A noite carioca não é só dos Drinking Games…
Os olhos do mundo estão voltados para o Rio de Janeiro, que receberá, em 2013, a Jornada Mundial da Juventude – o maior evento internacional do mundo –, além da Copa, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016. Grandes eventos que ora reunirão milhões de jovens para uma experiência com Cristo, ora para a vivência da prática do esporte. Em todos havendo o intuito de opção por uma vida saudável.
Na contra-mão do anúncio da beleza da verdade de que muitos jovens não se conformam com uma vida pautada pelo que é supérfluo e passageiro, a grande imprensa tem optado por noticiar que os “Drinking Games” tornaram-se os principais atrativos da noite jovem carioca. Essa modalidade de evento, divulgada pela mídia secular, têm ganho destaque por causa das brincadeiras importadas de festas americanas e alemãs – Beer Pong e Beer-bong –, que estimulam o consumo excessivo de bebidas alcoólicas atraindo, em especial, jovens com idade entre 18 e 24 anos.
Mas os jovens que buscam outras opções mais saudáveis, independente do credo que professam, não são minoria. A noite carioca comporta escolhas, como em qualquer grande metrópole. E a grande maioria dos jovens que residem na Cidade Maravilhosa, mais do que membros da “turma do funil”, como vêm sendo intitulados, costumam optar por locais com música de boa qualidade e divertimentos saudáveis.
Programas tradicionais não saem de moda
As práticas mais tradicionais para se divertir, de dia ou de noite, não saíram de moda e continuam abarcando um grande número de jovens no Rio de Janeiro. Museus, shows, teatro, cinema, shoppings, praias, praças públicas, restaurantes e viagens continuam sendo referências para quem deseja sair da rotina e viver momentos de lazer com saúde. Só em 2012, a Arquiteta Camila Tahan, de 25 anos, viajou para cinco lugares diferentes – Conservatória, Petrópolis, Teresópolis (Rio de Janeiro), Trancoso (Bahia) e Buenos Aires (Argentina) –, e não precisou do álcool para aproveitar bem os passeios.
— Têm pessoas que colocam a bebida como a única forma de diversão. Ao ponto de eu fazer uma trilha, em uma das viagens, e ver alguns jovens ingerindo bebida alcóolica. Para se divertir, hoje em dia, as pessoas não precisam beber… Vou ao teatro, ao cinema, em exposições, na praia, e quando vou a esses lugares me divirto muito sem precisar beber, disse Camila.
Simplicidade: bater papo com os amigos e festas em casa
Estar com os amigos de forma presencial, mesmo tendo à disposição as mídias sociais, é sempre uma opção valorizada pela juventude. Seja para jogar conversa fora ou para se discutir sobre assuntos da vida ou do cotidiano social, estar junto, seja na casa de alguém do grupo ou numa pizzaria, é sempre sinônimo de diversão.
— Enquanto há jovens que, absurdamente, com o consentimento dos pais, realizam festinhas em casa regadas à cachaça, há muitos outros, como eu, que se reúnem ainda no bom e velho estilo das festinhas americanas, para surpreender um amigo que faz aniversário ou que é aprovado no vestibular ou no concurso público. Para aqueles que se importam com o outro de verdade, isso de levar bebida alcoólica para uma festa é furada, porque eu e uns outros podemos saber beber socialmente, mas sempre vai haver aquele que tende ao alcoolismo ou que usa a bebida para fugir dos problemas, e a gente não vai estar ajudando, ponderou Denílson Saraiva, de 22 anos.
— É bom demais me reunir com a galera pra levar um rock no violão e até cantar umas musiquinhas mais românticas que mexam com o coração das meninas. E isso é bom fazer de cara limpa, para ter excelentes recordações depois, contou Marcio Vidal, de 23 anos.
