Para Paulo VI, só a caridade pode gerar o autêntico progresso dos povos

Publicado em 06/06/2019 | Categoria: Notícias |


 

Foi apresentado no dia 04/06, no Palazzo Borromeo, em Roma, o livro “A caridade, motor de todo progresso social – Paulo VI, a Popolorum Progressio e a FAO”.

A obra da autora Patrizia Moretti reúne as reflexões do seminário de estudo, de mesmo nome, realizado em 7 de novembro de 2017, em Roma. As várias contribuições refletem sobre a relação entre o Papa Paulo VI e o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e sobre os seus pensamentos em relação ao desenvolvimento dos povos e do ser humano.

O livro publicado pela Editora Studium é o resultado da colaboração entre a Província Italiana dos Irmãos das Escolas Cristãs (IEC) e a Missão Permanente da Santa Sé na FAO-FIDA-PMA, guiada pelo observador, mons. Fernando Chica Arellano.

 

“ Os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se, necessariamente, contra o homem (Paulo VI no 25º aniversário da FAO). ”

 

Caridade, motor de todo progresso social

“Se a necessidade, o interesse são para os homens motivos fortes de ação, muitas vezes determinantes, a crise atual não poderá ser superada, a não ser através do amor. A caridade, que significa amor fraterno, é o motor de todo progresso social.”

O Papa Paulo VI proferiu estas palavras, em 16 de novembro de 1970, aos membros da FAO.

A FAO, comprometida no combate à fome, estava comemorando na ocasião 25 anos de atividades e Paulo VI foi um grande amigo da FAO, desde os seus primeiros desenvolvimentos.

Ele foi o primeiro Papa a visitar a FAO na sede romana, colocada à disposição do governo italiano, onde foram também todos os seus sucessores. O Papa Francisco foi três vezes.

O apelo do Papa Montini à fraternidade universal, semente de paz duradoura, a descrição de um modelo econômico e ético-social diferente, o diálogo apresentado como uma solução para os conflitos internacionais, parecem hoje extraordinariamente atuais e ainda um apelo válido para os líderes mundiais hoje e para cada um de nós.

Paulo VI e a visão global da humanidade

Após as saudações do embaixador italiano junto ao Vaticano, Pietro Sebastiani, na apresentação, além da autora do livro, tomou a palavra Daniel Gustafson, vice-diretor geral da FAO; Vincenzo Buonomo, reitor da Pontifícia Universidade Lateranense; e Gabriele Di Giovanni, visitador provincial da Itália do IEC. As conclusões foram feitas pelo mons. Fernando Chica Arellano que resumiu a mensagem da qual o volume quer ser portador.

Mons. Arellano enfatizou que Paulo VI, em particular na Encíclica “Populorum Progressio” de 1967, identificou “como tarefa principal da Igreja, a de oferecer aos homens e suas aspirações o que possui: uma visão global do homem e da humanidade. Mons. Arellano espera, para as pessoas que lerem o livro, que o pensamento de Paulo VI “possa ​germinar em campos estimulantes de aplicação, capazes de apoiar a fraternidade: autêntica cifra evangélica para a busca do bem comum”.

Mons. Arellano: o tema da fome está inscrito no Evangelho

Antes de entrar profundamente na visão do Papa Montini, mons. Arellano explicou nos microfones do Vatican News, por que Paulo VI estava convencido de que a Igreja deveria fazer ouvir a sua voz sobre o tema do desenvolvimento:

Mons. Arellano: “Paulo VI estava convencido disso porque a Igreja é especialista em humanidade: quando ele foi a Nova Iorque, no Palácio de Vidro para falar às Nações Unidas, foi o primeiro pontífice, apresentou-se como um homem especialista em humanidade, a Igreja como especialista em humanidade e disse que todas as questões que preocupavam o homem, a sociedade e as nações também eram preocupação da Igreja. Pensamos que o tema da fome, antes de ser escrito no mandato da FAO, está escrito no coração do Evangelho. O faminto é uma preocupação de todo cristão, antes que das Nações Unidas e da Igreja.”

Para Paulo VI, as dificuldades entre os Estados e os povos deveriam sempre ser enfrentadas com o diálogo. Foi fácil falar de diálogo, então?

