A urgência por uma Nova Evangelização

Publicado em 02/04/2012 | Categoria: Notícias |


“É necessária uma nova evangelização”


As palavras do beato João Paulo II cada vez mais ecoam e renovam o chamado para a propagação da Boa Nova de Cristo. Seguindo a inspiração de seu antecessor, o Papa Bento XVI criou o Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização, com o desejo de incentivar a proclamação da Boa Nova em terras já evangelizadas, mas onde as pessoas estão muitas vezes distantes de Cristo e da Igreja.

Nesta entrevista exclusiva, o fundador da Comunidade Católica Shalom, Moysés Azevedo, que foi o único leigo brasileiro a ser nomeado como consultor desse Pontifício Conselho, aborda a urgente necessidade de atender ao apelo de Cristo e da Igreja para alcançar os corações mais distantes.


TF – Que passos precisam ser dados para uma nova evangelização?


Moysés – Precisamos refletir sobre como nós podemos ir ao encontro do coração deste homem do Terceiro Milênio, marcado muitas vezes por um divórcio irracional entre a fé e a razão. A Igreja de hoje é convidada a dar a razão da sua fé, a ir ao encontro desses homens, dessas mulheres, da sociedade, penetrando pelas vias que o Espírito de Deus inspirar para, com novos métodos, com uma nova linguagem, apresentar o mesmo Cristo, ontem, hoje e sempre.

O Espírito Santo é a juventude da Igreja e, se a gente prestar atenção, iremos ver que em cada tempo da história o Espírito Santo como que intervém e faz surgir novos movimentos, novos carismas, novos homens, novas mulheres, atualizando a verdade eterna de Cristo. O Espírito Santo é o grande protagonista da nova evangelização. E nós, como Igreja, devemos e queremos estar atentos a esses movimentos do Espírito, a essas novas inspirações, para respondermos às grandes questões que o homem de hoje traz dentro de si. Com a linguagem nova, com um método novo, mas com a resposta de sempre, eterna, porque, na verdade, existe dentro do coração do homem o anseio por Deus.

Como favorecer ao homem de hoje ter esse encontro com o Deus que se fez carne? Com um Deus que tem um rosto, que se fez homem, que se revelou no Seu filho, nosso Senhor, Jesus Cristo? Que por meio da sua Cruz, por meio da sua ressurreição, manifestou o seu amor eterno, completo e infinito por cada pessoa? É esta a grande proposta que esse Pontifício Conselho convida a toda a Igreja. Tendo um olhar particular para aqueles ambientes onde a fé cristã já foi mais sólida. Onde a vivência do Evangelho e a presença da Igreja já foi mais visível, como particularmente nós vemos hoje na Europa.

TF – Qual foi a impressão do Santo Padre quando veio ao Brasil?


Moysés – O Papa Bento XVI ficou impressionado porque viu uma Igreja viva e jovem, particularmente, por meio dos movimentos, das novas comunidades, da juventude. Ao voltar para a Europa, ele comentou sobre isso em diversos pronunciamentos. É importante lembrar que nós recebemos a nossa fé por meio das mãos de jovens missionários europeus.

O beato José de Anchieta, que pode ser considerado o patrono da evangelização brasileira, chegou ao Brasil com 19 anos. Ele deixou as cortes europeias e veio evangelizar nossas terras. Esse é apenas um sinal, de uma multidão de missionários que deixaram suas terras e ofertaram os melhores momentos de suas vidas para que hoje tivéssemos a fé em Jesus Cristo.

A Igreja no Brasil é convidada a dar uma resposta nesse momento em que a Europa vive um momento tão difícil, onde os jovens, a fé é questionada, onde se quer colocar, muitas vezes, Deus fora do debate do ambiente público, se quer colocar Deus numa esfera privada, onde a presença de Cristo e da Igreja é questionada no coração dos homens.

TF – Enquanto a sociedade investe em novas tecnologias, a Igreja investe nas pessoas?