— Não vou negar: eu gosto mesmo é da night! Me amarro em, de vez em quando, passar a noite fora, dançando com meus amigos. Até um forrozinho faz o meu estilo! Me divirto demais nessas ocasiões, boto o papo em dia, paquero… Lavo a alma! Mas não abro mão de estar bem acompanhada do meu suco de laranja ou refrigerante, disse Ana Paula Brum, de 19 anos.
— A night do Rio de Janeiro é muito especial pela diversidade de shows que coloca à disposição do público. Eu gosto de assistir a shows da Ana Carolina, da Maria Gadú, do Rick Vallen… Sou bem eclética e ainda curto um pagodinho de vez em quando. E aproveitar isso tudo com os meus amigos é algo de que não abro mão de fazer de cara limpa, para que a minha mente não esqueça de nenhum detalhe, contou Suzana Baruck, de 20 anos.
Uma opção católica
Um novo point, que não deve nada às festas seculares realizadas nas diversas boates da Cidade, é o Balada Jovem – A Festa, organizada pela equipe estrutural da Pastoral da Evangelização Noturna (PEN) do Rio de Janeiro. Com DJs altamente qualificados, produções musicais originais e um espaço estruturado para quem curte uma boa música eletrônica em seus variados estilos, o evento vem sendo realizado na casa de show Fox Lounge, em Campo Grande, na Zona Oeste, e é o mais novo ponto de encontro de jovens católicos que buscam se divertir de uma forma saudável e sadia.
A ideia de criar uma balada voltada para esse público surgiu através de um Encontro de Formação para DJs Católicos, realizado em novembro de 2011, na sede da Arquidiocese do Rio. De acordo com um dos organizadores do evento, DJ Vitor Sales, os trabalhos da Pastoral da Evangelização Noturna tiveram início com a aprovação e a direção espiritual do Padre José Antônio – primeiro Padre DJ católico do Brasil –, mais conhecido como Padredj Zeton, da Diocese de Santo Amaro, em São Paulo.
— Tendo em vista a necessidade de formar DJs à luz do Evangelho e com as diretrizes e documentos da Igreja, pensou-se em criar uma pastoral, que foi fundada em novembro de 2011: a Pastoral da Evangelização Noturna. Temos todo o apoio e incentivo do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, e também do Comitê Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ RIO2013). Com isso, tivemos a iniciativa de criar esse point para os jovens, onde eles pudessem se encontrar e se divertir com ritmos eletrônicos da nossa música católica, ressaltou o DJ Vitor Sales.
Esportes integram e preparam para a vida
As práticas do esporte também ganham destaque dentro do cenário juvenil no Rio de Janeiro. Participantes das mais diversas modalidades em competições nacionais e internacionais, os jovens cariocas vem se tornando grandes protagonistas nesse mundo de superação e perseverança. A lutadora de Muay Thai, da Família Boxe Thai (Marcos Machado), Mariana Alberto, destacou que a prática da Arte Marcial traz benefícios não só físicos, mas emocionais.
— Os exercícios me trouxeram ótimos benefícios, não só físicos como também emocionais. A Arte Marcial é mais do que uma luta, acabou se tornando centro de equilíbrio na minha vida. Fiz amigos de todas as idades, solteiros, casados, com filhos, sem filhos, de todos os tipos, e construímos um sentimento de família. Ali é um refúgio, onde aprendemos de tudo um pouco, mas o mais importante é a postura com relação à vida. O nosso mestre bate, a gente cai, mas levantamos e continuamos treinando sem raiva… A gente treina justamente para isso: levar pancada e manter a postura, a calma, a educação, a civilidade e o respeito, contou Mariana, de 28 anos.
Os drinking games são um perigo por excelência
Embora os Drinking Games tenham ganho destaque na mídia, talvez exatamente por estimular o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, os riscos do consumo excessivo de substâncias psicoativas por jovens têm sido pouco evidenciados. Parece haver, na verdade, um estímulo a esse consumo, por motivos meramente comerciais, que visam difundir a ideologia de que quando se trata de diversão tudo é possível.
