A Casa do Pai não é lugar para se fazer negócios

Publicado em 08/11/2014 | Categoria: Notícias |


latrao

Reflexão sobre a Mesa da Palavra para a festa da Dedicação da Basílica do Latrão

 

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele. Jo, 13-22

 

Um jovem, na sua peregrinação em busca de Deus, deu com um crucifixo dentro de uma pequena capela. Ao rezar diante dele notou que o crucificado lhe falava. Pergunta-lhe então o que deseja dele. Jesus, na cruz, lhe responde pedindo que restaure a sua Igreja. O moço então sai aflito para trabalhar na recuperação daquele templo, então em ruínas. Custou um tempo para que entendesse que o Templo ao qual o crucificado se referia era muito mais e maior que uma construção física. Ele, pouco a pouco foi descobrindo que a missão era imensa. Havia que se restaurar a Igreja. Quase mil anos depois outro homem, agora não mais jovem, assume o mesmo nome daquele que rezava diante do crucifixo. O Francisco de hoje nos dá todos os indícios de que também sente haver recebido aquele mesmo mandato do jovem de Assis.

No começo da Igreja os cristãos se reuniam nas casas. Buscavam, em pequenos grupos para não chamarem a atenção, eis que estavam proibidos e os riscos de tortura e morte eram grandes, a casa de um deles. Muito provavelmente a residência daquele que possuísse maior espaço, para nela poderem realizar as suas celebrações.

Somente no Século IV, com Constantino imperador de Roma, foi que passamos a ser reconhecidos e aí puderam (éramos bastantes e as casas de há muito tinham se tornado insuficientes para nos receber) construir seus templos. Seguindo o modelo dos prédios públicos de Roma, as Igrejas foram sendo edificadas no modelo chamado basilical. Uma das mais antigas basílicas de Roma é exatamente esta que celebramos hoje: São João de Latrão. Foi fundada pelo Papa Melquíades, bispo de Roma entre os anos de 311 e 314. É a Basílica do Papa.

Bispo de Roma é o primeiro título do Papa e, diga-se de passagem, foi muito bonito observar Francisco citando-o, quando da sua primeira aparição nas sacadas do Vaticano. É desde a Basílica de Latrão que o Papa preside a diocese Romana. Sua importância se dá então porque é desde esta Igreja, que se dá a comunhão de todas as Igrejas.

O Evangelho escolhido muito sabiamente para esta festa vem nos falar do cuidado com o Templo. Trata-se da casa do Senhor, lugar daquele contato íntimo e pessoal de cada filho ,com o Pai. Local também de darmos, em comunidade glórias e louvores ao nosso Salvador. Espaço onde reside o Espírito que a todos e a tudo santifica.

Jesus ao chegar a Jerusalém repara como a Casa do seu Pai está descuidada e aí se revolta. A santa ira de Deus com o descaso para com as coisas do Senhor da Vida. Quero trazer para vocês então três pontos para a reflexão durante esta semana:

1 – Dá para imaginar o tamanho da raiva dos sacerdotes e cuidadores do templo, com aquele judeu vindo das periferias e se arvorando em filho de Deus a cuidar da casa do seu pai. “Como ousa atrapalhar a dinâmica do templo e dentro desse processo, os nossos negócios?” É o que devem ter pensado. Ao reparar que ainda hoje em dia podemos observar que os tempos do Senhor continuam, aqui e ali, a serem profanados, podemos imaginar a tristeza de Jesus. Ao nos ver agindo assim deve pensar: “Eles não entenderam aquele meu gesto”. Esta raiva foi tamanha que os teólogos não costumam ter dúvidas em nos lembrar, que foi este o fato que apressou os fatos que levaram à paixão do Nosso Senhor.

2 – Jesus começa atacando os vendedores poderosos, aqueles que vendiam bois e ovelhas. Em seguida, se faz mais cuidadoso (Ele é sempre assim com os pequenos) e diz aos que vendiam pombas sem chicoteá-los: “Tirai isto daqui!” É que há uma diferença nesses procedimentos: Enquanto os poderosos se enriqueciam cada vez mais com seu comércio, os pequenos o tinham como necessidade, eis que sobreviviam dele.

3 – Jesus utiliza o acontecido para catequizar os discípulos e quem mais estivesse em volta. Irá nos falar da ressurreição. Podemos imaginar o susto e desconforto daquela gente com aquela conversa. Afinal, tratava-se de algo que não dava para se pensar… algo mesmo absurdo. Somente depois de haver ressuscitado foi que puderam entender o que Ele tinha dito então. Os judeus lhe pedem (mais uma vez) sinais de sua realeza e divindade, mas Ele lhes quer demonstrar que não há sinal a ser feito, eis que o sinal nada mais é do que Ele mesmo.

 

Para reflexão na semana:

 

– De que maneira tenho considerado o Templo de Deus? 

– Participo da manutenção da Igreja?

– Eu também tenho sido templo do Senhor?

– Tenho rezado pelo Papa?

 

Fernando Cyrino



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