afirmando que na assembleia se refletiu também sobre o tema do diaconato feminino.
O purpurado fez uma análise sobre as modalidades de trabalho nos Círculos menores:
“O clima é muito aberto, não há personalismos. Há, propriamente, esse desejo de conhecer para oferecer indicações novas, para manifestar aquele amor para com as famílias e também aquela preocupação que a Igreja muitas vezes manifesta diante de fenômenos que gostariam – entre aspas – de não nobilizar a realidade familiar.”
Por fim, respondendo à pergunta de um jornalista sobre o pronunciamento do Papa aos padres sinodais, na terça-feira, dia 6, em particular, sobre a expressão “hermenêutica conspiradora” a ele atribuída, Pe. Lombardi explicou:
“Eu não referi essa expressão, como bem sabem, saiu de outra fonte. Evidentemente, o conceito é: não devemos pensar que existam complôs. Portanto, a visão que devemos ter do Sínodo é de um processo de intercâmbio, de comunicação, que se dá de modo sereno, sincero, e não deve ser considerado guiado por interesses particulares e por tentativas de manipular ou de conduzir diferentemente daquilo que, ao invés, é o processo de busca comum, no espírito que a comunidade eclesial deve fazer.” (RL)
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Papa no Sínodo: doutrina sobre matrimônio não foi modificada
Setenta e dois pronunciamentos em duas congregações gerais, representando todos os continentes e, de certa forma, todas as línguas. Com esses dados, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, introduziu a coletiva desta terça-feira sobre os trabalhos da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
Acompanhado do Cardeal Paul-André Durocher, ex-presidente da Conferência Episcopal do Canadá, e do presidente do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais e, no Sínodo, presidente da Comissão para a Informação, Dom Claudio Maria Celli, o religioso jesuíta fez uma síntese aproximativa dos pronunciamentos: dez da América Latina, sete da América do Norte, vinte e seis da Europa, doze da África, oito da Ásia e Oceania, seis do Oriente Médio.
Ainda segundo Pe. Lombardi, as línguas mais utilizadas nos pronunciamentos têm sido o italiano – cerca de 23, e o inglês – cerca de 21; 15 ou 16 em francês e depois alguns pronunciamentos em espanhol – sete, dois em alemão e um em português.
Com esses números, disse Pe. Lombardi aos jornalistas presentes na coletiva, vocês se dão conta do ambiente linguístico que se respira na Assembleia do Sínodo.
Uma Assembleia sinodal em continuidade com a de 2014, durante a qual a doutrina católica sobre o matrimônio não foi modificada: foi o que observou o Papa Francisco no breve pronunciamento da terceira Congregação Geral, esta terça-feira, seguida dos Círculos menores. O Santo Padre evidenciou os três documentos oficiais, o Relatório do Sínodo (Relatio Synodi) e os dois discursos pontifícios de abertura e de conclusão dos trabalhos; destacou Pe. Lombardi na coletiva.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé referiu também a segunda observação do Papa em seu breve pronunciamento da manhã desta terça-feira:
“Não devemos deixar-nos condicionar e reduzir o nosso horizonte neste Sínodo, como se o único problema fosse o da comunhão aos divorciados e recasados ou não. Portanto, considerar a amplitude dos problemas e das questões propostas na Assembleia sinodal, dos quais o ‘Instrumentum Laboris’ dá uma ampla perspectiva.”
Respondendo aos jornalistas, também o Arcebispo Claudio Maria Celli evidenciou ulteriormente o breve pronunciamento do Papa:
“A minha impressão é de que o pronunciamento do Papa na manhã desta terça-feira, ao recordar que os documentos de referência em nossa discussão são a ‘Relatio Synodi’ e seus dois discursos, de abertura e de conclusão, mantém aberto uma atitude da Igreja profundamente pastoral em relação a essa realidade dos divorciados. Porém, se deve considerar também o que o Papa disse, ou seja, que o Sínodo não tem essa questão como único ponto de referência. É um dos pontos.”
A propósito do relatório introdutivo do Sínodo, apresentado na segunda-feira pelo Cardeal Peter Erdő, o Cardeal Paul-André Durocher convidou a “entrar em diálogo com o mundo”:
“No primeiro parágrafo de seu pronunciamento, o Cardeal Erdő recorda aquela cena em que Jesus vê uma multidão, teve dó daquela multidão e se dirigiu a ela. O Cardeal Erdő recorda-nos que isso corresponde, de certo modo, às três etapas desse processo do ‘Instrumentum Laboris’ e do processo sinodal. Portanto, neste momento queremos – junto com Jesus – olhar para o mundo que está diante de nós. Na segunda etapa, a da piedade, avaliar como julgar essa situação. Na última, como seremos capazes de responder às expectativas deste povo, do mundo que está diante de nós.”
Nos temas abordados pelos 72 padres sinodais que se pronunciaram – representativos de todos os continentes e de todas as línguas – tocaram os vários âmbitos relacionados à família e à Igreja.
Em primeiro lugar, um esclarecimento da parte do secretário-geral do Sínodo, o Cardeal Lorenzo Baldisseri, a propósito da metodologia de trabalho da Assembleia, modificada em relação ao passado, solicitação feita durante a discussão livre da segunda congregação geral.
Em particular, o pupurado deteve-se sobre as funções dos Círculos Menores e sobre a Comissão, nomeada no início de setembro pelo Santo Padre para a redação do Relatório final do Sínodo.
Em seguida, o destaque para os temas abordados: a revolução cultural que caracteriza a época em que vivemos, em que a Igreja é chamada a acompanhar as famílias e, em geral, todo o povo de Deus, para encontrar respostas e soluções adequadas aos problemas de hoje.
Além disso, explicou Pe. Lombardi, falou-se de uma linguagem apropriada da parte da Igreja, inclusive “para evitar impressões de julgamentos negativos em relação a situações e pessoas”:
“Ainda sobre o tema da linguagem, alguns mencionaram de modo muito positivo a linguagem utilizada nas catequeses do Papa Francisco durante este ano, como modo concreto, simples, claro e positivo de falar da realidade da família no mundo de hoje.”
