Mesmo sendo indignos da sua presença o Senhor sempre nos visita
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra
Ano C – 9º Domingo do Tempo Comum
Quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”. Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”. Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde. Lc 7, 1-10
Há muito para se refletir neste Evangelho. Trata-se de texto riquíssimo em mensagens e significados para a vida. Como não dá para se falar de todos escolho três pontos para que os aprofundemos juntos. Cada um saberá, além deles, buscar outros onde possa ancorar novas abordagens para a Palavra, sempre nova, sempre viva.
A Gestão do cuidado por um empregador dos tempos de Jesus
Meu trabalho é ligado à gestão e liderança de pessoas. Atuo como consultor nas organizações e, em pleno Século XXI, não é nem um pouco raro que encontre pessoas (recuso-me a chamá-las de líderes), que não têm o menor cuidado e atenção para com as pessoas que dirigem.
Tratam-nas como peças descartáveis, “mãos de obra”, seres que nem chegam a ser humanos, eis que eles não apreciam que os empregados pensem e sintam. São meros “recursos” e é dessa maneira que são chamados, o que demonstra estarem nivelados aos verdadeiros recursos, que são os materiais, econômicos e tecnológicos.
Aí vem Lucas e nos apresenta lá nos tempos de Jesus, dois mil anos passados, um patrão exemplar até para os dias de hoje. Verdadeiro líder que se preocupa com seu empregado. O mais interessante é que este sentimento não fica só na intenção. Ele se põe a caminho buscando que seja atendido. Ouvira falar de um “médico” especial e ordena que o chamem para atender seu funcionário.
Cuidar é uma competência básica do líder do Século XXI. As organizações do futuro só se manterão perenes e competitivas, caso tenham bem cuidadas as pessoas que dela fazem parte. A gestão do cuidado, como hoje é chamada, é essa maneira pela qual as empresas demonstram aos seus empregados, que eles são mais que meros recursos. Tratam-se de seres humanos em busca da realização e plenitude humana.
A universalidade da fé
Jesus não veio somente para o povo da Bíblia. O que para nós é evidente, para os primeiros cristãos, principalmente aqueles de origem hebreia, ainda era motivo de discussão. Por conta disto é bonito e cheio de significado, a gente reparar nessas profissões de fé mostradas pelos evangelistas de pessoas não judias. O oficial romano reconhece o Senhor. Apesar de invasor, era homem piedoso e respeitador da fé daqueles que dominava, até lhes construíra uma sinagoga.
Quando se crê adquire-se também a experiência da própria pequenez e indignidade, perante aquele que é o autor da fé. Diante do santo de Deus miraremos o espelho da nossa própria indignidade. Não fossem seu Amor e misericórdia jamais que seriamos capazes de, ao menos, nos aproximar dele. Por isto, antes que caminhemos na sua direção, Ele já veio ao encontro e das pessoas da nossa casa.
Sentir e viver a presença do Senhor em tempos de virtualidade
Vivemos a chamada Pós-modernidade. São tempos de mudanças rápidas, profundas e impactantes. Um período da história totalmente diverso daqueles outros, antes experimentados por nossos antepassados. Nessa nova Era há, como que, uma redefinição das relações da humanidade em referência às dimensões de tempo e espaço.
No que diz respeito ao tempo, facilmente poderemos notar que, ao contrário dos anos passados quando as coisas aconteciam e somente depois viríamos a saber delas, hoje qualquer acontecimento considerado notícia, nos será transmitido “ao vivo”. Não é isto que acontece, por exemplo, com as guerras, tragédias, casamentos reais e mesmo os eventos esportivos? É tremenda esta constatação de que vivemos os fatos, por mais distantes que ocorram, no mesmo instante em que aconteçam.
Isto nos leva já a reparar a mudança do conceito de espaço. O que o filósofo Marshall McLuhan previu, ainda em fins da década de sessenta do último Século, o mundo como “Aldeia Global”, hoje é mais que realidade. É comum que não se conheça quem mora na porta ao lado, mas se é amigo de alguém em Singapura, ou na Patagônia.
Outro exemplo dessa transformação poderá ser visto na observação do comportamento dos jovens. O mundo para eles é um só, independente do que possam dizer as distâncias e geografia.
O tempo cronológico e o espaço físico são conceitos humanos. Estão, obviamente, muito aquém de Deus. Vai-se tornando necessária então uma revisão deles, por parte da Igreja. Tomemos como exemplo o Sacramento da Eucaristia. Na Jornada Mundial da Juventude no Rio tivemos uma uma vigília linda e após a celebração Eucarística pelo papa Francisco.
Nem todos na multidão presentes podiam presenciar o que se passava lá adiante no imenso altar. Muitos, mesmo tendo se deslocado de perto, ou de longe para estar na vigília, só conseguiam vê-la através da tecnologia. Dos telões instalados em pontos estratégicos. E isto sem falar nas pessoas – eu era uma delas – que não se fizeram presentes, mas que também participaram pela televisão. Como levar a comunhão também para esses à distância? Não dos telões, mas que estão distantes e em comunhão com aquele momento? Há que se pensar nisto e há gente na Igreja se debruçando sobre o assunto. Ao ver neste Evangelho as palavras do oficial romano, enxergo-as como proféticas para nós hoje. Um sinal dos tempos acenando para mudanças.
De fato, o Senhor não necessita ir fisicamente às nossas casas, e isto não se dá por sermos indignos, o que para Ele é questão de somenos. Sua presença entre nós já ocorre tantas e tantas vezes pela atuação dos meios tecnológicos, rádio, televisão e internet. Através deles Jesus, a cuidar da gente, se faz presente em nossos lares.
Pistas para reflexão durante a semana:
– Como lido com as pessoas que trabalham para mim?
– Na fé sinto o Senhor caminhando rumo a mim?
– Como, na minha realidade, posso acolher e levar o Senhor através dos meios de comunicação social?