A experiência de Deus no período da Quaresma
Por Dom José Alberto Moura*
O apóstolo Paulo chama a atenção para as pessoas viverem como filhas da luz, ou seja, com atitude de bondade, justiça e verdade, agradando, com isso, a Deus. Deste modo, não se unem às pessoas nos desmandos do mal (Cf. Efésios 5,8-14). Na Campanha da Fraternidade deste ano somos levados a vir e ver, com os olhos do amor de Cristo, a realidade em que estamos inseridos para fortificarmos nossa fé.
Assim assumimos melhor compromisso de superar a realidade dura de quem é oprimido pela situação de exploração e usado como meio de ganho de pessoas e organizações inescrupulosas que não têm a luz de Deus em sua vida. A exploração pelo tráfico de pessoas só vai ser superada por quem assume a atitude do Filho de Deus. Não aceita ver a escravidão, o comércio de órgãos, a exploração sexual, especialmente de crianças e adolescentes, com o uso da pessoa como meio de ganho inescrupuloso!
Estamos nesse período da Quaresma em que somos convidados a rever nossa vida para acertarmos mais nossos passos com os de Cristo, enxergando o caminha à luz dele. A contemplação e a experiência do encontro com Ele nos fazem também assumir a missão de colocar em prática a caridade, a união nas causas de promoção da justiça e da dignidade humana, exigindo políticas públicas de superação do esmagamento de uns sobre os mais fragilizados econômica, cultural, psicológica e moralmente. Isso todos podem fazer no seu contexto de comunidade. As reuniões em família, grupos e comunidades, usando-se os textos da Campanha da Fraternidade, são uma ótima oportunidade para se adentrar nesse encaminhamento, com frutos práticos de superação desses problemas apontados pela mesma Campanha.
Depois da cura de um cego, expulso da comunidade porque tinha sido curado num dia de sábado, Jesus o reencontrou e perguntou sobre sua fé nele como Messias, mostrando sua face e afirmando sua identidade e poder. O curado acreditou (Cf. João 9,34-38). Para se crer é preciso que a fonte da luz venha se apresentar. É o que Deus faz conosco. Mas é preciso também, de nossa parte, aceitar quem apresenta a luz. Foi o que não aconteceu com os fariseus, que tinham expulsado o homem por causa de sua cegueira e não aceitação do Filho de Deus.
Enxergar a missão é fruto de quem enxerga Aquele que veio e nos indica o caminho a seguir. Muitos têm boa visão, preparação, oportunidade, inteligência, riqueza, posição de liderança, meios de ajudar a promoção do bem das pessoas e da sociedade, mas se fixam nos seus olhos fechados e embutidos só para a visão de si mesmos. Querem tudo para si e nada para os já sem nada! As palavras de Jesus são a realidade dessas pessoas: “Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis ‘nós vemos’, o vosso pecado permanece” (João 9, 41).
Não podemos deixar passar a graça de Deus na vivência deste tempo de preparação à celebração da Páscoa, meditando em tudo o que Jesus realizou para nossa salvação, assumindo até a morte. Mas sua ressurreição nos dá sustentação da fé para também darmos de nós em bem da causa trazida por Ele. Só ganha a vida quem der a própria em bem da promoção da vida do semelhante!
*Dom José Alberto Moura é arcebispo metropolitano de Montes Claros.
Fonte: CNBB/Dom Total