Foi também ressaltada a necessidade de ajudar, seja os casais de cônjuges a crescer e a amadurecer na fé e no matrimônio, seja os jovens a redescobrir a beleza do amor e da profunda inter-relação entre amor e matrimônio. Ademais, evidenciando que o testemunho das famílias missionárias é indispensável para a vida da Igreja.
Refletiu-se também sobre os núcleos familiares que vivem situações difíceis, sobre o drama da pobreza na família, sobre violências que atingem a própria família, sobre a chaga do trabalho infantil, sobre o drama dos refugiados e dos migrantes e das perseguições aos cristãos.
Além disso, se detiveram sobre a questão das pessoas com tendências homossexuais: elas fazem parte da Igreja, foi dito, esclarecendo, ao mesmo tempo, que o matrimônio é a união sacramental entre um homem e uma mulher, fundamento da família em sua integridade. (RL)
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Misericórdia de Deus não chega ao coração endurecido, diz Papa
Devemos prestar atenção para não fechar nosso coração à misericórdia de Deus. Foi o que disse o Papa na Missa matutina na Casa Santa Marta, nesta terça-feira (06/10). Francisco exortou a não resistir à misericórdia do Senhor, ao pensar ser mais importante os próprios pensamentos ou uma lista de mandamentos a ser seguida.
O profeta Jonas resiste à vontade de Deus, mas finalmente aprende que deve obedecer ao Senhor. O Papa inspirou sua homilia a partir da Primeira Leitura, justamente do Livro de Jonas, e observou que a grande cidade de Nínive converte-se graças à sua pregação.
“Realmente faz um milagre, porque neste caso ele deixou sua teimosia de lado e obedeceu a vontade de Deus, e fez aquilo que o Senhor o havia recomendado”.
Portanto, Nínive converte-se e diante disso o profeta, que é um homem “não dócil ao Espírito de Deus, enraive-se”: “Jonas – disse o Papa – experimentou grande desgosto e ira”. E, como se não bastasse, “repreende o Senhor”.
Coração duro
A história de Jonas e Nínive, reflete o Papa, se articula em três pontos: o primeiro “é a resistência à missão que o Senhor lhe confia”; o segundo “é a obediência, e quando se obedece, milagres acontecem. A obediência à vontade de Deus e Nínive se converte”. Por fim, existe a resistência à misericórdia de Deus”:
“Aquelas palavras, ‘Senhor, não era justamente isso que eu dizia quando estava ainda em minha terra? Porque Tu és um Deus misericordioso e piedoso’, e eu fiz todo o trabalho de pregar, cumpri bem meu dever, e Tu os perdoa? É o coração com aquela dureza que não deixa entrar a misericórdia de Deus. É mais importante a minha pregação, são mais importantes os meus pensamentos, é mais importante a lista de mandamentos que devo observar, tudo exceto a misericórdia de Deus”.
Incompreensão da Misericórdia de Cristo
“E este drama – recorda Francisco –Jesus também viveu com os Doutores da Lei, que não entendiam porque Ele não permitiu que a mulher adultera fosse lapidada, como Ele fazia refeições junto com os publicanos e os pecadores: não entendiam. Não entendiam a misericórdia. ‘Tu és misericordioso e piedoso’”. O Salmo que rezamos hoje – prosseguiu Francisco – nos sugere que “esperemos o Senhor porque com o Senhor está a misericórdia, e grande é com Ele a redenção”.
“Onde o Senhor está – retomou o Papa – está a misericórdia. E Santo Ambrósio acrescentava: ‘E onde há rigidez lá estão seus ministros’. A teimosia que desafia a missão, que desafia a misericórdia”:
“Próximos do início do Ano da Misericórdia, rezemos ao Senhor para que nos faça entender como é seu coração, o que significa ‘misericórdia’, o que quer dizer quando Ele diz: ‘Misericórdia quero, e não sacrifício!’. E por isso, na oração da Coleta da Missa rezamos tanto com aquela frase tão bonita: “Derramai sobre nós a Tua misericórdia”, porque somente se entende a misericórdia de Deus quando é derramada sobre nós, sobre nossos pecados, sobre nossas mazelas…”. (RB)
Cardeal Scherer faz um resumo do primeiro dia do Sínodo
A terça-feira (06/10) do Sínodo será marcada pela terceira Congregação Geral e, na parte da tarde, pela I sessão dos círculos menores.
O Arcebispo de São Paulo, Card. Odilo Pedro Scherer, fará diariamente aos ouvintes da Rádio Vaticano um resumo do que está sendo debatido em aula. Eis o que o Cardeal disse sobre o primeiro dia:
“O primeiro dia, naturalmente, teve todos os ritos de abertura e a palavra do Santo Padre. O Papa deu orientações muito importantes para o Sínodo. Disse que não era um parlamento nem um parlatório, onde se deve chegar a um compromisso para acertar as ideias ou, então, que um partido vence o outro. Disse que o único partido ali é o Espírito Santo, portanto todos devemos estar atentos ao Espírito Santo e não se trata de fazer com que vença uma maioria, mas vença a Verdade.”
Intervenções
“Tivemos depois o longo relatório de introdução do Relator-Geral, Card. Erdo, que fez uma síntese do Instrumento de Trabalho e depois passamos para as intervenções individuais de três minutos. Muitos falaram sobre a primeira parte do Instrumento, a problemática da família, retomando em síntese a Assembleia do ano passado. No fim da tarde, houve as intervenções livres, também breves, mas sobre temas diversos.”
Círculos Menores
“Hoje se continua sobre a primeira parte, mas já na parte da tarde iremos aos grupos, por línguas, para fazer um apanhado geral daquilo que se disse na primeira parte e também para elaborar o texto da primeira parte, que depois será praticamente encaminhado para a Secretaria-geral, a fim de ajustar para que o texto seja levado à votação no final.”
Clique acima para ouvir a reportagem completa, em que o Cardeal Scherer explica a dinâmica dos círculos menores. (BF/SP)
Sínodo: não há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Realizou-se no início da tarde desta segunda-feira, na Sala de Imprensa da Santa Sé, no Vaticano, a primeira de uma longa série de coletivas sobre o Sínodo, cujos trabalhos durarão três semanas.
