A consciência: autoridade suprema, mistério inviolável.

Publicado em 14/07/2016 | Categoria: Notícias |


Aos católicos carregam dentro de si mesmos o Espírito da verdade para conduzi-los a toda a verdade.

Aos católicos carregam dentro de si mesmos o Espírito da verdade para conduzi-los a toda a verdade.

Por Élio Gasda*

“Nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas” (Papa Francisco: Amoris laetitia, n. 37).

A consciência permite sermos o que somos. Somos responsáveis na medida em que somos conscientes do fazemos. Tem a ver com a fé: “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo” (Gaudium et spes, n. 16). Nosso mistério mais profundo é a consciência. Este mistério é a instância crítica que permite elaborar nosso próprio caráter.

O convite de Deus para estar em comunhão com Ele acontece na consciência, cujo único morador é Ele. O cristianismo não se compara a uma lista de obrigações morais. O cristianismo é uma experiência de encontro com Deus que “no seu grande amor fala aos homens como a amigos, e convive com eles, para convidá-los e recebê-los em comunhão com Ele” (Dei Verbum, n. 2). Um cristão se mostra adulto na fé quando a liberdade e responsabilidade da consciência são assumidas diante de Deus. A consciência tem mais peso para mim do que a opinião do mundo inteiro (Cícero).

Tal sacrário é pura comunhão: “Na fidelidade à consciência, os cristãos se unem aos outros homens para buscar a verdade e para encontrar saídas a tantos problemas morais que surgem na vida individual e social” (Gaudium et spes, n. 16). Como agir diante do outro, do mundo e de Deus? A consciência é o lugar desta pergunta. Atitudes e valores são respostas geradas na consciência. A integração das respostas vai configurando minha identidade moral.

A relação das comunidades com as consciências faz parte da tradição desde Paulo. O cristão é um discípulo de Cristo que se reúne em Igreja como comunidade de discernimento: “que possais discernir o que é melhor ou o que é bom, o que é mais importante ou o que mais convém e agrada a Deus” (Rm 2, 18). Isso é possível porque a Igreja é uma comunidade de iguais, pois “em um só Espírito fomos batizados todos nós; todos fomos impregnados do mesmo Espírito” (1Cor 12,13). Ninguém tem o monopólio do Espírito, ninguém pode ser forçado a agir contra a própria consciência nem sequer em assuntos de religião: “Pecando contra vossos irmãos e ferindo suas consciências é contra Cristo que pecais” (1 Cor 8,12). O discernimento aponta para a ação do Espírito na consciência, impedindo cristãos infantilizados que obedecem a prescrições sem convicção. “Os leigos podem esperar dos sacerdotes luz e força espiritual. Mas não pensem que seus pastores são sempre tão competentes que tenham solução concreta para cada questão, mesmo a mais grave, ou que esta seja sua missão” (Gaudium et spes, 43). Todos têm o direito e o dever de manifestar sua opinião sobre aquilo que pertence ao bem da Igreja (Direito Canônico, 212,3).

” A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo” (Catecismo, 1778)*. Joseph Ratzinger, perito do Concílio Vaticano II, comentou essa passagem: “Acima do papa como expressão da reivindicação vinculante da autoridade eclesiástica, se encontra a consciência da própria pessoa, que deve ser obedecida antes de qualquer outra coisa, se necessário até mesmo contra a exigência da autoridade eclesiástica”. Santo Tomás de Aquino estabeleceu a autoridade da consciência em palavras fortes: “Qualquer pessoa a quem as autoridades eclesiásticas, na ignorância dos fatos verdadeiros, impuserem uma exigência que afronte contra a sua consciência limpa pereça em excomunhão, em vez de violar sua consciência”. Se até mesmo os ditames de uma consciência errônea devem ser seguidos, “seria absurdo pensar que uma autoridade terrena ou o magistério eclesiástico poderia tirar do homem a sua própria decisão de consciência” (Bernard Häring).

Todos os católicos carregam dentro de si mesmos o Espírito da verdade para conduzi-los a toda a verdade, incluindo a verdade moral. A autoridade e a inviolabilidade de uma consciência bem informada e bem formada é a maneira católica para escolher a verdade e o bem. Por entender que instruções da Igreja servem de apoio à consciência, Papa Francisco, na exortação Amoris laetitia, reserva à consciência a última palavra a respeito das normas morais sobre as configurações familiares. Portanto, “preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Pois sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros acham de você” (Bob Marley).

*Élio Gasda: Doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).

Fonte: Dom Total

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  1. A consciência moral é um juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral dum acto concreto que vai praticar, que está prestes a executar ou que já realizou. Em tudo quanto diz e faz, o homem tem obrigação de seguir fielmente o que sabe ser justo e recto. E pelo juízo da sua consciência que o homem tem a percepção e reconhece as prescrições da lei divina:

A consciência «é uma lei do nosso espírito, mas que o ultrapassa, nos dá ordens, e significa responsabilidade e dever, temor e esperança […]. É a mensageira d’Aquele que, tanto no mundo da natureza como no da graça, nos fala veladamente, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo» (52).



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