A Voz do Pastor – FEV 2021

Publicado em 02/02/2021 | Categoria: A Voz do Pastor |


A Voz do Pastor – Novas Portas se Abrem

Aproximadamente, quatro bilhões de pessoas estão agora se abrigando em casa contra o contágio do novo coronavírus. É uma medida protetora, mas traz outro perigo mortal, uma nova pandemia de invisibilidade: a violência contra as mulheres.

Cada vez mais países adotam medidas de bloqueio contra a infecção. Cada vez mais aumentam os pedidos crescentes de ajuda, mais linhas de ajuda e abrigos para violência doméstica, em todo o mundo estão sendo relatadas. Em vários países, autoridades governamentais, ativistas dos direitos das mulheres e parcerias da sociedade civil apontaram crescentes denúncias de violência doméstica e aumento da demanda, para abrigo de emergência, durante a crise.

O confinamento aumentou o isolamento das mulheres com parceiros violentos, separando-as das pessoas e dos recursos que podem ajudá-las. Parece uma tempestade perfeita, para permitir o comportamento violento a portas fechadas. Paralelamente, à medida que os sistemas de saúde chegam ao ponto de exaustão, os abrigos de violência doméstica ultrapassam a capacidade de atendimento.

A violência doméstica sempre foi uma das maiores violações dos direitos humanos. Com a pandemia, é provável que esse número cresça, com seus impactos no bem-estar das mulheres, em sua capacidade de participar e liderar a recuperação da sociedade e da economia.

O grande problema é que menos de 40% das mulheres vítimas de violência buscam qualquer tipo de ajuda ou denunciam o crime. Menos de 10% das mulheres que procuram ajuda, vão à polícia. Esse negacionismo compromete os cuidados e o apoio de que as sobreviventes precisam, como tratamentos clínicos, saúde mental e apoio psicossocial.  Pior: isso também alimenta a impunidade de agressores: 1 em cada 4 países não possui leis que protejam, especificamente, as mulheres da violência doméstica.

Esta pandemia está testando nossas maneiras de enxergar antigos problemas, fornecendo choques emocionais e econômicos. A violência que agora emerge como característica sombria de nosso tempo é um espelho e um desafio aos nossos valores, nossa resiliência e humanidade compartilhada. É preciso não apenas sobreviver ao coronavírus, como humanidade forte, mas emergir como humanidade renovada.

As mulheres são a mais poderosa força no centro dessa recuperação.

Em consonância com essa nova realidade, e contrastando com a cruel experiência do mundo, o Papa Francisco modificou o Código de Direito Canônico e, no dia 11 de janeiro, autorizou a abertura dos ministérios do Leitorado e do Acolitato a mulheres leigas: isso significa que, oficialmente, elas poderão fazer leituras, ajudar no altar durante as Missas e distribuir a santa Comunhão.

Num MOTU PROPRIO, o papa autorizou a revisão de um documento de São Paulo VI de 1972, que só permitia aos homens receber os dois ministérios. Dessa forma, o Papa oficializou algo que já acontecia, na prática, em muitas partes do mundo.  “Por esses motivos, me pareceu oportuno estabelecer que podem ser leitores ou acólitos não apenas homens, mas também mulheres, as quais, através do discernimento dos pastores e depois de uma preparação adequada, a Igreja reconhece a firme vontade de servir fielmente a Deus e à comunidade cristã”, escreveu o Papa.

A partir de agora, o primeiro parágrafo do cânone 230 do Código de Direito Canônico passará a ter uma nova redação: “Os leigos que tenham a idade e as aptidões determinadas por decreto da Conferência Episcopal, podem ser nomeados de forma permanente, através do rito litúrgico estabelecido, nos ministérios dos leitores e acólitos”, afirma o novo texto.

Esta possibilidade não é novidade em muitas comunidades ao redor do mundo, mas passa, a partir de agora, a ser uma prática oficial da Igreja.

Novas portas se abrem pelas mãos de nada menos que o Papa Francisco. Quem não iria querer respirar os novos ares desses novos tempos? Quem não iria saudar a abertura do Papa às necessidades da Igreja em todo o mundo?

Nós, brasileiros, representamos o primeiro mundo católico, em quantidade e em qualidade. Nosso celeiro vocacional cresce – não ainda à medida das necessidades, que sempre crescem antes – mas, efetivamente, mais do que em outros países. Nós somos não apenas uma Igreja nova, mas uma nova Igreja, configurada às dores e à Ressurreição do Senhor.

No entanto, como ainda faltam ministros em todas as áreas! Esse novo passo dado pela Igreja, no mundo inteiro, será uma bênção, não para a hierarquia sobrecarregada, mas para o Povo de Deus, que agora conta com mais operários para a Vinha. E são operárias! Enfim, a classe e a elegância das mulheres chegam aos altares do Senhor. Novas portas se abrem.

Estamos imensamente felizes com essa notícia do Papa. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,18). São raios de luz que comprovam a atualidade e a vitalidade do Evangelho.

Nós professamos o que cremos, vivemos do que professamos, nos orientamos do que vivemos. Essa é a nossa fé, razão da nossa alegria em Cristo, Nosso Senhor.

Enquanto me confio à generosidade de suas orações, deixo a todos, irmãs e irmãos, minha bênção e meu desejo que a Paz da noite santa natalina, que ainda impregna nossas almas, permaneça para sempre entre nós.

+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói



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