Moysés – Exato, porque para transformar o mundo é preciso transformar o coração do homem, e é nisso que a Igreja investe. Em Cristo, o homem se encontra, se explica por inteiro, e não só se explica, é salvo. O remédio continua sendo o mesmo: Jesus Cristo. Ele é o que o coração do homem mais anseia. Nós precisamos, como Igreja, sermos mediadores desse grande encontro do homem com Cristo. Este encontro acontecendo, nós podemos ser construtores de um mundo novo, marcado pela verdade, pelo amor, pela justiça, pela fraternidade e pela plenitude da vida que só Jesus Cristo pode dar.

A transmissão da fé é uma questão fundamental e essencial. Hoje, as famílias não têm mais esse elo de transmitir a fé; elas se desintegram e não conseguem mais transmitir para os filhos a experiência de fé dos pais. Uma fé forte na vida familiar, onde os filhos fazem sua experiência de Cristo na Igreja doméstica, que é a família, que sustentada e apoiada pela Igreja, contribui para a evangelização do mundo.

Os diversos movimentos e carismas da Igreja são como um belo jardim, onde temos rosas de cores e perfumes diferentes. E é exatamente isso que faz a beleza do jardim. Essas novas realidades são dons que Deus deu à Igreja de hoje para atrair o olhar da humanidade para Cristo, para firmar no mesmo sol.

TF – A sociedade precisa reconhecer as raízes cristãs da Humanidade?

Moysés – Sim, é preciso reconhecer, em primeiro lugar, as nossas raízes cristãs. A sociedade de hoje busca renegar os valores como se eles não tivessem raízes. Os valores de verdade, justiça, liberdade, dos direitos humanos são frutos da sociedade ocidental fincada e fundada no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Ao se fazer carne, Jesus Cristo entrou em todas as realidades da vida humana. O que é a cultura senão a ação e o trabalho do homem na história? A nossa sociedade parece desconhecer, e nós precisamos recordar, que o divórcio que se apresenta hoje entre a fé e a ciência é artificial. Ao contrário, a Igreja e a fé sempre foram promotoras da verdadeira ciência. Onde nasceram as universidades? A universidade é invenção da Igreja. A Igreja que sempre foi e sempre buscou a razão da sua fé, sempre buscou e nunca se divorciou do sentido da razão humana.

A Igreja foi grande incentivadora da ciência, através da criação das universidades e dos hospitais. Quem é o pai da genética? O monge Gregor Mendel. A Igreja é pioneira também na área da comunicação: os primeiros rádios e jornais foram criados pela Igreja.

O cristianismo incentiva a verdadeira e autêntica ciência, em vista do bem do homem hoje, porque a ciência divorciada do bem pode trazer uma bomba atômica, que destrói toda uma cidade e mata milhares de pessoas.

TF Como os cristãos podem refletir a beleza do Evangelho de Cristo?

Moysés – O coração humano aspira por essa verdadeira beleza, que é o reflexo da bondade. Nas palavras das Sagradas Escrituras, beleza e bondade são uma palavra só, são indissociáveis. E a bondade manifesta a beleza. O problema é que a beleza no mundo de hoje é manifestada apenas pela aparência estética. Então, como Igreja, nós somos convidados a manifestar essa beleza de Cristo, a beleza da verdade, a união do amor e da verdade.

Com muita esperança e muito ânimo nós acolhemos esta iniciativa profética do Santo Padre, e é uma resposta para os desafios da Igreja no tempo de hoje. Muitas vezes, corremos o risco de, onde a evangelização é mais dura, nós “lavarmos as mãos” e dizermos “não tem jeito”, mas a esses nós somos exatamente enviados.

É interessante ver o que aconteceu quando os apóstolos foram ao encontro de Tomé e ele disse: “se eu não ver, se eu não tocar, eu não acreditarei” (cf. Jo 20,25). Eu gosto de comparar Tomé com o homem do Terceiro Milênio. A esses “Tomés” de hoje nós somos enviados. Nós temos que dizer a eles: venham fazer essa experiência, porque somos o corpo e o coração aberto de Cristo no mundo. É no nosso olhar, no nosso coração, na nossa palavra que o homem do Terceiro Milênio poderá ouvir e tocar a Cristo. Nós temos muitas esperanças. Porque nós somos discípulos de Cristo nesse tempo e é a este mundo que somos enviados. É a este mundo que queremos propor a nova evangelização.

* Foto: Arquivo

Fonte:  Jornal Testemunho de Fé – Arquidiocese do RJ



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