A lista de sucessores do papa Francisco
Dois novos papáveis à vista
Por Mirticeli Dias de Medeiros*
Basta que um novo consistório seja convocado para que os palpites sobre quem será o novo papa entrem em cena novamente. Tudo isso porque Francisco tem uma maneira peculiar de formar o seu colégio cardinalício. Até nisso ele quebra protocolos. É só observarmos quem ele tem escolhido para receber o barrete. Sem dúvida, foi uma surpresa para todos a nomeação de Dom Gregorio Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador (El Salvador), criado cardeal em junho do ano passado. Em vez de nomear o arcebispo metropolitano, José Luis Escobar y Alas, que também é o presidente da conferência episcopal salvadorenha, o papa nomeou o bispo auxiliar da mesma diocese!
A verdade é que, para ser cardeal em tempos de Francisco, pouco importa qual cargo o candidato exerça, quantas línguas domine ou quais universidades importantes ele tenha frequentado. Aliás, não é porque a arquidiocese seja de tradição cardinalícia que Francisco se vê obrigado a conceder o título ao prelado que a conduz. O caso de Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, cuja nomeação não aconteceu até agora, representa a mudança que vem acontecendo.
Nesta semana, foi divulgada a lista dos 14 novos purpurados, que a partir do dia 29 de junho integrarão o grupo dos estreitos colaboradores do papa. Entre os escolhidos, bispos do Oriente Médio que vivem em regiões de conflito e padres com mais de 80 anos que receberão o título como forma de reconhecimento pelos serviços prestados à Igreja, como é o caso do padre Aquilino Bocos, superior geral dos claretianos entre os anos de 1991 e 2003.
Duas nomeações em particular chamam a atenção em se tratando de um próximo conclave: a do elemosineiro pontifício, o polonês Konrad Krajewski, e a do atual vigário geral do papa para a diocese de Roma, o italiano Angelo De Donatis.
Krajewski, que durante o pontificado de Bento XVI exerceu a função de cerimoniário, se tornou “o representante da caridade do papa” na era Francisco. É ele que, a mando do papa, sai às ruas de Roma para distribuir mantimentos aos moradores de rua. Em entrevista à Rádio Vaticano, logo após a nomeação, ele disse: “O Santo Padre não me disse nada da nomeação. Soube quando foi divulgado, ao meio-dia”. E acrescentou: “Esse título é para todos os voluntários que saem à noite, para todos os pobres. […] Os primeiros cardeais eram diáconos, portanto, eram aqueles que serviam os pobres”.
O segundo, que até 2014 foi pároco da Basílica de São Marcos, no centro de Roma, nos últimos quatro anos viu sua vida se transformar completamente através dos vários reconhecimentos que o papa argentino lhe concedeu. Tudo começou com a convocação para ser o pregador oficial dos exercícios espirituais de quaresma da cúria romana, em 2014. Um ano depois, foi consagrado bispo auxiliar da diocese de Roma e nomeado formador permanente do clero local. E por fim, em 2017, passou a ser o braço direito do pontífice para as questões ligadas à diocese de Roma.
Ao lado de Parolin, um papável em potencial, esses dois possuem características que poderiam chamar a atenção dos cardeais eleitores: ambos são bem preparados teologicamente, relativamente jovens (54 e 64), europeus – algo que os cardeais poderão levar em consideração -, e, por fim, dois religiosos que se destacaram por causa do trabalho pastoral que exercem ou já exerceram.
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.
Fonte: Dom Total
o nosso papa busca cardeais que sejam profetas, missionários de uma Igreja em saída e não príncipes, como costumavam ser tratados até há pouco tempo.