Conduzida pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, a coletiva teve a participação de um presidente-delegado, Cardeal André Vingt-Trois, do relator-geral, Cardeal Peter Erdő, e do secretário especial, Dom Bruno Forte.
Card. André Vingt-Trois: o Sínodo é tempo de oração, de reunião e de caminho
As primeiras impressões sobre a assembleia sinodal, o contexto atual ligado às realidades vividas pelas famílias e as finalidades do Sínodo. Esses foram os temas no centro da coletiva aberta pelo Cardeal Vingt-Trois, que recordou que os eventos vividos a partir de sábado representam uma significativa introdução ao Sínodo.
A assembleia sinodal é um tempo em que a Igreja está em oração, como se deu durante a Vigília de sábado passado e como durante a missa de abertura – afirmou o presidente-delegado de turno.
O Sínodo – acrescentou – é também um tempo em que a Igreja se reúne, como este dia, em torno do Papa. É um tempo em que se coloca junto em caminho. Em seguida, o cardeal francês ressaltou suas primeiras impressões sobre o Sínodo:
A primeira impressão muito forte, que tive na manhã de segunda-feira, foi ver, de modo excepcional, a grande diversidade dos participantes, a diversidade dos continentes representados, a diversidade de Igrejas – porque há representantes das Igrejas orientais e das Igrejas latinas –, a diversidade de experiências… Todo esse conjunto e essa diversidade – que poderia levar a considerar improvável que se chegue a concordar sobre alguma coisa – são reunidos em torno do Papa, tendo como indicações as que já foram dadas no Sínodo de 2014 e que foram reiteradas esta segunda-feira. As indicações com as quais debatemos e refletimos neste momento de modo aberto: como a dizer que estaremos abertos a Deus que nos guiará através da oração e da meditação da Palavra de Deus. Estaremos abertos uns aos outros e esse é o estilo do diálogo que devemos buscar viver. Estaremos abertos às realidades que as famílias vivem, partindo justamente dos relatórios que obtivemos ao longo do ano.”
Card. Erdő: fundamental o papel de comunidades compostas por boas famílias
Referindo-se ao trabalho preparatório em vista da Relatio, o Card. Erdő afirmou que emergiram duas grandes realidades:
“A primeira era a desconfiança global para com as instituições, não somente para com a instituição do matrimônio e da família, mas pelas instituições em geral. Outro fenômeno é a presença maciça e o papel fundamental das comunidades cristãs católicas compostas por boas famílias, que se ajudam reciprocamente, que já têm um papel importante em muitas paróquias, em muitos movimentos, inclusive na transmissão da fé. E que têm também tantos meios para preparar humanamente os jovens para o matrimônio e a família, e acompanhar o casal, ajudar nos momentos de crise, inclusive em situações de problemas existenciais, como o desemprego, a precariedade no trabalho, a doença… E nesse entrelaçamento de comunidades de famílias tornou-se mais claro que a família mononuclear sozinha não basta para salvaguardar ou reforçar a solidariedade entre as gerações. Também nesse campo é necessário – não somente importante, mas parece necessário – o papel dessas comunidades de famílias.”
Dom Forte: não há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Por sua vez, o secretário especial do Sínodo, Dom Forte, recordou que entre os bispos há não dois ou mais partidos como defenderam alguns meios de informação. “Trata-se de pastores, homens de fé que se colocam à escuta de Deus e diante das expectativas e dos desafios do povo.” “Isso nos une muito mais profundamente do que todas as nuanças e diferenças”, disse o prelado. Em seguida, Dom Forte recordou as finalidades do Sínodo:
“As finalidades são fundamentalmente duas. A primeira é propor o Evangelho da família, a família como sujeito e objeto central da pastoral, como valor prioritário sobre o qual investir, mesmo numa época em que em tantas partes do mundo ela parece em crise. Por outro lado, a atitude pastoral de acompanhamento e de integração necessária para com todos. Obviamente, a começar pelas famílias ou pelas famílias em crise. Isso exige um estilo de grande parresia (coragem, audácia, firmeza, destemor, ndr), de grande franqueza, inclusive no Sínodo, porque precisamos fazer-nos ressonância das esperanças e das dores de todas as famílias do mundo, mas também um sentido de profunda responsabilidade diante de Deus e dos homens. O Papa Francisco falou de coragem e de humildade e falou de oração confiante. Creio que essas são as chaves para que o estilo do Sínodo possa ser fecundo: não fechar os olhos diante do nada; ter um sentido alto de responsabilidade diante de Deus e dos homens, das suas esperanças, de seus sofrimentos, viver uma profunda docilidade à ação do Espírito Santo, a partir de um estilo de oração, de humildade evangélica diante do Senhor e de coragem apostólica diante do mundo.” (RL)
Papa: Sínodo é um caminhar juntos, não um parlamento
Os trabalhos sinodais tiveram início esta segunda-feira (05/10) com a primeira Congregação Geral.
Depois de rezarem a hora média e da saudação do Presidente-delegado, Card. Vingt-Trois, os padres sinodais ouviram o discurso do Santo Padre.
“A Igreja retoma hoje o diálogo iniciado com a proclamação do Sínodo Extraordinário sobre a família e certamente também muito antes, para avaliar e refletir juntos sobre o texto do Instrumento de Trabalho elaborado pela Relatio Synodi e pelas respostas das Conferências Episcopais e dos organismos autorizados”, afirmou.
Vídeo
Sínodo é caminhar juntos
Francisco recordou que o Sínodo não é um congresso ou um parlatório, não é um parlamento nem um senado. Mas é um caminhar juntos, com o espírito de colegialidade e de sinodalidade, adotando corajosamente a parresia, o zelo pastoral e doutrinal, a sabedoria, a franqueza e colocando sempre diante dos olhos o bem da Igreja, das famílias.
