O Sínodo é um momento de esperança

Publicado em 14/10/2015 | Categoria: Notícias |


 

“Nessa segunda parte do Instrumento de Trabalho, os 13 grupos discutiram a vocação da família, iluminada pela Palavra de Deus e pelo magistério da Igreja. O relatório é muito diverso, porque nós temos 13 grupos linguísticos e cada um dos grupos muitas vezes com a presença de bispos, de padres sinodais de diferentes países, diferentes culturas, tradições, mas creio que tiveram um consenso num ponto: de que é preciso ressaltar melhor a Palavra de Deus para iluminar a vocação da família e utilizar mais o próprio magistério da Igreja. Em relação a isso, houve um consenso de modo geral nos relatórios.”

Críticas

“Alguns, é claro, questionaram a lógica na apresentação do tema. Por isso, insistiram em reagrupar alguns números em diferentes lugares, porque muitas vezes o tema é repetido. Mas de um modo geral, foi positivo. Claro que na terceira parte teremos propostas mais concretas de ação pastoral. Às vezes, houve até uma crítica de que havia propostas pastorais ainda nesta segunda parte, que deveriam ser colocadas na terceira parte do documento de trabalho. Esta foi também uma das críticas que apareceram nos relatórios do grupo. Ao tratar o tema com outros padres sinodais, não mais os mesmos do Sínodo extraordinário, é claro que há acréscimos. E o objetivo é este: aperfeiçoar, enriquecer e melhorar a relatio synodi.” (BF)

Entrevista: ‘Muitos pastores e famílias cristãs são chamadas a acompanhar muitos que, sem saber, estão buscando a Deus’

 

O Sínodo “é um momento que aparece como uma grande graça dentro do que é o caminhar da Igreja em um grande sopro do Espírito Santo que nos acompanha e nos permite olhar o futuro com otimismo’.

Assim falou nesta segunda-feira o cardeal arcebispo de Santiago de Chile, Ricardo Ezzati, ao compartilhar com ZENIT as suas impressões sobre a assembleia sinodal em curso. Acrescentou que o ser cristão é um processo que muitas vezes implica busca, conversão, compreensão, misericórdia. E portanto, pastoralmente é necessário envolver a família, os pastores da Igreja, e os mesmos leigos nesta perspectiva de caminho.

Recordou também que muitos pastores e famílias cristãs são chamadas a acompanhar a muitos que, sem saber, estão buscando a Deus porque Deus lhes está buscando. Acompanhe a entrevista abaixo:

*** 

ZENIT: Qual é a experiência deste Sínodo sobre a família?

– Card. Ezzati: Em primeiro lugar a experiência eclesial, o fato de que um grupo tão numeroso de bispos, sacerdotes e leigos possamos nos encontrar com o sucessor de Pedro para discutir um assunto tão importante, não só para a Igreja mas para o mundo de hoje. Isso é um sinal maravilhoso, de grande fraternidade e responsabilidade.

ZENIT: Em que sentido fraternidade e responsabilidade?

– Card. Ezzati: fraternidade no sentido de que estamos enfrentando juntos com o papa Francisco uma temática que hoje toca profundamente a vida das pessoas, mas também é uma experiência colegial onde cada um, a partir da sua experiência, a partir da sua fé, vivida na vida diária, no contato com as comunidades cristãs e onde a vida cristã vai crescendo, vai oferecendo as melhores experiências de reflexão, e de vida, que permitem dar um novo sopro renovado do Espírito do que é a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo de hoje.

ZENIT: O papa disse que o Sínodo é um lugar protegido onde o Espírito Santo inspira…

– Card. Ezzati: Vejo-o assim, com olhos de fé e com os olhos de fé de um discípulo que tem sempre no caminho as suas dúvidas, as suas noites escuras. E este momento aparece como uma grande graça dentro do que é o caminhar da Igreja e dentro do que significa caminhar na Igreja com um grupo muito significativo de membros da Igreja, que vivem, testemunham e anunciam o evangelho da família no mundo de hoje. Portanto, um grande sopro do Espírito que nos acompanha e nos permite olhar com otimismo, porque o Espírito nos leva sempre.

