A Mãe do Brasil nos leva para o Filho

Publicado em 11/10/2014 | Categoria: Notícias |


liturgia

Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra Solenidade de Nossa Senhora Aparecida – 12 de outubro

 

Houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento.Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou.” Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele. (Jo 2,1-11)

aparecida

 

A mulher bondosa, além dos filhos que gerara, sentiu no coração o apelo de criar outros mais. Foi levando para casa crianças abandonadas. Cuidava delas com todo carinho materno do qual era capaz. Sua casa, com aquele tanto de gente, era constante serviço. Mas, mesmo cansada, sentia-se feliz amando cada um deles, como se fosse o único. Tantas bocas para alimentar, tanta gente para cuidar e ela, ajudada pelas crianças já maiores e alguns voluntários, dava conta de tudo. Havia horas em que faltava comida, ou dinheiro para comprar coisas essenciais, A mulher bondosa, com muita fé, mostrava a Jesus a necessidade que tinham. E não é que logo acontecia o milagre? Ou era alguém que chegava carregando alguma doação, ou era o aviso de um dinheiro depositado no banco por algum benfeitor. Naquela casa ninguém tinha muita coisa, mas o que lá havia era de todos.

Na grande casa, o país no qual vivemos, temos uma mãe carinhosa que nos adotou e cuida de nós, como se cada filho fosse o único. A mãe de Jesus (João gosta de nomeá-la assim: a mãe) é a grande cuidadora dos brasileiros e é a sua festa que celebramos.

Ao contrário daquela da historinha de hoje, na imensa casa Brasil ainda há gente que sente falta de tudo, enquanto tantos outros possuem muito mais do que precisam e não têm olhares para a partilha. Na grande casa Brasil saltamos de escândalo em escândalo, sem nos darmos conta de que também somos responsáveis, por tudo que acontece.

Na solenidade da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o trecho dos Evangelhos que a Igreja nos traz é tirado de João. Trata-se, segundo a narrativa joanina, do primeiro sinal da divindade de Jesus. Nesse grande prodígio importa que busquemos os sinais de Deus para a vida nossa de hoje. Há muitos eis que o texto é riquíssimo. Dentre esses proponho a vocês quatro pontos de reflexão:

1 – A narrativa das Bodas de Caná é muito mais cristológica do que mariana e isto é bem interessante, para o que pretendo lhes chamar a atenção. Para que adquira sentido concreto, a participação de Maria em nós, precisa estar sempre ligada ao Cristo. A mãe é aquela que nos leva e nos coloca junto ao Filho. Maria está a serviço de Jesus trazendo para perto dele os filhos que estão abandonados, nas ruas, distantes. Da mesma forma que o seguimento de Jesus precisa de atenção e de constante conversão, a devoção mariana tem necessidade de ir também se depurando. Um dos nomes tradicionais de Maria do qual gosto muito é Nossa Senhora da Estrada. Caso retiremos a contração da preposição com o artigo ligando Senhora e Estrada nesse título mariano, teremos Nossa Senhora Estrada. Quem sabe fique ainda mais claro que a mãe é caminho para o Filho.

2 – Mesmo bem antes daquele momento aos pés da cruz no qual a mãe nos assume oficialmente como filhos, oficiosamente ela assim já nos considerava. Maria é a mãe que se coloca atenta às necessidades humanas e as leva para Jesus para que Ele nos ajude. Ajuda aqui precisa ter sentido maior, é também salvação. Por isto, as petições que fazemos à mãe, para que as leve ao Filho, devem nos levar à dimensão do “ser”. A salvação é primordialmente tornarmo-nos seres plenamente humanos. Não que se abandonem os pedidos que tratam do “ter”. A salvação necessita mediações materiais. O convite então é para que, pouco a pouco, saiamos dos pedidos do “ter” e façamos petições na dimensão do “ser”. Quem sabe esteja nessa transformação da oração de petição, uma parte importante do processo de conversão que muitos de nós vivemos. Buscando primeiro o Reino, as coisas, ou seja, a dimensão do “ter” virá por acréscimo. Maria é mãe atenta às necessidades que temos e dentre essas, sua atenção maior está em nos fazer melhores e não maiores.

3 – O terceiro ponto diz respeito à nossa conversão pessoal e comunitária. Qual é a “água” da minha vida que a mãe Maria, atenta que é às minhas necessidades, está pedindo para que traga e apresente diante de Jesus para que seja transformada em vinho da minha salvação? Que “águas” acumulo e não me saciam a sede e nem são capazes de me lavar? Na dimensão comunitária enquanto Igreja, em que temos sido somente “água” suja, guardada, ou mesmo oculta? Em que o Senhor precisa transformar a nossa comunidade eclesial para que se torne vinho bom e verdadeiro?

4 – Por fim na dimensão mundial e ecológica vale lembrar a história da mãe Aparecida. Ela também veio das águas. Terminamos essa nossa reflexão examinando como temos tratado as águas que guardaram a mãe do Brasil. Ninguém na grande casa que é nosso pais, precisa ir longe para constatar como precisam de cuidados os rios, córregos e poços. É preciso mais cuidado com a água. Ela é bem sagrado que mantém a vida. Água é presente que recebemos de Deus e deveremos passar, limpa e gostosa, para que dela o Senhor possa continuar fazendo vinho da salvação para a humanidade.

 

Pistas para reflexão até a solenidade da mãe Aparecida:

 

– Que significado tem na minha vida prática o fato de Maria ser caminho levando-me ao Filho?

– Os pedidos que faço a Maria para que leve ao Filho estão na dimensão do ter, ou do ser?

– Minha devoção mariana tem amadurecido ou continua do mesmo jeito quando era criança ou adolescente?

 

1ª Leitura – Est 5,1b-2; 7,2b-3

2ª Leitura – Ap 12,1.5.13a.15-16a

 

 

Fernando Cyrino

www.fernandocyrino.com



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