“O Sínodo é uma expressão eclesial, isto é, a Igreja que caminha unida para ler a realidade com os olhos da fé e com o coração de Deus. O Sínodo se move necessariamente no seio da Igreja e dentro do santo povo de Deus, do qual nós fazemos parte na qualidade de pastores, ou seja, de servidores. Além disso, o Sínodo é um espaço protegido onde a Igreja experimenta a ação do Espírito Santo. No Sínodo, o Espírito fala através da língua de todas as pessoas que se deixam guiar pelo Deus que sempre surpreende, pelo Deus que revela aos pequeninos aquilo que esconde aos sábios e aos inteligentes; pelo Deus que criou a lei e o sábado para o homem e não vice-versa; pelo Deus que deixa as 99 ovelhas para procurar a única ovelha perdida; pelo Deus que é sempre maior do que nossas lógicas e dos nossos cálculos.”
Espírito Santo
Todavia, advertiu o Papa, o Sínodo só poderá ser um espaço da ação do Espírito Santo se os participantes se revestirem de coragem apostólica, de humildade evangélica e de oração confiante:
“A coragem apostólica que não se deixa intimidar nem diante das seduções do mundo, que tendem a apagar do coração dos homens a luz da verdade, substituindo-a com pequenas e temporárias luzes; a humildade evangélica que sabe esvaziar-se das próprias convicções e preconceitos para ouvir os nossos irmãos; humildade que leva a apontar o dedo não contra os outros para julgá-los, mas para estender a mão, para erguê-los sem jamais se sentir superiores a eles”.
Sem ouvir Deus, concluiu o Papa, “todas as nossas palavras serão somente palavras que não saciam nem servem. Sem deixar-se guiar pelo Espírito, todas as nossas decisões serão somente decorações que, ao invés de exaltar o Evangelho, o cobrem e o escondem”.
Por fim, o Pontífice agradeceu a todos que trabalham e trabalharam para a realização do Sínodo, pedindo a intercessão da Sagrada Família para os trabalhos sinodais. (BF)
Sínodo: acompanhar as famílias com misericórdia, mas na verdade
O Relator-Geral do Sínodo, Card. Peter Erdö, apresentou na 1ª Congregação Geral o Relatório introdutivo dos trabalhos. No texto, dividido em três partes (os desafios, a vocação e a missão da família), o Cardeal húngaro indicou um acompanhamento misericordioso para quem vive situações familiares difíceis, mas sem deixar dúvidas quando à indissolubilidade do matrimônio.
Injustiças desafiam a família
Os desafios para a família são muitos, e o Card. Erdö as recorda com atenção: migrações, injustiças sociais, salários baixos, violência contra as mulheres. As instituições são frágeis, escreve, e os homens e mulheres do nosso tempo têm medo de assumir compromissos definitivos.
Individualismo
O crescente individualismo leva a confundir os confins de instituições fundamentais como o matrimônio e a família, enquanto a sociedade consumista separa sexualidade e procriação, tornando a vida humana e a genitorialidade “realidades componíveis e decomponíveis”.
Indissolubilidade do matrimônio
O Relatório, todavia, ressalta aspectos positivos: são eles – o matrimônio e a família – que não deixam os indivíduos isolados, mas transmitem valores e “oferecem uma possibilidade de desenvolvimento à pessoa humana” insubstituível. E é justamente do matrimônio indissolúvel que deriva a vocação familiar – explica a segunda parte do documento. Indissolubilidade que não é um jogo, mas um dom.
Família é princípio de vida na sociedade
Por isso, o Card. Erdö reitera “a importância da promoção da dignidade do matrimônio e da família”, enquanto “comunidade de vida e amor”. “Igreja doméstica baseada no matrimônio sacramental entre dois cristãos”, “princípio de vida na sociedade”. A família – destaca o documento – é o local onde se aprende a experiência do bem comum”.
Formação dos sacerdotes no acompanhamento familiar
E então qual é a missão da família hoje? É o que explica a terceira parte do Relatório: em primeiro lugar, se reitera a importância da formação seja para os esposos – para que o matrimônio não seja somente um fato exterior e emocional, mas também espiritual e eclesial – seja para o clero, para que acompanhe as famílias com “um amadurecimento afetivo e psicológico”. Sem esquecer da exigência de uma “conversão da linguagem, para que resulte efetivamente significativo” sobretudo quando se trata de ajudar quem vive “situações problemáticas e difíceis”, nas quais é preciso unir “misericórdia e justiça”:
Família e instituições públicas
Outra missão das famílias cristãs é colaborar com instituições públicas e criar estruturas econômicas de apoio para ajudar os núcleos que vivem situações de pobreza, desemprego e falta de assistência social e médica. “Toda a comunidade eclesial deve tentar assistir as famílias vítimas de guerras e perseguições”, lê-se no Relatório.
Famílias feridas: misericórdia e acolhimento
Há ainda a missão “delicada e exigente” da Igreja com as famílias feridas. O método – explica o Relatório – deve ser o da misericórdia e do acolhimento, acompanhado porém da apresentação clara da verdade sobre o matrimônio. “A maior misericórdia é dizer a verdade com amor – afirmou o Card. Erdö. Deve-se ir além da compaixão, porque “o amor misericordioso atrai e une, transforma e eleva e convida à conversão”.
Misericórdia requer a conversão do pecador
O Relatório centra-se, portanto, sobre casos específicos: para os conviventes, sugere “uma sã pedagogia” que oriente seus corações “à plenitude do plano de Deus”; para os divorciados não recasados se encoraja a criação de centros de aconselhamento diocesanos para ajudar os cônjuges nos momentos de crise, apoiando os filhos “vítimas destas situações” e não esquecendo “o caminho do perdão e da reconciliação, se possível”. Para os divorciados recasados, no entanto, se pede “uma aprofundada reflexão”, tendo em conta um princípio importante:
“É imperativo um acompanhamento pastoral misericordioso que, no entanto, não deixe dúvidas sobre a verdade da indissolubilidade do matrimônio, como ensinado pelo próprio Jesus Cristo. A misericórdia de Deus oferece ao pecador o perdão, mas exige a conversão”.
