A Voz do Pastor – DEZ 2020
CELEBREMOS O NATAL DE JESUS
O Natal está chegando. É a celebração do mistério de Deus que se fez homem, entrando em nossa história na fragilidade e na ternura de uma criança – o Menino Jesus.
Mas, neste ano, Natal será diferente devido à pandemia.
Sabemos que o Natal era uma festa civil romana em honra do sol. Os cristãos de Roma tiveram a audácia e a coragem de cristianizar esta festa pagã. Eles adaptaram o seu sentido, testemunhando que Jesus Cristo é o verdadeiro Sol da Justiça, o Sol nascente que veio nos visitar.
Em diversos países, o Natal é celebrado com emoção em vista do lucro. Tornou-se uma festa consumista. As luzes, as comidas e os presentes deixam esquecido Aquele que é o centro desta celebração. Por isso, para nós, permanece o desafio e o compromisso de celebrar o NATAL DE JESUS. Se no século IV os cristãos cristianizaram uma festa pagã, hoje nossa festa cristã do Natal vai se tornando pagã ou secularizada.
Por isso, nestes tempos difíceis, é bom se perguntar: estou buscando Jesus no mistério do Natal, ou eu o procuro somente para satisfazer minhas necessidades de afeto, atenção e carinho? Em minha vida, o Natal é uma festa cristã ou se tornou apenas uma festa de consumo? Como será celebrado este Natal, com a pandemia? Seremos melhores depois dessa crise? Ou passada a urgência, tudo voltará a ser como antes?
É difícil imaginar algum aspecto que não tenha sido balançado pela pandemia. O mundo que a gente conhecia não existe mais. O crescimento desenfreado e o conhecimento empregado como ferramenta de exploração ilimitada da natureza estamparam seu preço, porque a conta sempre chega.
Em poucas semanas, o vírus impôs uma vergonhosa derrota às certezas arrogantes do individualismo. Essa pandemia tem sido uma lição de humildade para nos lembrar da incerteza da vida: uma variação inesperada dentro do improvável. Quais são, afinal, os valores que persistem?
As desigualdades se escancararam diante do individualismo: ou todos estarão seguros ou ninguém estará. O vírus não reconhece fronteiras, nenhum muro deixará alguém a salvo. Ou ampliamos o raio daqueles cujo sofrimento nos concerne, ou voltamos à selva. Não é uma questão moral, é apenas a inteligência a serviço da sobrevivência.
O uso de máscaras mostrou que a solidariedade deixou de ser uma virtude para se tornar uma necessidade da qual ninguém está dispensado. Não sabemos mais quem caminha mascarado, mas apenas o que é relevante saber: ali está um irmão. Isso basta!
Todos somos irmãos e irmãs em Jesus Cristo! Esse é o verdadeiro mistério do Natal para o qual somos convidados e convocados a celebrar. A preocupação com a ceia e os presentes, que são sinais de carinho e comunhão, não podem e nem devem tirar nossa atenção d’Aquele que vem ao nosso encontro na simplicidade, assumindo nossos limites e revelando-nos a grandeza de seu amor. No mistério do Natal, sem dizer uma palavra, Jesus nos fala da pobreza, da necessidade de partilha e da acolhida dos pequenos.
O Papa Francisco, ao refletir sobre esse mistério, nos ensina: “Eis o dom que encontramos no Natal: descobrimos maravilhados que no Senhor está toda a gratuidade possível, toda a ternura possível. A sua glória não nos cega, nem a sua presença nos assusta. Nasce pobre de tudo, para nos conquistar com a riqueza do seu amor”.
Vivamos o mistério do Natal! Acolhamos a Jesus, preparemos nossos corações, participemos da novena em família, ainda que online, renovemos nossa vida através de uma boa Confissão e da participação na Eucaristia, partilhemos nossa vida com os necessitados.
O Senhor nos oferece uma nova oportunidade de fazer diferente, que não pode ser desperdiçada. Quem sabe, dessa vez, ousemos ir além.
São Leão Magno, em seu sermão de Natal, exorta-nos: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade!” Reconheçamos a dignidade que o próprio Deus nos dá, enviando-nos seu Filho para nos salvar. O Natal é o início da salvação que vai ter o seu ponto alto no mistério da cruz e da ressurreição.
O Natal, mais do que um presente, é a celebração do Deus presente. Peçamos a Maria e a José que nos ensinem a acolher Jesus, para que também nós VIVAMOS POR ELE!
FELIZ E SANTO NATAL!
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói
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