Papa: Jesus é o caminho, mas muitos cristãos são teimosos
Jesus é o caminho justo da vida cristã e é importante verificar constantemente se o estamos seguindo com coerência ou se a experiência de fé foi perdida ou interrompida ao longo do caminho. Este foi o centro da reflexão feita pelo Papa na missa da manhã desta terça-feira, (03/05), na Casa Santa Marta.
A vida da fé é um caminho e ao longo dele se encontram vários tipos de cristãos. O Papa fez uma breve lista deles: cristãos-múmias, cristãos errantes, cristãos teimosos, cristãos meio-termo – aqueles que se encantam diante de um belo panorama e ficam parados. Gente que por uma ou outra razão se esqueceu que o único caminho justo – como recorda o Evangelho do dia – é Jesus, que confirma a Tomé: “Eu sou o caminho, quem me viu, viu o Pai”.
“Múmias espirituais”
Francisco examinou cada uma destas tipologias de cristãos confusos, começando antes de tudo pelo cristão que ‘não caminha’, que dá a ideia de ser um pouco ‘embalsamado’:
“Um cristão que não caminha, que não percorre a estrada, é um cristão um pouco ‘paganizado’: fica ali, parado, não vai avante na vida cristã, não faz florescer as bem-aventuranças em sua vida, não faz obras de misericórdia… É estático. Desculpem-me a palavra, mas é como se fosse uma ‘múmia’, uma ‘múmia espiritual’. Parados… Não fazem mal, mas não fazem bem”.
Os teimosos e os errantes
Eis então que surge o cristão obstinado. Quando se caminha – explicou Francisco – pode-se errar a estrada, mas isso não é o pior. Para o Papa, “a tragédia é ser teimosos e dizer ‘este é o caminho’ e não deixar que a voz do Senhor nos diga ‘volte atrás e retome o caminho certo’. E depois, existe a quarta categoria, a dos cristãos que caminham, mas não sabem para onde vão”.
“São errantes na vida cristã, vagantes. A vida deles é vagar, aqui e ali, e perdem assim a beleza de se aproximar de Jesus na vida de Jesus. Perdem o caminho porque vagam e, muitas vezes, esse vagar, vagar errante, os levam a uma vida sem saída: o muito vagar se transforma em labirinto e depois não sabem sair. Perderam o chamado de Jesus. Não têm bússola para sair e vagam; procuram. Há outros que no caminho são seduzidos por uma beleza, por algo e param na metade do caminho, fascinados por aquilo que veem, por aquela ideia, por aquela proposta, por aquela paisagem … E param! A vida cristã não é um fascínio: é uma verdade! É Jesus Cristo!”.
O momento das perguntas
Observando o quadro, refletiu Francisco, podemos nos questionar. Como vai o “caminho cristão que iniciei no Batismo? Está parado? Errei o caminho? Vago continuamente e não sei aonde ir espiritualmente? Paro diante das coisas que gosto: a mundanidade, a vaidade” ou vou “sempre adiante”, tornando “concretas as Bem-aventuranças e as Obras de misericórdia?”. Porque “o caminho de Jesus – concluiu – é tão cheio de consolações, de glória e também de cruzes. Mas sempre com paz na alma”:
“Esta é a nossa pergunta do dia, façamo-la, cinco minutinhos … Como eu sou neste caminho cristão? Parado, errante, vagando, parando diante das coisas de que gosto ou diante de Jesus ‘Eu sou o caminho’? E peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a caminhar bem, sempre! E quando nos cansarmos, façamos uma pequena pausa e avante. Peçamos esta graça”.
(bf/cm)
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“Ataques e perseguição, o preço do testemunho cristão”
O Papa Francisco começou a semana celebrando a Missa na capela de sua residência, a Casa Santa Marta. Próximos da celebração de Pentecostes, as leituras falam sempre mais do Espírito Santo. De fato, os Atos dos Apóstolos referem que o Senhor abriu o coração de uma mulher de nome Lídia, uma comerciante de púrpura que na cidade de Tiatira ouvia as palavras de Paulo.
“Esta mulher sentiu algo dentro de si, que a levou a dizer: ‘Isso é verdade! Eu estou de acordo com aquilo que este homem diz, este homem que testemunha Jesus Cristo. O que ele diz é verdade!’. Mas quem tocou o coração desta mulher? Quem lhe disse: ‘Ouça, porque é verdade’? Foi precisamente o Espírito Santo que fez com que esta mulher sentisse que Jesus era o Senhor; fez com que sentisse que a salvação estava nas palavras de Paulo; fez com que esta mulher ouvisse um testemunho. O Espírito dá testemunho de Jesus. E todas as vezes que nós sentimos no coração algo que nos aproxima de Jesus, é o Espírito que trabalha dentro de nós”, refletiu Francisco.