ZENIT: Quais avanços podem surgir na pastoral?

– Card. Ezzati: a realidade cristã é um caminho. Tertuliano dizia: ‘não nascemos cristãos, nos estamos fazendo cristãos’. Também a família não nasce com todas as experiências e as qualidades e esplendor. A família cristã vai se fazendo através de um processo que muitas vezes envolve busca, conversão, compreensão, misericórdia, e portanto, pastoralmente é necessário colocar o trabalho da própria família, dos pastores da Igreja e dos próprios leigos, nesta perspectiva de caminho, em uma perspectiva de uma família que vai se fazendo cada vez mais cristã. E isso sem pretender que de uma hora pra outra tenhamos chegado à meta ótima, mas acolhendo a processualidade também do que significa fazer-se cristão em família e fazer que a família chegue a ser o mais cristã possível.

ZENIT: Quais são os desafios particulares no Chile e na América Latina?

– Card. Ezzati: No Chile temos famílias exemplares, que caminham e procuram caminhar na fidelidade do

Evangelho, na missão da Igreja e que são fecundas de filhos, que são verdadeiramente Igreja doméstica, que descobriram a sua vocação e missão de ser evangelizadoras. Temos famílias que estão feridas, descobrindo o que significa ser família abençoada pelo sacramento do matrimônio.

Falava-me uma professora da Universidade que abençoou o seu casamento há alguns meses, no processo de preparação na paróquia dela, ela era a única, com o seu esposo, que ainda não estavam casados e nem conviviam. De 10 casais, 9 viviam já uma ‘realidade’ de família e vida matrimonial. Então, os desafios que temos no Chile está enfrentando a Europa, e vejo dialogando com os bispos vizinhos do Perú, da Bolívia, da Colômbia, que é o problema de tantos outros países.

Mas isso não deve nos desanimar, porque o Espírito Santo está agindo, essas mesmas pessoas que já vivem juntas sem o sacramento do matrimônio, e até mesmo sem o casamento civil, o Espírito está atuando e vai despertando nelas o desejo e a vontade de dar passos ulteriores, de descobrir a beleza de ser um matrimônio que seja digno do infinito amor que Jesus Cristo tem pela sua Igreja.

ZENIT: Ou seja, que Deus está agindo para leva-los ao caminho certo?

– Card. Ezzati: Mais do que nunca hoje os pastores e as famílias cristãs conscientes da sua vocação e missão na Igreja e no mundo, são chamadas a acompanhar muitos que, sem saber, estão buscando a Deus e que Deus está buscando-as, precisamente através da mediação eclesial que somos cada um de nós.

ZENIT: Francisco, a este respeito, pede para sair…

– Card. Ezzati: Sair com a capacidade espiritual, a humildade espiritual, de saber que Deus colocou em nós um dom que quer ser dom para os demais e que a tarefa é colocar esse dom a disposição dos demais, não porque seja nosso, porque não é, é um dom gratuito. A missão que temos é de ser mediação de Jesus para que esse dom chegue a muitas e muitas pessoas, especialmente aos jovens.

ZENIT: Muitos jovens não se casam?

– Card. Ezzati: Hoje em dia os jovens, pelo menos na minha experiência, e o que as estatísticas nos falam, têm o desejo grande de formar uma família, querem uma família como um grande ideal. Nem sempre têm o apoio, até mesmo da sociedade civil. E, reconheçamos humildemente, às vezes nem sequer dos nossos pastores, de acompanhar esse desejo grande e belo que têm para ir cultivando-o.

É esse desejo de plenitude, e nós humildemente temos que colocar o dom da graça que recebemos a serviço do Senhor.

Fonte: Zenit



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