A Psicóloga Clínica, Psicogerontóloga e Logoterapeuta, Sônia Nascimento, destacou que a juventude é o período, por excelência, do risco para o uso de substâncias psicoativas.
— O pensamento mágico do jovem facilita sua identificação com personagens e, frequentemente, existe uma simplificação dos riscos e uma “garantia” de que não haverá problema. Por isso, a juventude é um período caracterizado por mudanças rápidas, tanto no físico, como no psicológico e no social, implicando em uma crise de identidade. Nessa subjetividade, a juventude é o período, por excelência, do risco para o uso de substâncias psicoativas, explicou.
A Psicóloga Clínica, Social e Organizacional, Psicodramatista e Analítica, e Orientadora Vocacional, Vivian Moreno, ressaltou que os Drinking Games poderão contribuir para algum tipo de doença ou distúrbio psicológico enquanto os jovens não perceberem e discernirem o seu próprio limite, permitindo-se ao uso abusivo do álcool para “estimular” e curtir cada vez mais a noite ou a “balada”.
— O excesso da bebida poderá acarretar sérias consequências, não somente no nível da saúde, mas em sua interação sociocultural. O que boa parte da juventude não tem conhecimento é que o álcool é uma droga lícita “depressora”, porque atenua a atividade cerebral, podendo haver alterações do psiquismo. Há jovens que acham que o único caminho para aproveitar as festas, os amigos, a vida, está no consumo dessas bebidas “sem moderação”, e, na realidade, correrão riscos que variam desde mudança de comportamento, ferimentos, abuso ou violência sexual, danos cerebrais, que provocarão prejuízo na aprendizagem e memória (porque o cérebro ainda está em formação), e que podem causar da dependência à morte. Não somente esses fatores ocorrem, mas um dos maiores prejuízos é a perda da própria dignidade, já que a pessoa não terá domínio sobre seus próprios atos e, muito menos, sobre os dos outros, afirmou.
Os Drinking Games não se restringem só a eventos realizados em boates e casas de shows da cidade, mas vêm atingindo também as festas de adolescentes, que, muitas vezes, pressionam seus pais para que as comemorações tenham bebidas alcoólicas. A Assistente Social – Especialista em Atendimento à Família — Silvia Helena Gonzaga recordou o papel dos pais no que diz respeito à iniciação precoce dos filhos na bebida.
— A família, segundo a Constituição Federal, é responsável por criar, cuidar, educar, proteger e garantir o desenvolvimento de seus filhos; mas muitos pais não conseguem exercer este papel e precisam buscar orientação e ajuda externa. Diante da questão do uso abusivo do álcool, penso que os pais têm, sim, um papel importante de conscientização e reflexão junto aos seus filhos. A partir do diálogo e da reflexão, a família pode e deve orientar seus filhos sobre os perigos desse uso. A prevenção de comportamentos que causam malefícios deve acontecer a partir de um processo de educação para a saúde, para a responsabilidade e para a liberdade. Isso, os pais começam a fazer desde a mais tenra idade, ajudando seus filhos, ainda pequenos, a distinguir o bom do mau e impondo limites. É claro que isso exigirá presença, perseverança e abertura para o diálogo dentro da família, disse Silvia.
“A diversão parte de você mesmo”
A Cantora de metal Aline Sampaio, de 22 anos, a jornalista Monique Vasconcelos, de 23, e o estudante João Luiz Marques, de 18, destacaram suas impressões sobre as festas e os participantes dos Drinking Games.
— Hoje em dia, há jovens que só pensam em ficar loucos e, para mim, isso é infantilidade. Querem perder o controle, mas não existe coisa pior do que isso! Muitas vezes essa galera nem curte o gosto da bebida, mas bebe só para ficar bêbada, porque acha “maneiro”. É mais sensato quem bebe porque gosta do gosto e conhece o seu limite, do que aquele que fica bêbado e passa vergonha, expôs Aline Sampaio.
