A Voz do Pastor – dezembro
Onde e quando nasceu Jesus?
Amados irmãos e irmãs, estamos no tempo de preparação para o Natal. Em minha caminhada, foram tantas as preocupações e os cuidados na condução pastoral desta Igreja, tantas idas e vindas, e agitações, que resolvi parar para me perguntar: Estará Jesus nascendo em mim em tudo o que faço? Cortou-me a tristeza de pensar que não. Tenho consciência de que preciso me preparar melhor, preciso me converter para que Cristo possa nascer em mim.
Fui então perguntar aos outros que vieram antes de mim. Eles deveriam saber pelo único e suficiente motivo de que eles, realmente, sabiam. Eles deixaram Deus nascer dentro deles. Seria uma pergunta só. Mas que exigiria uma resposta densa, inteira, capaz de sossegar meu coração.
A pergunta foi: Onde e quando nasceu Jesus em você?
Perguntei à Maria de Mágdala: Onde e quando nasceu Jesus em você? Ela me respondeu: Jesus nasceu em Betânia. Foi uma vez, num fim de tarde, brilhava o sol, e sua voz, tão cheia de pureza, despertou em mim a sensação de uma vida nova com a qual até então jamais havia sonhado. Ele nasceu em mim. Ele nasceu ali. Eu nasci ali. Nem sei mais quem nasceu primeiro.
Perguntei a Pedro: Quando se deu o nascimento de Jesus em você? Ele me olhou com olheiras fundas, e me respondeu: Jesus nasceu na noite, no pátio do palácio de Caifás, na hora em que o galo cantou pela terceira vez, no momento em que eu o havia negado. Naquele instante minha consciência acordou para a verdadeira vida, e eu chorei, muito, lágrimas amargas, choro de traição. Eu também o havia traído. E ao passar por mim, ele me olhou, e não havia nenhuma interrogação no seu olhar. Aquele olhar caiu sobre mim como o manto de névoa da madrugada que antecede o sol. Eu chorei. E ele nasceu do meu choro. Ele veio à luz na minha escuridão. Nunca mais eu o neguei.
Perguntei a Tomé onde e quando Jesus havia nascido. Ele me respondeu: Foi num domingo. Jesus nasceu naquele inesquecível dia em que eu toquei suas chagas e pude testemunhar que a morte não tinha mais nenhum poder. Foi quando compreendi o sentido das palavras: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Foi quando perdi o medo. Sim, eu sempre fui filho da dúvida e do medo. Naquele dia, ele me trouxe à luz, ele me deu à luz, eu nasci. Naquele domingo, ele nasceu em mim.
Perguntei à Samaritana o que ela sabia do nascimento de Jesus. Ela me olhou com olhar de quem sabia das coisas e respondeu: Ele nasceu junto à fonte de Jacó, ao meio dia, na hora em que me pediu de beber, quando me disse: Mulher, se você conhecesse o dom de Deus, e quem lhe pede de beber, você é que lhe pediria. E ele lhe daria água viva. Naquele meio dia, hora em que o sol não faz sombra, soube que Jesus era realmente alguém mais, mais que eu, mais que tudo. Então, eu lhe pedi: Senhor, dá-me desta água. Não quero outra, nenhuma outra: dá-me dessa água, para que eu não tenha sede de novo.
Perguntei a João, o Batizador, quando se deu o nascimento de Jesus. João, sério, me respondeu com voz pesada: O Filho de Deus nasceu à beira do Jordão, quando me pediu que o batizasse. Diante da gravidade do seu olhar e da majestade da sua figura, algo gritou dentro de mim: É Ele! É Ele! Este é o meu Filho Amado, Nele pus tudo o que há de mim! Ele nasceu quando compreendi que havia chegado o momento Dele crescer e eu diminuir. Eu nasci, tempos depois, quando a espada de Herodes completou o corte do cordão umbilical com o mundo.
Perguntei a Lázaro onde e quando havia nascido Jesus. Ele me disse: Jesus nasceu quando eu morri. Foi em Betânia, na tarde em que visitou o meu túmulo e gritou: Lázaro! Vem para fora! Naquele momento, foi que compreendi quem Ele era e quem eu era. Para nascer é preciso morrer. Eu havia morrido, mas não de todo. Guardava meus pertences, minhas dúvidas, minhas riquezas. Todas estavam enterradas comigo. Quando ouvi sua voz, ordenando-me que saísse para fora de mim mesmo, naquele dia, eu nasci, ele nasceu. Não seriam essas a ressurreição e a vida?
Corri a perguntar a Paulo de Tarso quando se deu o nascimento de Jesus. Paulo, eufórico, me respondeu: Jesus nasceu na Estrada de Damasco, envolvido por tanta luz que fiquei cego. Não o vi. Escutei: Saulo, Saulo porque você me persegue? Há tanto tempo ninguém me chamava por meu nome, que havia até me esquecido dele. A cegueira me fez ver o quanto eu era cego. Na cegueira passei a enxergar um mundo novo. Então eu lhe disse: Senhor, o que queres que eu faça? Ele me falou. Ele vem me falando. Eu o ouço constantemente. Ele me diz: Minha vontade será a tua paz! Eu o ouço constantemente. Ainda não o vi. Mas não sou mais cego.
Perguntei a Francisco de Assis o que ele sabe sobre o nascimento de Jesus. Ele me respondeu: Ele nasceu antes do presépio. Naquele dia, na praça de Assis, quando entreguei minha bolsa, minhas roupas e até meu nome, para segui-lo incondicionalmente, ele nasceu em mim. Preciso também dizer que foi naquele dia em que eu nasci? Sim, eu nasci quando Ele nasceu em mim.
Por fim, perguntei à Maria de Nazaré onde e quando nasceu Jesus. Esperei muito aquele momento. Era o mais especial de todos. Ela me respondeu: Meu Filho nasceu em Belém, sob as estrelas, que eram focos de luz guiando os pastores e suas ovelhas ao berço de palha. Foi quando O segurei em meus braços pela primeira vez que senti se cumprir a promessa de um novo tempo. Através daquele Menino – que era meu – Deus visitava o mundo, para mostrar aos homens quem e como Ele era.
Comecei com uma Maria, terminei com outra. As Marias do Amor Maior. Minhas perguntas estavam respondidas. Minhas respostas, encontradas. Eu estava pronto para perguntar e responder quando e como Jesus havia nascido em mim.
E você? Quando e como Jesus nasceu em você?
Meu irmão, minha irmã: desejo que você, neste Natal, encontre as respostas que procura, o alinhamento da vida, o brilho que lhe falta. Que o caminho se abra à sua frente, que a luz se faça, que o amor consiga se estabelecer como o dom maior. O dom dos dons. Que Jesus venha nascer em você, para sempre.
Feliz Natal. Que 2015 nos encontre e nos mantenha em paz. Na paz de Deus. Amém.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói
Fonte: Arquidiocese de Niterói