A oração que sobe até Deus pressupõe a humildade

Publicado em 27/10/2013 | Categoria: Notícias |


liturgia1 Liturgia da Missa – Reflexão sobre a Mesa da Palavra para o domingo 27-10-2013 

Ano C – XXX do Tempo Comum

 

Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: ‘Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.‘ Lc 18, 9-14

 

pipa

A oração que sobe até Deus pressupõe a humildade

 

 

Numa tarde de bons ventos dois meninos resolvem soltar pipas com seus amigos. O problema é que até então eles só tinham a linha. Faltavam-lhes os papagaios. Papel, taquara e demais apetrechos à mão, lá foram eles construir as arraias. Ao olhá-los notava-se que usavam métodos diferentes. Enquanto um deles lançava mão de papel mais leve, da taquara fina, uma rabiola bem simples, o outro achava que o brinquedo precisava ser poderoso para resistir aos ventos. Por isto, ao invés da leveza do papel ele recortava uma espécie de papelão. As varas para a armação foram escolhidas dentre as mais grossas. E esse garoto pensava que ainda era pouco. Correu em casa e de lá trouxe sua foto para colar na pipa, bem como fez uma redação contando dos seus feitos para pregar do outro lado. Assim todo o céu veria quem era ele.Fazia isto tudo ao mesmo tempo em que desconsiderava seu amigo dizendo. Veja a minha pipa, ela é feita para subir até o céu e para durar mil anos. A sua não resistirá a um sopro. Eu sei fazer papagaios e eles voam muito alto. O outro menino, todo humilde, ouvia tudo calado enquanto ia construindo com simplicidade a sua. Quando ficaram prontas lá foram eles soltar as pipas, mas só aquela mais singela foi que conseguiu subir e até “atravessar as nuvens”. A outra o máximo de altura que conseguiu, quando duma rajada mais forte do vento, foram uns cinco metros para despencar de uma vez de novo no chão e nele permanecer inerte.

O fariseu da parábola é parecido com esse menino que se arvorava em ser grande construtor de pipas. Achava, por ser religioso e seguir os preceitos da Lei, que sabia rezar. Mas de oração mesmo Jesus vai nos dizer que ele não entendia nada. O que o fariseu fazia, achando que estava orando, era se vangloriar do quão bom judeu era por ser cumpridor dos ritos prescritos.

Ao se sentir assim ele se mostrava cheio e independente. Alguém já totalmente justificado. Por isto, achando estar dialogando com Deus para contar das suas vantagens, o fariseu apenas monologava. Falava para o seu próprio umbigo. Via-se como um ser humano completo e pronto. E se alguém está se vendo e se sentindo dessa forma é impossível que dentro do seu coração haja espaço para que Deus possa entrar e agir.

Este é o problema da vaidade. O vaidoso se acha cheio de si e mal sabe ele que se sentindo assim, está só buscando esconder o enorme vazio existente no coração. Não é sem razão que na raiz da palavra vaidade está a palavra vã, de onde temos no masculino vão. As palavras que proferia para Deus e que não chegavam nem ao teto do templo, eram vãs, como vazio é o vão de uma escada.

A postura física exterior ajuda na oração, mas não pode ser considerada como fim dela. O que importa quando formos rezar será a atitude interior. O contraste de posturas na parábola é gritante. Enquanto o fariseu, que era alguém muito bem considerado na sociedade, se considerava grande, o publicano, um tipo de pessoa discriminado e reconhecido como ladrão e ligado aos invasores, se coloca pequeno e dependente.

Reza bem quem reza com simplicidade, reconhecendo-se pecador e submisso a Deus. Para que haja a verdadeira oração é preciso que se tenha humildade. É necessário primeiro nos reconhecermos criaturas diante do seu criador. Somente assim a oração poderá subir até os céus, retornando para que acolhamos no coração a resposta do Senhor.

Nessa parábola que só está relatada no seu Evangelho, Lucas traz no versículo nove, quem são os seus destinatários: “Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”. Pode ser que nos venha a impressão enganosa de que se trata de história datada, que só dizia respeito aos contemporâneos de Jesus. Será que é assim mesmo?

 

Para refletir durante a semana:

 

– Como andam as minhas “pipas? Elas são capazes de voar?

– Sou atencioso e falo de igual para igual com os pequenos?

– Na minha oração há espaço para Deus entrar e agir em mim?”

 


Fernando Cyrino

www.fernandocyrino.com



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