A Voz do Pastor – JAN 2021
54º Dia Mundial da Paz
Em 1º de janeiro de 1968, o Papa Paulo VI criou O DIA MUNDIAL DA PAZ. Desde então, ano após ano, os papas foram ratificando essa proposta. Para este ano, o Papa Francisco escreveu uma bela e atualíssima mensagem, intitulada: A CULTURA DO CUIDADO COMO PERCURSO DE PAZ.
O Papa Francisco começa, falando da crise sanitária Covid-19, e se solidariza com todos os que perderam entes queridos, com todo sofrimento inerente. E ele diz: “Lembro de modo especial os médicos, enfermeiras e enfermeiros, farmacêuticos, voluntários, capelãos e funcionários dos hospitais e centros de saúde, que se prodigalizaram – e continuam a fazê-lo – com grande fadiga e sacrifício, a ponto de alguns deles morrerem quando procuravam estar perto dos doentes, a fim de aliviar os seus sofrimentos ou salvar-lhes a vida. Ao mesmo tempo que presto homenagem a estas pessoas, renovo o apelo aos responsáveis políticos e ao setor privado, para que tomem as medidas adequadas a garantir o acesso às vacinas contra a Covid-19 e às tecnologias essenciais, necessárias para dar assistência aos doentes e a todos aqueles que são mais pobres e mais frágeis”.
Muito bem lembrado pelo Papa, a Sagrada Escritura apresenta Deus como Aquele que cuida das suas criaturas. A instituição do Sábado, por exemplo, visava restabelecer a ordem social e o cuidado pelos pobres. A cada sete anos, na celebração do Jubileu, consentia-se uma trégua à terra, aos escravos e aos endividados, cuidava-se dos mais vulneráveis, oferecendo-lhes nova perspectiva de vida, para que não houvesse necessitados entre eles. Sobretudo, os profetas, particularmente Amós e Isaías ergueram a voz em defesa dos pobres.
Jesus, a revelação do amor do Pai por todos, foi enviado «a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4,18). Ele se aproxima dos doentes e os cura, perdoa-os e lhes dá vida nova. Ele é o Bom Pastor que cuida das ovelhas, o Bom Samaritano que se inclina sobre o assaltado, trata as feridas e cuida dele. Ele é aquele que se oferece na cruz.
«Segue-me! E faz também o mesmo» (Lc 10, 37).
– Até à Cruz, Senhor? Perguntamos.
– Até a sua Cruz – Ele responde – aquela que foi pensada para você, do seu tamanho, que só você consiga carregar, suportar e amar.
Certo pensador afirmou que existe e exige mais empenho nas sete obras de misericórdia do que em todos os tratados de revolução social. Elas constituem o núcleo de serviço e de caridade da Igreja. Foi inspirado por elas e como resposta às urgências dos tempos, que brotaram as instituições para alívio das necessidades humanas: hospitais, albergues, orfanatos, lares para crianças, abrigos para forasteiros, e tantas mais. O cuidado como promoção da dignidade e dos direitos da pessoa, o cuidado do bem comum, o cuidado através da solidariedade, o cuidado como salvaguarda da natureza, foram sempre a marca da presença da Igreja no mundo. No centro de tudo, sempre, o cuidado.
Essa é a bússola dos princípios sociais: tão necessária para promover uma nova cultura da proteção e da promoção dos direitos humanos fundamentais, inalienáveis e universais. As carestias humanas, os conflitos, as crises humanitárias, os recursos investidos na fabricação de armas, tudo isso cai por terra, diante da bússola do cuidado. Nesse sentido, a COVID-19 nos exorta a criar um “Fundo mundial”, com o dinheiro que se gasta em armas, para eliminar a fome, e assim contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres, onde geralmente se alastram as epidemias.
O processo educativo para essa nova cultura do cuidado nasce na família, nas escolas e universidades, nos sujeitos da comunicação social, chamados a transmitir um sistema de valores fundado no reconhecimento da dignidade de cada pessoa. Também as religiões e seus líderes estão convocados a gerar esse novo mundo.
Essa cultura do cuidado é um compromisso comum, solidário e participativo. É bonito, quando o Papa fala da criatividade e ousadia nesse processo de cura humana. Temos muitas feridas: cada um pode bem enumerar as suas
“Neste tempo, em que a barca da humanidade, sacudida pela tempestade da crise, avança com dificuldade à procura dum horizonte mais calmo e sereno, o leme da dignidade da pessoa humana e a bússola dos princípios sociais fundamentais podem consentir-nos navegar com um rumo seguro e comum”.
Somos chamados a formar uma comunidade de irmãos, que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Temos na Virgem Maria, a Mãe e Mestra dessa comunidade de orantes e praticantes que olham para os mais frágeis, sem desviar o olhar, porque é neles que brilha com mais força o Rosto do Redentor.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói