A dificuldade na ‘visão cristã’ da sexualidade
Em documento preparatório para Sínodo, bispos convidam Igreja a enfrentar os desafios para famílias.
O documento de trabalho (instrumentum laboris) da próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro, convida a Igreja a enfrentar os desafios que se apresentam com o probelma da “contracepção” e a falta de “abertura à vida” em várias famílias. “Neste campo tocam-se dimensões e aspetos muito íntimos da existência, acerca dos quais se salientam as diferenças substanciais entre uma visão cristã da vida e da sexualidade, e um delineamento fortemente secularizado”, diz o texto, apresentado esta manhã na Sala de Imprensa do Vaticano.
O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015. O documento de trabalho fala em “objeções radicais” ao ensinamento da Igreja, destacando a encíclica ‘Humanae Vitae’ (1968), de Paulo VI, na qual se reafirmou a “união inseparável entre o amor conjugal e a transmissão da vida”.
Na preparação para este Sínodo, foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas sobre as principais questões ligadas à família e ao casamento. “Muitas das dificuldades evidenciadas por respostas e observações põem em evidência a dificuldade do homem contemporâneo no que diz respeito ao tema dos afetos, da geração da vida, da reciprocidade entre o homem e a mulher, da paternidade e da maternidade”, se lê no ‘instrumentum laboris’.
O texto admite que a doutrina da Igreja sobre a “abertura dos esposos à vida” não é conhecida na sua “dimensão positiva” e que a avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos “é hoje entendida pela mentalidade comum como uma ingerência na vida íntima do casal”. A este respeito observa-se que muitos casais católicos “não consideram um pecado o recurso aos métodos anticoncepcionais” e, por conseguinte, “tende-se a não fazer disto matéria de confissão e a aproximar-se da Eucaristia sem qualquer problema”. Pelo contrário, existe a consciência do aborto como “pecado extremamente grave”. O texto pede a promoção de “leis justas”, como as que “garantem a defesa da vida humana desde a sua concepção” e as que “promovem a bondade social do matrimônio autêntico entre o homem e a mulher”.
Além da “mentalidade contraceptiva”, o documento de trabalho critica também a “a presença maciça da ideologia do gênero”, que “tende a modificar algumas estruturas fundamentais da antropologia, entre as quais o sentido do corpo e da diferença sexual”. Os bispos afirmam que esta mentalidade e a difusão de um “modelo antropológico individualista” levaram a uma “acentuada diminuição demográfica” e que a Igreja tem de promover uma reflexão sobre o modo de apoiar “uma mentalidade mais aberta à vida”, também com mudanças sociais e trabalhistas.
“Creches, horários de trabalho flexíveis, licenças parentais e facilidade de uma nova inserção na situação de trabalho parecem ser condições decisivas a tal propósito”, pode ler-se. O texto recorda, por isso, a responsabilidade civil dos cristãos na “promoção de leis e de estruturas que favoreçam uma abordagem positiva em relação à vida nascente”. Noutro ponto assume-se a insatisfação em relação a “alguns sacerdotes que parecem indiferentes em relação a alguns ensinamentos morais” da Igreja, uma situação que “gera confusão”. A terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro.
SIR
Fonte: Dom Total