A diferença entre proselitismo e evangelização
Só convenceremos outras pessoas se sairmos de nós mesmos e formos autênticos missionários.
Por Dom José Alberto Moura*
Hoje está na moda o proselitismo religioso. Os lobbies ou pressões psicológicas e morais mostram verdadeira vontade de se “roubar” adeptos para determinadas religiões. Muitos cedem às pressões, aos “teatrinhos” feitos pela mídia, preparando-se pessoas para fingirem doenças e serem “curadas” para influenciarem os outros e ganharem adeptos para suas religiões.
O papa Francisco, na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (Alegria do Evangelho) fala: “Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração'” (nº 14).
De fato, a evangelização é fundamental para realizarmos a missão dada por Jesus, de anunciar sua pessoa e seu Evangelho a todos: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Marcos 16,15). O testemunho de quem anuncia é vital para quem prega, sendo estímulo para a aceitação dos outros. Isso se dá quando a pessoa se empolga em seguir o Divino Mestre e mostra, na prática, a alegria e o benefício pessoal e social em segui-lo. A alegria do testemunho é fonte de atração para que outros queiram experimentar o mesmo. Os primeiros cristãos foram verdadeiro exemplo disso. Arrastaram multidões. A verdade é o que prevalece. Quem é “laçado” para um seguimento vai provar depois muitos enganos e mentiras.
O mesmo pontífice mostra nesse mesmo documento a necessidade e o desafio da ação missionária da Igreja como fundamentais para que a pessoa e o Evangelho de Jesus se tornem alimento realizador na vida das pessoas e de toda a humanidade. Mas precisam ser vividos e proclamados com profunda alegria. Ninguém gosta de “cara triste”! É preciso empolgar e mostrar o valor e a base da realização humana com o seguimento do Filho de Deus. Precisamos passar “de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”, lembra o papa com as palavras do documento de Aparecida (29-06-2007).
Se nos fecharmos em nossos redutos de grupos e comunidades não fazemos ser conhecido o que Jesus nos ensinou. Paulo não se cansou de anunciar por todos os cantos o Evangelho do Senhor. Foi perseguido, preso e até julgado por sua missão. Mas ele não cedeu e viveu ardorosamente a mesma missão depois de convertido. Precisamos todos de nos converter para assumirmos nossa missão de batizados e seguidores do Mestre. Nossa religiosidade só convencerá outras pessoas se realmente sairmos de nós mesmos e formos autênticos missionários! Acontecerá o que ocorreu depois que ouviram Felipe: “As multidões seguiam com atenção as coisas que Filipe dizia. E todos unânimes o escutavam, pois viam os milagres que ele fazia” (Atos 8, 6). Nós hoje podemos convencer a muitos se nossa prática de vida for a do bem que fazemos ao semelhante e a toda a sociedade!
CNBB, 21-05-2014.
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).
Fonte: Dom Total