O caminho da penitência e a lei da gradualidade
O Relatório introdutório também enfoca o chamado “caminho penitencial”, especificando que esse pode referir-se aos divorciados recasados que praticam continência e que portanto “poderão aceder também aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, evitando porém de provocar escândalo”. Ou, esse pode ser entendido de acordo com a prática tradicional da Igreja latina que permitia aos sacerdotes ouvir as confissões dos divorciados recasados, dando absolvição apenas para aqueles que, de fato, tinham a intenção de mudar de vida. Com relação à “lei da gradualidade” para se aproximar dos Sacramentos, se especifica: “Embora algumas formas de convivência trazem em si alguns aspectos positivos, isso não implica que possam ser apresentadas como bens”. No entanto, uma vez que “a verdade objetiva do bem moral e a responsabilidade subjetiva do indivíduo” são distintas, então, “em nível subjetivo pode ter lugar a lei da gradualidade e portanto a educação da consciência”.
Cuidado pastoral das pessoas com tendências homossexuais
Outro parágrafo é dedicado ao cuidado pastoral das pessoas homossexuais: eles devem ser acolhidos “com respeito e delicadeza”, evitando qualquer sinal de discriminação injusta, explica o Relatório, recordando, porém, que “não há fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus para o matrimônio e a família”. Além disso, o Cardeal Erdö acrescentou:
“É totalmente inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres para a introdução de leis que estabeleçam o ‘matrimônio’ entre pessoas do mesmo sexo”.
Vida inviolável desde a concepção até a morte natural. Não ao aborto e à eutanásia
Os últimos parágrafos do Relatório abordam o tema da vida, da qual se reafirma o carácter da inviolabilidade desde a concepção até a morte natural. Não, portanto, ao aborto, à terapia agressiva, à eutanásia, e sim à abertura à vida como “uma exigência intrínseca do amor conjugal”. O Cardeal Erdo lembra ainda o grande trabalho da Igreja no apoio às mulheres grávidas, às crianças abandonadas, a quem abortou, às famílias impossibilitadas de curar os seus entes queridos doentes. A Igreja faz sentir a sua presença, compensando as deficiências do Estado e oferecendo um apoio humano e espiritual ao trabalho de assistência, diz o Relator geral, e estes são “valores que não podem ser quantificados com o dinheiro”.
Incentivar a adoção de crianças, uma forma de apostolado familiar
Recomendando, além disso, a “promover a cultura da vida diante da cada vez mais difundida cultura de morte”, o Relatório também sugere “um ensino adequado sobre métodos naturais para a procriação responsável”, redescobrindo a mensagem da Encíclica Humanae Vitae Paulo VI. Central também o incentivo à adoção das crianças, “forma específica de apostolado familiar”.
Igreja seja sempre mais testemunha da misericórdia de Deus
Finalmente, no âmbito da educação, se recorda que “os pais são e permanecem os principais responsáveis pela educação humana e religiosa dos seus filhos” e que cabe à Igreja encorajá-los e apoiá-los “na participação vigilante e responsável” aos programas escolares e educacionais dos filhos. O Relatório se conclui, portanto, exortando a Igreja a “converter-se e tornar-se mais viva, mais pessoal, mais comunitária”, testemunha da “maior misericórdia” de Deus.
Cardeal Baldisseri: Sínodo olhe para a família com ternura e compaixão
Além do Cardeal Erdo, a primeira Congregação Geral do Sínodo dos Bispos teve o discurso do Secretário-Geral da Assembelia, Cardeal Lorenzo Baldisseri, que percorreu, em ordem cronológica, o caminho preparatório deste 14º Sínodo oridinário, enfatizando que a família é um tema “importante e transversal”, que diz respeito não apenas os católicos, mas a todos os cristãos e à humanidade toda. Convidando, em seguida, a Assembleia a trabalhar constantemente “na unidade e para a unidade”, o purpurado saudou os muitos casais presentes no Sínodo, na qualidade de Auditores e Peritos: entre eles – recordou – há uma presença significativa feminina d qual se espera “uma contribuição especial para que o Sínodo possa olhar para a família, com o olhar de ternura, e atenção e compaixão das mulheres”. (BF-SP)
Sínodo, expressão da colegialidade episcopal
Tem início neste domingo, 4 de outubro, com encerramento previsto para o próximo dia 25 a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. É a continuação da III Assembleia Geral Extraordinária realizada em outubro do ano passado. O Sínodo é a expressão “da colegialidade episcopal e das famílias”.
No Sínodo extraordinário no ano passado – palavras dos padres sinodais – tivemos um clima de liberdade, sinceridade e espírito de comunhão fraterna que caracterizou os trabalhos; assim todos puderam contribuir à reflexão. Por isso, o documento final, a Relatio Synodi, publicada após o encerramento dos trabalhos refletiu fielmente com seus matizes, os resultados dos trabalhos do Sínodo.
O Sínodo do ano passado e o que tem início neste domingo com a Santa Missa no Vaticano, teve um espaço, um prazo, que não tem precedentes na história da instituição do Sínodo. Partindo do caminho já realizado aproveitou-se esta oportunidade especial para aprofundar as temáticas e promover o debate em nível de Conferências Episcopais, encontrando os recursos e as ferramentas necessárias para uma maior participação de todos. E isso ocorreu durante o último ano com a distribuição de um questionário que chegou às Igrejas locais solicitando às mesmas a contribuição de todos, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos para uma maior reflexão sobre o tema da família.
Depois tivemos a publicação do Instrumentum Laboris. O documento de trabalho reporta a Relatio Synodi e integra as contribuições provenientes das respostas ao questionário que foi proposto às dioceses. O documento está dividido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
No “Instrumentum Laboris” reafirma-se que o matrimônio é um sacramento indissolúvel, não deixando de recordar o acompanhamento que a Igreja deve fazer das situações de sofrimento através de uma atitude de misericórdia. Não são esquecidas também as situações de nulidade matrimonial.
O documento de trabalho deste Sínodo, apresenta uma atenção especial aos divorciados recasados, sendo desejada uma reflexão sobre a oportunidade de fazer cair “as formas de exclusão atualmente praticadas no campo litúrgico-pastoral, educativo e caritativo”, porque estes fiéis “não estão fora da Igreja”.
