A alegria de receber Jesus em Jerusalém e a tristeza da paixão se misturam.

Publicado em 19/03/2016 | Categoria: Mesa da Palavra Notícias |


liturgia

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Ano C

 Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor 

Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: ‘Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de sofrer. Pois eu vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus’. Então Jesus tomou um cálice, deu graças e disse: ‘Tomai este cálice e reparti entre vós; pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais bebereis do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus’. Fazei isto em memória de mim. A seguir, Jesus tomou um pão, deu graças, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim’.

Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós’. Mas ai daquele por meio de quem o Filho do Homem é entregue. ‘Todavia, a mão de quem me vai entregar está comigo, nesta mesa. Sim, o Filho do Homem vai morrer, como está determinado. Mas ai daquele homem por meio de quem ele é entregue.’ Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros qual deles haveria de fazer tal coisa. Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Houve também uma discussão entre eles sobre qual deles deveria ser considerado o maior. Jesus, porém, lhes disse:’Os reis das nações dominam sobre elas, e os que têm poder se fazem chamar benfeitores.
Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: quem está sentado à mesa, ou quem está servindo? Não é quem está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Vós ficastes comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Vós havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e sentar-vos em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.
Simão, Simão! Olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo. Eu, porém, rezei por ti, para que tua fé não se apague. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.’ Mas Simão disse: ‘Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!’ Jesus, porém, respondeu: ‘Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes tu negarás que me conheces.’ É preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura. E Jesus lhes perguntou: ‘Quando vos enviei sem bolsa, sem sacola, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?’ Eles responderam: ‘Nada.’ Jesus continuou: ‘Agora, porém, quem tiver bolsa, deve pegá-la; do mesmo modo, quem tiver uma sacola; e quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma. Porque eu vos digo: É preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura: `Ele foi contado entre os malfeitores’. Pois o que foi dito a meu respeito tem de se realizar.’ Mas eles disseram: ‘Senhor, aqui estão duas espadas.’ Jesus respondeu: ‘Basta.’
Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: ‘Orai para não entrardes em tentação.’ Então afastou-se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!’ Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão.
Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: ‘Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação.’ Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem? Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-lo. Jesus lhe disse: ‘Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?’ Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: ‘Senhor, vamos atacá-los com a espada?’ E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou: ‘Deixai, basta!’ E tocando a orelha do homem, o curou.
Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: ‘Vós saístes com espadas e paus, como se eu fosse um ladrão? Todos os dias eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra mim. Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas.’ Eles prenderam Jesus e o levaram, conduzindo-o à casa do Sumo Sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: ‘Este aqui também estava com ele!’ Mas Pedro negou: ‘Mulher, eu nem o conheço!’
Pouco depois, um outro viu Pedro e disse: ‘Tu também és um deles.’ Mas Pedro respondeu: ‘Homem, não sou .’ Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia: ‘Certamente, este aqui também estava com ele, porque é galileu!’ Mas Pedro respondeu: ‘Homem, não sei o que estás dizendo!’ Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: ‘Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás.’
Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente. Profetiza quem foi que te bateu? Os guardas caçoavam de Jesus e espancavam-no; cobriam o seu rosto e lhe diziam: ‘Profetiza quem foi que te bateu?’ E o insultavam de muitos outros modos. Levaram Jesus ao tribunal deles. Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os mestres da Lei reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles.
E diziam: ‘Se és o Cristo, dize-nos!’ Jesus respondeu: ‘Se eu vos disser, não me acreditareis, e, se eu vos fizer perguntas, não me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Poderoso.’ Então todos perguntaram: ‘Tu és, portanto, o Filho de Deus?’ Jesus respondeu: ‘Vós mesmos estais dizendo que eu sou!’ Eles disseram: ‘Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!’ Em seguida, toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos. Não encontro neste homem nenhum crime.
Começaram então a acusá-lo, dizendo: ‘Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar impostos a César e afirmando ser ele mesmo Cristo, o Rei.’ 3Pilatos o interrogou: ‘Tu és o rei dos judeus?’ Jesus respondeu, declarando: ‘Tu o dizes!’ Então Pilatos disse aos sumos sacerdotes e à multidão: ‘Não encontro neste homem nenhum crime.’ Eles, porém, insistiam: ‘Ele agita o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui.’ Quando ouviu isto, Pilatos perguntou: ‘Este homem é galileu?’
Ao saber que Jesus estava sob a autoridade de Herodes, Pilatos enviou-o a este, pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo. Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-lo. Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum milagre. Ele interrogou-o com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu. Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei estavam presentes e o acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-o de volta a Pilatos.
Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos. Pilatos entregou Jesus à vontade deles. Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse: ‘Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais; nem Herodes, pois o mandou de volta para nós. Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei. Toda a multidão começou a gritar: ‘Fora com ele! Solta-nos Barrabás!’ Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’ E Pilatos falou pela terceira vez: ‘Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei.’
Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles aumentava sempre mais. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam – aquele que fora preso por revolta e homicídio – e entregou Jesus à vontade deles. Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.
Seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por ele. Jesus, porém, voltou-se e disse: ‘Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caí sobre nós! e às colinas: ‘Escondei-nos!’ Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?’ Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos junto com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado ‘Calvário’, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: ‘Pai, perdoa-lhes!
Eles não sabem o que fazem!’ Depois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de Jesus. Este é o Rei dos Judeus. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: ‘A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!’ Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: ‘Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!’ Acima dele havia um letreiro: ‘Este é o Rei dos Judeus.’ Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: ‘Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!’ Mas o outro o repreendeu, dizendo: ‘Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal.’ E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado.’ Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.’ Já era mais ou menos meio-dia e uma escuridão cobriu toda a terra até às três horas da tarde, pois o sol parou de brilhar.
A cortina do santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.’ Dizendo isso, expirou. O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus dizendo: ‘De fato! Este homem era justo!’ E as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido, e voltaram para casa, batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia, ficaram à distância, olhando essas coisas. José colocou o corpo de Jesus num túmulo escavado na rocha. Havia um homem bom e justo, chamado José, membro do Conselho, o qual não tinha aprovado a decisão nem a ação dos outros membros.
Ele era de Arimatéia, uma cidade da Judéia, e esperava a vinda do Reino de Deus. José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da preparação da Páscoa, e o sábado já estava começando. As mulheres, que tinham vindo da Galiléia com Jesus, foram com José, para ver o túmulo e como o corpo de Jesus ali fora colocado. Depois voltaram para casa e prepararam perfumes e bálsamos. E, no sábado, elas descansaram, conforme ordenava a Lei. Lc 22,14-23,56
domingo de ramos