Perseguição
O Evangelho fala de um testemunho duplo: o Espírito que testemunha Jesus e o nosso testemunho. Nós somos testemunhas do Senhor com a força do Espírito. Jesus convida os discípulos a não se escandalizarem, porque o testemunho carrega consigo as perseguições. Das “pequenas perseguições das fofocas”, das críticas, àquelas grandes perseguições, de que “a história da Igreja está repleta, que leva os cristãos à prisão e os leva até mesmo a dar a vida”:
“É o preço do testemunho cristão, disse Jesus. ‘Expulsarão vocês das sinagogas e chegará a hora em que alguém, ao matar vocês, pensará que está oferecendo um sacrifício a Deus’. O cristão, com a força do Espírito, testemunha que o Senhor vive, que o Senhor ressuscitou, que o Senhor está entre nós, que o Senhor celebra conosco sua morte e ressurreição, toda vez que nos dirigimos ao altar. O cristão dá também testemunho, ajudado pelo Espírito, em sua vida cotidiana, com o seu modo de agir, mas muitas vezes este testemunho provoca ataques, provoca perseguições.”
“O Espírito Santo que nos fez conhecer Jesus”, concluiu o Papa, “é o mesmo que nos impele a torná-lo conhecido, não tanto com palavras, mas com o testemunho de vida”:
“É bom pedir ao Espírito Santo que venha ao nosso coração para dar testemunho de Jesus; dizer-lhe: Senhor, que eu não me distancie de Jesus. Ensina-me o que Jesus ensinou. Faz-me lembrar o que Jesus disse e fez, e ajuda-me a testemunhar estas coisas. Que a mundanidade, as coisas fáceis, as coisas que vem do pai da mentira, do príncipe deste mundo, o pecado, não me distanciem do testemunho”.
(BF/MJ)
Papa aos mercedários: renovar-se para responder aos desafios do mundo
O Papa Francisco concluiu sua série de audiências na manhã de segunda-feira, (02/05), recebendo cerca de 50 mercedários por ocasião do Capítulo Geral no VIII centenário da Ordem.
Comentando o lema do Capítulo – “As Mercês: memória e profecia nas periferias da liberdade” – o Pontífice afirmou em seu discurso que há muito o que recordar nesses oito séculos: a obra de redenção dos prisioneiros, a missão audaz no novo mundo, os santos da Ordem, mas também os erros. Todavia, advertiu, essa lembrança não se deve limitar a uma exposição do passado, mas a uma avaliação das conquistas sem esquecer dos limites e, sobretudo, dos desafios que a humanidade apresenta.
“A verdadeira vida da Ordem deve ser buscada no constante esforço para adequar-se e renovar-se, a fim de poder dar uma resposta generosa às necessidades reais do mundo e da Igreja, sendo fiéis ao patrimônio perene de que são depositários”, afirmou Francisco.
Misericórdia divina
Com este espírito, prosseguiu, podemos falar realmente de profecia. Porque ser profeta é emprestar nossa voz humana à Palavra eterna, esquecermos de nós mesmos para que seja Deus a se manifestar. Os mercedários têm a missão de seguir Cristo levando a boa nova do Evangelho aos pobres e para a libertação dos prisioneiros. “Queridos irmãos, nossa profissão religiosa é um dom e uma grande responsabilidade, pois a levamos em vasos de barro. Não confiemos em nossas próprias forças, mas nos entreguemos sempre à misericórdia divina.”
O profeta, disse ainda o Papa, sabe ir às periferias, como fizeram inúmeros membros da Ordem. “Segui-los é assumir que, para libertar, devemos nos fazer pequenos, unirmo-nos ao prisioneiro, na certeza de que assim não só cumpriremos nosso propósito de redimir, mas encontramos também nós a verdadeira liberdade”.
Pedido do Papa
Francisco concluiu seu discurso com uma exortação: “No oitavo centenário da Ordem, não deixem de proclamar o ano de graça a todos aqueles aos quais são enviados: aos perseguidos por causa da fé e aos que estão privados de liberdade, às vítimas do tráfico, aos jovens de suas escolas, e aos fiéis de suas paróquias e missões”.
A Ordem fundada pelo leigo São Pedro Nolasco nasceu em 1218, na Espanha. Hoje, está presente em 23 países. O XVI Capítulo Geral se realiza em Roma de 23 de abril a 14 de maio. Entre os participantes, está o Provincial do Brasil, Frei Rogério Russo Soares.
(BF)
Fonte: Rádio Vaticano