— Eu não bebo e acho que alguns jovens, atualmente, estão bebendo demais. Para se autoafirmar dentro de um grupo, há os que ingerem cada vez mais álcool e misturam vários tipos de bebidas. Resultado: Fazem muita besteira e se arrependem depois. Acredito que eu não preciso beber para me divertir, como também não preciso comer chocolate para curtir a night, nem comer pipoca para ir ao cinema. A diversão parte de você mesmo e do ambiente em que você está. Não é uma bebida que vai deixar eu curtir ou não a festa, afirmou Monique.
— Esse tipo de festa que vem acontecendo no Rio mostra que há jovens que estão ficando cada vez mais reféns do vício e, mais ainda, como se submetem a loucuras para se mostrar diante dos amigos. Em beber com moderação não há problema, mas quando a mente é fraca, logo se seguem esses “princípios”. Eu, por exemplo, jamais vou fazer o que não gosto para provar algo para alguém e, muito menos, vou me embebedar para provar algo. Acho que essas festas crescem, sim, na mesma velocidade em que a educação de base é esquecida em casa. Tudo está mudando muito rápido e tudo aquilo que minha mãe me ensinou há anos atrás já é considerado “ultrapassado”. Enfim, tempo para parar e repensar certos conceitos, pontuou João Luiz.
Enquete confirma: ampla maioria é contrária à propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil
Embora os Drinking Games foquem o público jovem, de 18 a 24 anos, que —segundo revelou o “I Levantamento Nacional sobre o uso do álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras”, divulgado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2010 — é a faixa etária que mais consome álcool no país, há uma tentativa de diminuir a veiculação de atrativos para as bebidas alcoólicas. Conforme a enquete que o DataSenado realizou no site do Senado Federal para saber a opinião dos internautas sobre o projeto (PLS 9/2012) que proíbe a propaganda comercial de bebidas alcoólicas no Brasil, dos 2.470 internautas que participaram da sondagem, a ampla maioria – 80,2% – votou contra a propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil, manifestando apoio ao projeto.
Família: base para a prevenção
As psicólogas orientam para as medidas que devem ser tomadas para que os jovens sejam resguardados desses tipos de festas, jogos e outras situações que incluam bebidas alcoólicas, levando-os à dependência.
— As medidas estão basicamente no resultado da dinâmica familiar. Os pais vivem num mundo onde o tempo é bem precioso e acreditar que somente políticas públicas serão eficazes poderá colocar em risco os jovens. Afinal, nenhum pai perceberá o caminho que trilha o seu filho se não caminhar próximo dele; logo, enquanto psicóloga, arrisco algumas dicas: converse frequentemente; monitore seus filhos; ser amigo somente não é suficiente, seja pai e mãe; e, em caso de dúvidas, consulte um profissional, aconselhou Sônia Nascimento.
— Na realidade, a banalização primeira está relacionada à própria vida, já que se esvaneceram os valores, princípios e crenças que proporcionam à pessoa a sua não fragmentação e sim, edificação. As festas e o que essas oferecem aos seus participantes, principalmente à juventude, são apenas consequências deste vazio interior, desta busca incessante por um sentido de existência e, para seus organizadores, simplesmente expressam o desejo do lucro. O coração humano está em busca constante da esperança, mas ela não se encontra no mundo exterior, mas na interioridade do próprio ser, que transcende a todo bem ou recurso material, superficialidades, dificuldades, incompreensões e provações; mas sua vital solidez faz germinar a real felicidade e, acima de tudo, a dignidade humana. Isso me reporta ao trecho de uma das belíssimas mensagens do Papa Bento XVI, destinada aos jovens: “Precisamos caminhar. Somos impelidos a fazer algo para nos realizarmos. Realizar-se, através da ação, na verdade, é tornar-se real. Nós somos, em grande parte, a partir de nossa juventude, o que nós queremos ser. Somos, por assim dizer, obra de nossas mãos”, concluiu Vivian.
Fonte: Arquidioces do Rio de Janeiro