“Olhai os lírios do campo”
Reflexão sobre a Mesa da Palavra
Ano A – VIII do Tempo Comum
Jesus não condena o dinheiro em si. Nesse exemplo o alerta é para a grande tentação que ele exerce em nós. Servir à riqueza ou a qualquer outra coisa criada, além de ser uma inversão de valores, tornando-nos empregados daquilo que foi criado para nos servir, é também idolatria. Todas as coisas da terra estão aí para nos servir e para que possamos usá-las ordenadamente precisamos nos fazer livres, ou no dizer de Santo Inácio de Loyola, indiferentes em relação a elas.
O sufixo pré traz-nos o sentido da anterioridade, do anteceder-se. Por isso, mais que nos preocupar antecipando-nos a um futuro que não conhecemos, precisamos nos ocupar com o momento vivido e que é conhecido. Aquele que vive preocupado torna-se escravo do futuro. Sua mente estará sempre posta no amanhã e por isto não viverá, eis que a vida acontece no presente.
Jesus nos encoraja para que nos ocupemos da existência. Ocupar-se dela é discernir o que é melhor para a vida aos olhos de Deus, nosso bem maior. E esse bem maior não reside na preocupação intensa que temos com o que não nos salva. Ao contrário, ao invés de nos libertar a preocupação nos mantêm presos ao chão. Ocupar-se da vida é olhar em volta e ver o Senhor nos irmãos. É sair de si e colocar-se à disposição do próximo e da comunidade.
Esse trecho do Evangelho é um hino à confiança na misericórdia do Pai e é nela, quer nos dizer Jesus, que deve estar o nosso futuro, a nossa preocupação. Pedir mais confiança e entregar-se no colo de Deus, que é Pai e Mãe, é também escolher e ocupar-se com a melhor parte. Tem gente que pensa que fazer isto é alienar-se e dizem assim: Coloco tudo nas mãos de Deus e digo “Senhor, eis aqui os problemas. Agora se vire”.
Nada mais equivocado. Confiar na misericórdia é fazer o máximo como se tudo só dependesse da gente e confiar imensamente, sabendo que tudo é obra de Deus e que é Ele quem fará o milagre da transformação, como nos ensinou Santo Agostinho.
Ao nos convidar para que olhemos os passarinhos e as flores no campo, Jesus também nos fala de um dos atributos de Deus: a Beleza. Na correria em que nos metemos vida afora, não temos tempo para olhar o belo que nos cerca. É claro que esse lindo trecho de Mateus traz-nos também um alerta ecológico para que cuidemos da nossa casa. A Terra, tão descuidada, necessita de nossa atenção e carinho.
Questões para reflexão durante a semana
– A que senhor eu sirvo?
– Eu me ocupo das coisas de Deus ou só me preocupo com o dia de amanhã?
– Tenho cuidado da mãe Terra?
1ª Leitura – Is 49,14-15
Disse Sião: ‘O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!’ Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti.
2ª Leitura – 1Cor 4,1-5
Irmãos: Que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por algum tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. É verdade que a minha consciência não me acusa de nada. Mas não é por isso que eu posso ser considerado justo. Quem me julga é o Senhor. Portanto, não queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver merecido.