A missão de servir
O que é governar?
O que é ser político?
O povo já está cansado deles? Por quê?
Por que, para muitos, ser político significa ser delinqüente?
Nesta última semana, numa das celebrações eucarísticas matutinas na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, o Papa Francisco tomou como tema da sua homilia o serviço da autoridade, uma alusão a quem tem poder de decisão, os políticos, os governantes. Ele comentou o trecho do Evangelho em que o centurião pede a Jesus que cure o seu servo e a carta de São Paulo a Timóteo, com o convite a rezar pelos governantes. E citou duas características indispensáveis que um político deve ter: humildade e amor pelo povo.
Antes de continuarmos com as palavras do Papa vamos fazer uma imersão no termo política. Vamos voltar à antiga Grécia de onde vem esse termo que foi utilizado por muitas personalidades daquele tempo como, por exemplo, o filósofo Aristóteles. Para ele o homem é um animal político, pois necessita da companhia de outras pessoas, ou seja: a política refere-se à vida comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses pontos.
O Papa Francisco afirmou sem meios termos que um “político que não ama, no máximo, pode colocar um pouco de ordem, mas não governar”: Não se pode governar sem amor ao povo e sem humildade! E todo homem e mulher que assume um cargo de governo deve fazer duas perguntas: “Eu amo o meu povo para servi-lo melhor? Sou humilde e dou ouvidos a todos, ouço várias opiniões para escolher o melhor caminho?”. Se estas perguntas não são feitas, não será um bom governante.
Se formos ao dicionário, governar é “exercer autoridade soberana e continuada… controlar e dirigir a formulação e a administração da política … e, acrescente-se, melhorar continuadamente a qualidade de vida dos cidadãos em todas as áreas”.
A pergunta é: o cristão, o católico deve se interessar pela política, já que muitos definem o político como pessoa não confiável, e extremamente egoísta?
O Papa Francisco dá a resposta; os cidadãos não podem se desinteressar pela política: Nenhum de nós pode dizer “não tenho nada a ver com isso, eles que governem…”. Ao invés, eu devo ser responsável pelo governo e devo dar o melhor de mim para que eles que governam, governem bem.
A política pode ter dois significados ou modos de pensar: a primeira certamente é a que diz respeito às relações sociais, à realidade social global, enfim à sociedade em geral. Saímos do âmbito estritamente pessoal para relações mais amplas. A segunda coloca em evidência o relacionamento entre política e poder. Assim uma ação política é aquela que visa a obtenção do poder e também mantê-lo.
A política – afirma a Doutrina Social da Igreja – é uma das formas mais altas de caridade, porque serve ao bem comum. Eu não posso lavar minhas mãos. Todos devemos oferecer algo!
Existe o hábito de somente falar mal dos governantes e criticar o que está errado. Fala-se sempre mal e contra. Talvez, disse ainda o Pontífice nesta semana, o “governante seja sim um pecador, mas eu devo colaborar com a minha opinião, com a minha palavra, e também com a minha correção”, porque todos “devemos participar do bem comum!”. Aí vem o chamado do Papa para que um bom católico, – ao contrário do que se diz, que “bom católico não entra na política” -, se empenhe na política oferecendo o melhor de si.
A Igreja exorta os cristãos leigos a entrarem na política para lutar por uma sociedade nova, onde todos possam viver dignamente. Outra coisa, ainda, é a politicagem: a política individualista ou de grupo, de interesse espúrio. O político deve servir. Aquele que serve não domina. Aquele que serve, despoja-se de seus interesses privados e investe sua vida em benefício de todos. Governar é cuidar todos os dias para que o bem floresça.
Devemos combater a politicagem que vê a política como instrumento de poder e não de serviço, de ganho individual ou de grupo e não de bem comum, da coletividade. O convite é duplo: seguir os governantes e cobrar deles uma boa governança; e aqueles que foram eleitos, escolhidos pelo povo, olhar para o bem comum e o bem da sociedade. Muito ainda dever ser feito por ambos, cidadão e político, para que o homem seja o centro das atenções de quem detém o poder e governa. Nós como cristãos, como católicos não podemos ficar de fora, temos de fazer a nossa parte. (Silvonei José)