O Senhor passa pelos nossos caminhos. É preciso ter olhos atentos para reconhecê-lo
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra
Ano C – 3º Domingo da Páscoa
Jesus vem até nós, é preciso se colocar atento para percebê-lo.
O homem, por se sentir distante de Deus, seguia triste pelo caminho. “Senhor, por favor, fale comigo”. E um passarinho cantou pertinho dele, mas nada o homem escutou. Seguiu mais um pouco e como a tristeza aumentasse, clamou uma vez mais: “Senhor, não notas que necessito por demais ouvir a sua voz?” Um relâmpago cortou o céu e o homem não o viu. Nesta hora, já era noite, ele chorava angustiado e exclamou aos céus: “Deus, mostre-se de alguma forma para mim!” Uma linda estrela brilhou forte no céu, mas ele foi incapaz de percebê-la. Desesperado então gritava: “Senhor, faça-me observar um milagre!” Praticamente ao seu lado uma criança nasceu. Mas o homem foi incapaz de perceber. “Ah, meu Deus, como permaneces silencioso por demais pelo menos me toque!”. A borboleta pousou em seu ombro e ele a afastou com um gesto rude. E o homem desiludido, mergulhado em desespero, continuou seu caminho aos trancos e barrancos. Solitário, triste e com muito medo.
Trata-se de texto altamente simbólico. Prova disto é que outro evangelista, por exemplo, ambientará as aparições de Jesus aos amigos somente em Jerusalém (Lucas). Como os apóstolos não poderiam estar nos dois locais ao mesmo tempo se torna evidente a intenção simbólica do autor. O evangelista quer nos mostrar muito mais do que as aparências sugerem.
Havia grande desilusão entre os companheiros de Jesus. Depois de terem se tornado “pescadores de gente”, iremos encontrá-los, acabrunhados, de volta ao lago às margens do qual um dia Jesus os chamara. Quando a gente perde tudo, inclusive a esperança, costuma retornar ao local de origem. Na raiz é possível resgatar novamente as forças que davam a impressão de ter desaparecido.
Estavam descrentes. As coisas deram errado. Seu Senhor, aquele a quem seguiram, Jesus, em quem tinham acreditado tão profundamente, estava morto. Melhor então que voltassem àquilo que sabiam fazer: a pesca. Pedro então, fazendo valer um pequeno resto da sua liderança, meio desanimado, os chama a pescar.
Mas nada de achar alguma coisa. O tamanho do abatimento daquele grupo era tamanho que até os peixes pareciam fugir deles. É então que alguém os interpela: “Moços, tendes alguma coisa para comer?” Em seguida os anima a lançar novamente as redes. E esta agora está transbordante de peixes grandes.
“É o Senhor”, um deles, nesse caso João, aquele que Jesus amava, o reconhece. O reconhecimento de Deus se dá no Amor. Quando se ama se pode ver o Senhor. Por isto, é bom pensar que mais do que crises de fé, o que a gente costuma viver são crises de Amor. A falta dele é que gera a descrença. E quando se dão conta, mesmo sem perguntá-lo, se era Ele mesmo a alegria retorna, a paz se faz presente, animados sentem-se impelidos para adiante.
E é na mesa de refeição que o reconhecimento total se dá. Que o encontro enfim acontece de maneira plena. Jesus é sempre aquele que distribui pão e peixe para que os seus amigos possam se alimentar. O Senhor é sempre aquele perto do qual ninguém passa fome. A sua presença se dá no reconhecimento do irmão. Na alegria da fraternidade que nos une. Na vida que, insistente, teimosa até, está sempre brotando à nossa volta.
É significativa e bonita demais esta maneira que o evangelista encontra de abordar a missão de Pedro. Como três vezes ele poucos dias antes o havia traído, será também através de três perguntas, bem assertivas, que o Senhor buscará dele o compromisso da liderança na Igreja nascente.
Estas questões não dizem respeito à competência e muito menos à sabedoria do apóstolo. O mais importante é o Amor e será sobre ele que Jesus lhe perguntará. Será também sobre ele que um dia seremos lembrados. Sim, trataremos do Amor naquele tempo maravilhoso, quando também nós, ressuscitados, nos postarmos diante da Trindade Santa.
Pistas para reflexão durante a semana:
– Como reconheço o Senhor?
– De que maneira minhas refeições são partilhadas?
– …(o seu nome) …………… , Tu me amas?