No caso particular, da comunhão eucarística aos divorciados recasados, o documento apresenta o “comum acordo” que existe sobre a hipótese de um “caminho penitencial” sob a autoridade de um bispo.
Em relação às uniões homossexuais o documento reafirma a posição contrária da Igreja, sendo, no entanto, apresentada a ideia de que cada pessoa, independentemente, da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza.
Uma fundamental referência no texto aos filhos. O Instrumentum convida a ser valorizada a importância da adoção afirmando que “a educação de um filho deve basear-se na diferença sexual, assim como a procriação”, pois esta tem o seu fundamento “no amor conjugal entre um homem e uma mulher”.
A Igreja no Brasil também está presente no Sínodo sobre a família. Cinco bispos vão representar o episcopado brasileiro: Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília (DF) e Presidente da CNBB; Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo (SP); Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA); Dom Geraldo Lírio Rocha, Arcebispo de Mariana (MG); e o Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida (SP), Presidente Delegado.
De acordo com o Arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lírio Rocha, as contribuições do Brasil junto ao Sínodo se darão em torno de sua riqueza cultural, do sentido de família presente no povo brasileiro, do apreço à família, bem como das iniciativas da Igreja brasileira com relação ao tema. “Nós levamos para o Sínodo uma reflexão muito ampla e não só, mas uma prática de ação pastoral em defesa da vida e em favor da família, que se consolidou no Brasil em todas as regiões”.
Por ser um evento mundial, o Sínodo tem suas estratégias para organizar as discussões, como por exemplo, as plenárias e os grupos de trabalho. As plenárias são os principais momentos de discussão, nas quais cada país fará suas colocações e apresentará suas respectivas realidades.
Já os grupos de trabalhos serão ocasião para os bispos, divididos por idiomas, elaborarem as proposições que, ao final, do Sínodo serão apresentadas ao Papa Francisco. Os idiomas oficiais do Sínodo são: latim, inglês, italiano, francês, espanhol e o alemão.
O Sínodo não terá um documento final a ser apresentado a toda a Igreja, mas um documento que deverá ser entregue ao Santo Padre para que ele sim, em nome da Igreja, apresente uma exortação apostólica pós-sinodal.
O Sínodo não é uma espécie de parlamento, mas sim um encontro de bispos na qualidade de pastores da Igreja. Não é uma reunião de técnicos, de especialistas ou de peritos em determinada matéria, de alguma ciência. O Sínodo é um acontecimento eclesial, por isso, ele se respalda na palavra de Deus e no Magistério da Igreja, com a intercessão do Espírito Santo. Vamos rezar pelo bom êxito dos trabalhos. (Silvonei José)
SAUDAÇÃO DO PAPA FRANCISCO
AOS PADRES SINODAIS DURANTE A 1º CONGREGAÇÃO GERAL
DA III ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA
DO SÍNODO DOS BISPOS
Segunda-feira, 6 de Outubro de 2014
Eminências, Beatitudes, Excelências irmãos e irmãs
Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas a este encontro, enquanto vos agradeço de coração a vossa presença e assistência solícitas e qualificadas.
Em vosso nome, gostaria de manifestar o meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que trabalharam com dedicação, paciência e competência, durante longos meses, lendo, avaliando e elaborando os temas, os textos e os trabalhos desta Assembleia Geral Extraordinária.
Permiti que eu dirija um obrigado particular e cordial ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, a D. Fabio Fabene, Subsecretário, e juntamente com eles a todos os relatores, escritores, consultores e tradutores, bem como a todos os funcionários da secretaria do Sínodo dos Bispos. Eles trabalharam incansavelmente, e continuam a labutar, pelo bom êxito do presente Sínodo: verdadeiramente, muito obrigado, e que o Senhor vos recompense!
Agradeço igualmente ao Conselho pós-sinodal, ao relator e ao Secretário-Geral; às Conferências Episcopais, que trabalharam realmente muito e, juntamente com eles, agradeço também aos três Presidentes delegados…
Mas estou grato inclusive a vós, estimados Cardeais, Patriarcas, Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas, pela vossa presença e pela vossa participação, que enriquecem os trabalhos e o espírito de colegialidade e de sinodalidade para o bem da Igreja e das famílias! Também este espírito de sinodalidade, desejei que estivesse presente na eleição do relator, do Secretário-Geral e dos Presidentes delegados. Os primeiros dois foram eleitos directamente pelo Conselho pós-sinodal, também ele eleito pelos participantes no último Sínodo. No entanto, dado que os Presidentes delegados devem ser escolhidos pelo Papa, eu solicitei ao próprio Conselho pós-sinodal que propusesse alguns nomes, e nomeei aqueles que o Conselho me propôs.
Vós transmitis a voz das Igrejas particulares, reunidas a nível de Igrejas locais mediante as Conferências Episcopais. A Igreja universal e as Igrejas particulares são de instituição divina; as Igrejas locais assim entendidas são de instituição humana. Esta é a voz que transmitireis em sinodalidade. Trata-se de uma grande responsabilidade: anunciar as realidades e as problemáticas das Igrejas, para as ajudar a percorrer aquele caminho que é o Evangelho da família.
Uma condição geral de base é a seguinte: falar claro. Que ninguém diga: «Isto não se pode dizer; pensará de mim assim ou assim…». É necessário dizer tudo o que se sente com parrésia. Depois do ultimo Consistório (Fevereiro de 2014), no qual se falou sobre a família, um Cardeal escreveu-me dizendo: é uma lástima que alguns Purpurados não tiveram a coragem de dizer certas coisas por respeito ao Papa, talvez julgando que o Papa pensasse de outra maneira. Isto não está bem, isto não é sinodalidade, porque é necessário dizer tudo aquilo que, no Senhor, sentimos que devemos dizer: sem hesitações, sem medo. E, ao mesmo tempo, é preciso ouvir com humildade e aceitar de coração aberto aquilo que os irmãos dizem. A sinodalidade exerce-se com estas duas atitudes.