Mons. Arellano: “Nunca é fácil falar de diálogo, mas é uma obrigação. Realmente, o diálogo será sempre o caminho da Igreja e também o caminho que a comunidade internacional deve percorrer. É a única arma que temos: falar, dialogar, colocar-se à disposição de abrir o coração para encontrar uma saída, um consenso, um caminho que possamos percorrer juntos. O diálogo não é uma moda, é uma obrigação. Certamente, não será fácil, mas é sempre necessário. Jamais a violência, jamais guerra. Não são métodos, maneiras de encontrar soluções para os conflitos, os problemas que nos afligem.”

No centro do pensamento do Papa Montini está a pessoa, não apenas o povo. O que isso acrescenta na reflexão sobre o progresso?

Mons. Arellano: “É assim. O verdadeiro progresso da humanidade não é econômico, o verdadeiro progresso é quando, no meio do desenvolvimento humano, não existe apenas o benefício, o dinheiro, mas a preocupação por todas as pessoas e pela pessoa em sua integridade, alma, corpo, mente, esperanças, alegrias e preocupações. O todo da pessoa: esta foi realmente a grande percepção deste grande pontífice, Paulo VI. É uma ideia que todos os seus sucessores repetiram. João Paulo II, Bento XVI e até mesmo o Papa Francisco disseram isso. Muitos colocam no centro o dinheiro, uma economia que mata. Em vez disso, o homem realmente progride quando é colocado no centro de tudo.”

O livro apresentado hoje é intitulado “Caridade, o motor de todo progresso social”. Amor, portanto, como um trampolim para a ação…

Mons. Arellano: “Essas palavras do título são as palavras de Paulo VI à FAO. Paulo VI sempre disse que a alma do progresso é a caridade, e também a alma da paz é a caridade. Paulo VI fez da caridade, do amor, não apenas virtude, digamos doméstica, entre as pessoas, mas a chave para a relação entre a comunidade internacional, os povos, todo o progresso social. Isso também foi repetido pelo Papa Francisco quando ele foi à FAO no Dia Mundial da Alimentação em 2017: fazer realmente do amor a chave do desenvolvimento, da ajuda. Sem amor, o mundo se torna sombrio, com o amor existe o futuro.”

Cerca de 50 anos atrás, o apelo à fraternidade universal e à conversão de toda a economia, para alimentar aqueles que não tinham comida, feito por Paulo VI, dirigindo-se aos líderes das nações e instituições supranacionais: um apelo reproposto pelos sucessivos Papas, como o senhor lembrou. Pergunto: quanto ainda há para fazer!

Mons. Arellano: “Infelizmente, devemos dizer que as palavras de Paulo VI são muito atuais e isso significa que devemos continuar lutando porque a fome da qual Paulo VI falou, em 1970, não desapareceu: 821 milhões de pessoas hoje passam fome. Isso é um escândalo, é uma injustiça. Este é um chamado para nós, um chamado a continuar lutando. A fome deveria ser uma peça de museu, deveria pertencer a um livro antigo, mas infelizmente existe. É por isso que as palavras de Paulo VI e suas expectativas continuam mais vivas do que nunca hoje, e nos encorajam a continuar lutando. Nós devemos ser a geração da “fome zero” porque o único número que serve para a fome é o 0. Então, vamos continuar lutando, é possível vencê-la. Para fazer isso, precisamos apenas de uma coisa: conjugar o verbo querer. É preciso ter vontade. Temos todos os recursos para superar a fome, o que falta é a vontade de vencê-la. Devemos estar conscientes de que todos nós, com uma harmonia de esforços, devemos acabar com esse flagelo que faz com que muitos de nossos irmãos sofram, e muitos deles, crianças.”

“ O homem, que soube conquistar o átomo e vencer o espaço, saberá, finalmente, a dominar o seu egoísmo? (…). Trata-se, obviamente, de transformar uma economia, frequentemente caracterizada pelo poder, pelo esbanjamento e pelo temor, numa economia de serviço e de fraternidade (Paulo VI no 25º aniversário da FAO). ”

 

Fonte: Vatican News – Adriana Masotti/Mariangela Jaguraba



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