Há exatos três anos acontecia a quinta rodada de votação do conclave. Agora praticamente só o nome Bergoglio era lido em voz alta a cada voto apurado. Foi assim até que a barreira dos dois terços dos cardeais votantes estava enfim superada. Um deles abraça comovido o novo papa, o beija e lhe diz: “Não se esqueça dos pobres”. E para que esta lembrança jamais se afastasse dele, o escolhido assumiu o nome daquele santo mais despojado, o mais pobre dentre os filhos pobres de Deus.

Nesta semana, vivendo a esperança e a alegria da Páscoa, entraremos na tristeza da semana santa. A semana do sofrimento e da angústia, da dor e da exclusão, do medo e da incerteza.

A semana dos pobres e favelados. A semana dos doentes e presos. A semana também de quem vive a esperança de que a Sexta-feira da Paixão e a morte não contém a última palavra. Esta é de vida plena e será proferida no domingo.

Após este tempo de quarenta dias de preparação, enquanto peregrinos subíamos para Jerusalém, chegamos finalmente às portas da cidade santa. Aqui perto os momentos cruciais da vida de Jesus irão ocorrer. Sim, chegamos aos portais da cidade e com o nosso Senhor caminharemos rumo à paixão até que no domingo o Pai, sempre bom e fiel, o ressuscitará.

Neste domingo a liturgia riquíssima da Igreja nos convida a viver um grande paradoxo. Contemplaremos o júbilo da entrada triunfal de Jesus, aclamado por todo o povo em Jerusalém e logo em seguida a tristeza e a dor da sua paixão e morte de cruz.

Olhando mais de perto vemos que esse paradoxo não é nada raro em nossas existências humanas. Quantas vezes, ao mesmo tempo em que celebramos algo que nos enche de alegria, estamos vivenciando também a nossa paixão pessoal?

Separar essas duas pontas da mesma corda é de alguma forma se alienar. Ou se fixando somente na tragédia da Sexta-feira da Paixão, o que acontece com aqueles que parecem se sentir bem com a dor e que embrenhando-se no masoquismo se tornam incapazes de caminhar para o Domingo da Ressurreição. Do outro lado mora um outro tipo de alienados. Aqueles que não conseguem passar pela dor da Sexta-Feira Santa. Exigem viver a Páscoa sem que tenham experimentado a fria e escura caverna da paixão e morte.

Lucas nos apresenta Jesus de uma forma diferente daquela que nos foi trazida pelos outros evangelistas. Ele o mostra como a vítima inocente que é condenada injustamente, no mistério da sua entrega à missão de Amor proposta pelo Pai, Jesus entra em total comunhão com a humanidade. O Senhor desfigurado pela paixão representa a face tão viva da miséria humana. Esse rosto sofredor tão presente em nosso meio.

Viver a Paixão é tomar consciência da pobreza no mundo e se sentir, como parte da humanidade pecadora, também responsável por ela. Viver a Paixão é não cair na ilusão de que ela já está acabada. Pensar que não há mais paixão depois daquele fatídico dia em Jerusalém.

Viver a Paixão é não ter medo de sair das nossas casas para sujar os pés na lama de lugares que não tem cheiro bom, conforme nos dizia Francisco esses dias passados. É, mesmo não sendo pobres e excluídos, assumir também a causa dos pequenos e rejeitados.

Viver a Paixão enfim é sonhar que outro mundo é possível, que outra Igreja poderá se fazer presente caso eu também me comprometa com ela, como tanto tem se empenhado o nosso Papa. Uma Igreja pobre para os pobres”, no dizer do Papa Francisco, um homem não de paixão, mas de ressurreição que vem nos convidar, em nome do Senhor, a caminhar para a Páscoa.

Pistas para reflexão durante a semana:


 

– Caminho até a Páscoa, ou fico preso à sexta-feira da paixão?

– Como está meu compromisso com os pobres e excluídos, aqueles que vivem o ano inteiro a paixão?

– O que tenho programado para que a minha Páscoa seja diferente, mais significativa?

 
Fernando Cyrino


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