É por isso que vos peço, por favor, estas atitudes de irmãos no Senhor: falar com parrésia e ouvir com humildade. E fazei-o com grande tranquilidade e paz, porque o Sínodo se realiza sempre cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos e guardião da fé.
Estimados irmãos, colaboremos todos para que se afirme com clareza a dinâmica da sinodalidade. Obrigado!
SANTA MISSA DE ABERTURA
DA XIV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
XXVII Domingo do Tempo Comum, 4 de Outubro de 2015
«Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós» (1 Jo 4, 12).
As Leituras bíblicas deste Domingo parecem escolhidas de propósito para o evento de graça que a Igreja está a viver, ou seja, a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos que tem por tema a família e é inaugurada com esta celebração eucarística.
Aquelas estão centradas em três argumentos: o drama da solidão, o amor entre homem-mulher e a família.
A solidão
Como lemos na primeira Leitura, Adão vivia no Paraíso, impunha os nomes às outras criaturas, exercendo um domínio que demonstra a sua indiscutível e incomparável superioridade, e contudo sentia-se só, porque «não encontrou auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 20) e sentia a solidão.
A solidão, o drama que ainda hoje aflige muitos homens e mulheres. Penso nos idosos abandonados até pelos seus entes queridos e pelos próprios filhos; nos viúvos e nas viúvas; em tantos homens e mulheres, deixados pela sua esposa e pelo seu marido; em muitas pessoas que se sentem realmente sozinhas, não compreendidas nem escutadas; nos migrantes e prófugos que escapam de guerras e perseguições; e em tantos jovens vítimas da cultura do consumismo, do «usa e joga fora» e da cultura do descarte.
Hoje vive-se o paradoxo dum mundo globalizado onde vemos tantas habitações de luxo e arranha-céus, mas o calor da casa e da família é cada vez menor; muitos projectos ambiciosos, mas pouco tempo para viver aquilo que foi realizado; muitos meios sofisticados de diversão, mas há um vazio cada vez mais profundo no coração; tantos prazeres, mas pouco amor; tanta liberdade, mas pouca autonomia… Aumenta cada vez mais o número das pessoas que se sentem sozinhas, e também daquelas que se fecham no egoísmo, na melancolia, na violência destrutiva e na escravidão do prazer e do deus-dinheiro.
Em certo sentido, hoje vivemos a mesma experiência de Adão: tanto poder acompanhado por tanta solidão e vulnerabilidade; e ícone disso mesmo é a família. Verifica-se cada vez menos seriedade em levar por diante uma relação sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa e na má sorte. Cada vez mais o amor duradouro, fiel, consciencioso, estável, fecundo é objecto de zombaria e olhado como se fosse uma antiguidade. Parece que as sociedades mais avançadas sejam precisamente aquelas que têm a taxa mais baixa de natalidade e a taxa maior de abortos, de divórcios, de suicídios e de poluição ambiental e social.
O amor entre homem e mulher
Ainda na primeira Leitura, lemos que o coração de Deus, ao ver a solidão de Adão, ficou como que entristecido e disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 18). Estas palavras demonstram que nada torna tão feliz o coração do homem como um coração que lhe seja semelhante, lhe corresponda, o ame e tire da solidão e de sentir-se só. Demonstram também que Deus não criou o ser humano para viver na tristeza ou para estar sozinho, mas para a felicidade, para partilhar o seu caminho com outra pessoa que lhe seja complementar; para viver a experiência maravilhosa do amor, isto é, amar e ser amado; e para ver o seu amor fecundo nos filhos, como diz o salmo que foi proclamado hoje (cf. Sal128).
Tal é o sonho de Deus para a sua dilecta criatura: vê-la realizada na união de amor entre homem e mulher; feliz no caminho comum, fecunda na doação recíproca. É o mesmo desígnio que Jesus, no Evangelho de hoje, resume com estas palavras: «Desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só» (Mc 10, 6-8; cf. Gn 1, 27; 2, 24).
Jesus, perante a pergunta retórica que Lhe puseram (provavelmente como uma cilada, para fazê-Lo sem mais aparecer odioso à multidão que O seguia e que praticava o divórcio, como uma realidade consolidada e intangível), responde de maneira franca e inesperada: leva tudo de volta à origem, à origem da criação, para nos ensinar que Deus abençoa o amor humano, é Ele que une os corações de um homem e de uma mulher que se amam e liga-os na unidade e na indissolubilidade. Isto significa que o objectivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a ordem originária e originadora.
A família
«Pois bem. O que Deus uniu não o separe o homem» (Mc 10, 9). É uma exortação aos crentes para superar toda a forma de individualismo e de legalismo, que se esconde num egoísmo mesquinho e no medo de aderir ao significado autêntico do casal e da sexualidade humana no projecto de Deus.
Com efeito, só à luz da loucura da gratuidade do amor pascal de Jesus é que aparecerá compreensível a loucura da gratuidade dum amor conjugal único e usque ad mortem.
Para Deus, o matrimónio não é utopia da adolescência, mas um sonho sem o qual a sua criatura estará condenada à solidão. De facto, o medo de aderir a este projecto paralisa o coração humano.
Paradoxalmente, também o homem de hoje – que muitas vezes ridiculariza este desígnio – continua atraído e fascinado por todo o amor autêntico, por todo o amor sólido, por todo o amor fecundo, por todo o amor fiel e perpétuo. Vemo-lo ir atrás dos amores temporários, mas sonha com o amor autêntico; corre atrás dos prazeres carnais, mas deseja a doação total.
De facto, «agora que provámos plenamente as promessas da liberdade ilimitada, começamos de novo a compreender a expressão “a tristeza deste mundo”. Os prazeres proibidos perderam o seu fascínio, logo que deixaram de ser proibidos. Mesmo quando são levados ao extremo e repetidos ao infinito, aparecem insípidos, porque são coisas finitas, e nós, ao contrário, temos sede de infinito» (Joseph Ratzinger, Auf Christus schauen. Einübung in Glaube, Hoffnung, Liebe, Friburgo 1989, p. 73).
Neste contexto social e matrimonial bastante difícil, a Igreja é chamada a viver a sua missão na fidelidade, na verdade e na caridade. A Igreja é chamada a viver a sua missão na fidelidade ao seu Mestre como voz que grita no deserto, para defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que vivem o seu matrimónio como um espaço onde se manifesta o amor divino; para defender a sacralidade da vida, de toda a vida; para defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente.
A Igreja é chamada a viver a sua missão na verdade que não se altera segundo as modas passageiras ou as opiniões dominantes. A verdade que protege o homem e a humanidade das tentações da auto-referencialidade e de transformar o amor fecundo em egoísmo estéril, a união fiel em ligações temporárias. «Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade» (Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 3).
E a Igreja é chamada a viver a sua missão na caridade que não aponta o dedo para julgar os outros, mas – fiel à sua natureza de mãe – sente-se no dever de procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia; de ser «hospital de campanha», com as portas abertas para acolher todo aquele que bate pedindo ajuda e apoio; e mais, de sair do próprio redil ao encontro dos outros com amor verdadeiro, para caminhar com a humanidade ferida, para a integrar e conduzir à fonte de salvação.
Uma Igreja que ensina e defende os valores fundamentais, sem esquecer que «o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27); e sem esquecer que Jesus disse também: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17). Uma Igreja que educa para o amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de bom samaritano da humanidade ferida.
Recordo São João Paulo II, quando dizia: «O erro e o mal devem sempre ser condenados e combatidos; mas o homem que cai ou que erra deve ser compreendido e amado. (…) Devemos amar o nosso tempo e ajudar o homem do nosso tempo» [Discurso à Acção Católica Italiana, 30 de Dezembro de 1978: Insegnamenti (1978), 450]. E a Igreja deve procurá-lo, acolhê-lo e acompanhá-lo, porque uma Igreja com as portas fechadas atraiçoa-se a si mesma e à sua missão e, em vez de ser ponte, torna-se uma barreira: «De facto, tanto o que santifica, como os que são santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes chamar irmãos» (Heb 2, 11).
Com este espírito, peçamos ao Senhor que nos acompanhe no Sínodo e guie a sua Igreja pela intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria e de São José, seu castíssimo esposo.
Vigília: “Papa pede aos Padres Sinodais que se coloquem à escuta da família”
O Santo Padre presidiu, na tarde deste sábado (03/10), na Praça São Pedro, no Vaticano, à Vigília de Oração pela Família, promovida pela Conferência Episcopal Italiana, em preparação prévia da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família.
A Assembleia Sinodal sobre a Família será inaugurada na manhã deste domingo (04/10), na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com uma solene concelebração Eucarística, presidida pelo Papa Francisco. Os trabalhos sinodais, que têm como tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, se concluirão no próximo dia 25.
Na homilia, que pronunciou diante das milhares de famílias, na monumental Praça São Pedro, Francisco partiu das palavras do Patriarca Atenágoras: “Sem o Espírito Santo, Deus fica longe, Cristo permanece no passado, a Igreja torna-se uma simples organização; a autoridade transforma-se em domínio, a missão em propaganda, o culto em evocação, o agir dos cristãos em uma moral de escravos.
Por isso, o Papa pediu a oração dos presentes pelo Sínodo, para que “saiba reconduzir a uma figura de homem, na sua plenitude, a experiência conjugal e familiar; reconheça, valorize e proponha tudo o que nela há de belo, bom e santo”.
Que os trabalhos sinodais possam abranger as situações de vulnerabilidade, que colocam a família à prova: pobreza, guerra, doença, luto, relações feridas e desfeitas, das quais brotam contrariedades, ressentimentos e rupturas; chamem a atenção das famílias, de todas as famílias, para o Evangelho, que permanece a «Boa Nova», de onde recomeçar.
Do tesouro da tradição viva, o Santo Padre espera que os Padres sinodais possam encontrar palavras de consolação e diretrizes de esperança para famílias, chamadas a construir, neste tempo, o futuro da comunidade eclesial e da cidade do homem. Pois, cada família é sempre uma luz, ainda que tênue, na escuridão do mundo.
A história de Jesus, que viveu entre os homens, começou no seio de uma família, na qual permaneceu por 30 anos. A sua família era como muitas outras, situada em uma remota aldeia da periferia do Império.
Depois, o Bispo de Roma tomou o exemplo, de Charles de Foucauld que intuiu o alcance da espiritualidade que emana da Família de Nazaré. Este grande explorador, deixou a carreira militar, fascinado pelo mistério da Sagrada Família, da relação diária de Jesus com os pais e os vizinhos, do trabalho silencioso, da oração humilde; ele compreendeu que “são os simples e os pobres que nos evangelizam e nos ajudam a crescer em humanidade”.
Para compreender a família, hoje, advertiu o Papa, também nós devemos penetrar, como Charles de Foucauld, no mistério da Família de Nazaré, na sua vida escondida, rotineira e comum, como a maioria das nossas famílias, que têm uma vida de paciência, respeito, humildade, fraternidade, unidade.
Por fim, recordou Francisco, “a família é lugar de santidade evangélica, discernimento, gratuidade; é lugar de presença discreta, fraterna e solidária, que ensina a sair de si mesmo para acolher o outro, para perdoar e ser perdoados.
Neste sentido, o Santo Padre expressou seu desejo de o Sínodo possa partir de Nazaré; mais do que falar de família, saiba aprender dela, reconhecendo a sua dignidade, consistência e valor, apesar das suas muitas dificuldades e contradições.
O Papa concluiu sua homilia fazendo votos de que este Sínodo para a Família possa descobrir a grandeza de uma Igreja que é “mãe”, capaz de gerar e zelar pela vida. É preciso, frisou, “saber unir a compaixão à justiça”, para não ser inutilmente severo e profundamente injusto. Enfim, a Igreja é “casa aberta”, sem grandezas exteriores; é acolhedora e suscita esperança e paz; ela foi a primeira a ser regenerada pelo Coração misericordioso do Pai. (MT)
Fonte: Rádio Vaticano